Acácia Gomes, que muito tem realizado em relação à carreira de Roberto Carlos, só poderia mesmo ser da maior importância para os fãs. É ela que com muito orgulho trazemos hoje como nossa entrevistada.
* Acácia, como você conheceu Roberto Carlos? "AG" – Foi em 74, quando eu fazia parte de uma Associação de Mães e pretendíamos fazer um show beneficente para uma instituição que atendia crianças paraplégicas. Procurei seu empresário, Marcos Lázaro, e expus a questão. Roberto ia gravar um Especial de fim de ano para a Globo no Auditório da Uerj e concordou que o show fosse beneficente. Foi uma campanha muito bonita e apuramos uma quantia considerável. As crianças ficaram muito felizes, sentaram nas primeiras filas e ofereceram rosas a ele. Fui ao seu camarim antes do show. * Seu contato com ele só se repetiu quando passou a fazer as revistas? "AG" – Sim. Em 76 eu trouxe de Paris uma revista do show do Charles Aznavour. Eu já mexia com programas na área de teatro e resolvi apresentar a proposta de uma revista-programa ao Roberto. Procurei Marcos Lázaro, que falou com Roberto. Ele aprovou a ideia e na temporada de 78 para 79, no Canecão, fiz a revista, que me deu um trabalho incrível mas uma grande satisfação, pois tive muitos contatos com ele, pessoalmente. Fiquei umas 20 noites indo ao Canecão e, com Roberto, Miele e Bôscoli, vi 800 cromos para a escolha da capa. Aí meu contato com ele se estreitou e fiquei fascinada com seu carisma. * Roberto sempre foi muito perfeccionista na escolha das fotos? "AG" – Sim. Em todas as revistas que fiz, inclusive para o Exterior, ele sempre quis o melhor. * Qual a sua recordação da Jovem Guarda, como fã de Roberto Carlos? "AG" – Embora não tenha acompanhado tão de perto pois foi a época do meu casamento e logo engravidei, em 65 fui a um show seu, com o RC-7, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde eu morava. Assisti em pé, grávida de quase nove meses, e a partir daí me tornei uma fã ardorosa. * Houve algum projeto que você não tenha conseguido realizar com ele? "AG" – Eu sempre quis fazer uma retrospectiva da sua carreira, o que só agora na revista do show “Luz” a DC-Set conseguiu fazer. Tentei algumas vezes mas Roberto não demonstrava vontade, e eu não insistia porque ele ainda me inibia profundamente. O trabalho era muito bom, gostoso, mas o mito me inibia. Também tinha vontade de fazer uma revista maior, com um material mais livre, com fotos de Roberto com outras personalidades, o que só agora ele permitiu. * Para você, qual o melhor programa? "AG" – Para mim foi o primeiro. Foi meu primeiro trabalho com ele mas acho super bonito. E o seu melhor show. Há todo um fator emocional ligado à época. Foi uma temporada difícil, com longos ensaios, a saída do antigo maestro e a entrada do Eduardo Lages. Foram dois meses de ensaios. Foram 22 noites indo ao Canecão e só em cima da hora consegui seu autógrafo na última página, o que eu queria muito. Ele assinou “Sinceramente, Roberto Carlos”. Foi ótimo! * Um dos grandes marcos da carreira de Roberto Carlos foi o “Projeto Emoções”. Fale um pouco dessa tournée. "AG" – Fui levando os programas, e também coordenando a venda das camisas feitas pela produção. A confraternização foi sensacional e havia um revezamento para que todos pudessem viajar na ala especial, de oito lugares, preparada para que Roberto viajasse com mais conforto. Seu empresário, Luiz Fernando Rocha, me chamou para funcionar como assistente de produção. Trabalhar com isso é algo que me fascina, e ali aprendi muito. Como trabalho e como viagem, o “Projeto Emoções” foi a coisa mais importante da minha vida. * E a sua experiência como produtora de Roberto Carlos? "AG" – Fui sua produtora quando o empresário Robson Paraíso deixou o grupo. Roberto contratou Atílio Vannucci Júnior, de quem eu era contratada. Eu fazia a produção, funcionando na RC Produções como subordinada ao Júnior, mas ele só ficou quatro meses com Roberto. * O Roberto Carlos empresário também é muito detalhista e perfeccionista? "AG" – Roberto é perfeccionista e detalhista em tudo o que faz. Ele é, realmente, no meio artístico, o maior profissional do Brasil. * Do Roberto Carlos que você conheceu nos anos 70 para o de hoje mudou alguma coisa? "AG" – Como artista, ele amadureceu mas é a mesma pessoa, muito extrovertido, brincalhão e profissional. No palco, ele cresceu muito, mas ele era e é maravilhoso. Acho que quando pisa no palco se ilumina ainda mais. * Roberto sofre com as críticas, sempre injustas, ao seu trabalho? "AG" – Claro que se magoa; ele é humano como todos nós. É um mito, mas é humano. Mas é tão nobre, como um espírito tão elevado, que aquilo passa. De todos os artistas com quem trabalhei, não conheço ninguém tão educado. Até para reclamar ele não levanta a voz, e isso te inibe. Ele não perde o controle. Às vezes seria preferível levar logo uma bronca do que ouvir uma reclamação no tom que ele fala. Acho que é uma coisa própria do seu espírito, superior. Eu gostaria de ser assim, mas não sou. * O que você mais admira em Roberto? "AG" – Ah, tanta coisa! Admiro sua amizade. Para mim ele tem sido um irmão. Tenho dois filhos e é como se ele fosse o terceiro. Penso que quero niná-lo, como se fosse um filho. Admiro seu carinho pelas pessoas, sua humildade, pois o sucesso nunca lhe subiu à cabeça, e a sua religiosidade. * Para você, qual o momento mais marcante dos shows de Roberto Carlos? "AG" – Foi no show de 78, quando ele se caracterizou de palhaço para cantar “O show já terminou”. Me impressionou seu despojamento ao fazer aquilo num momento difícil dentre as muitas fases difíceis que tem tido e superado pela fé que tem em Deus, o que o ajuda a superar as dificuldades. Todos têm fases difíceis mas acho que ele é bem marcado por elas. Sua fé é inabalável. Às vezes, no bom sentido, tenho até inveja. Ele tem uma fé que, pelo que já presenciei, acho uma coisa fantástica. * Como Roberto é fora do palco? Ele se diz tímido, você concorda? "AG" – Acho-o de um bom humor extraordinário, super brincalhão, e não me parece tímido. Acho muito agradável conviver com ele. Não vou dizer que seja perfeito, porque isso só Deus. Pode haver um dia em que não esteja bem disposto, pode estar mais tenso por alguma razão, e aí a gente acaba ficando tensa também. Mas é uma coisa sutil. Ele sempre tem um lado que brinca. * Você chegou a acompanhar alguma gravação? Como ele é em estúdio? "AG" – Acompanhei uma gravação em Los Angeles, em outubro/novembro de 92, quando fui fechar um contrato internacional. Fui ao estúdio e fiquei fascinada. Roberto estava gravando num estúdio onde o Michael Jackson grava, era uma coisa que eu nem imaginava que existisse, uma tecnologia fantástica, e Roberto mexendo naquilo tudo, naquelas mesas, com a maior facilidade. Ele sabia tudo. Quando cheguei ele ainda estava muito no começo da gravação, ainda estava bastante descontraído, porque havia muito tempo. Depois, à medida que ele gravava oito a dez vezes a mesma música, que para nós estava maravilhosa mas a perfeição dele recusava, claro que a tensão ia aumentando. É por isso que sempre acaba havendo atraso. Mas eu peguei mais a fase inicial, quando ainda não havia o atraso e tensão. O estúdio era fantástico, com um apartamento em cima para ele descansar. Quando ele se dava uma folga, com uma descansada, um pouco de lazer vendo um vídeo, ele vinha que até parecia que não estava gravando, sempre de bom humor. Mas é claro que ele fica um pouco tenso pela responsabilidade, pelo seu imenso perfeccionismo. * E a sua experiência como empresária dele, como aconteceu? "AG" – Na verdade, o Júnior, que era seu empresário, saiu de repente. Roberto estava em Los Angeles, em final de agosto de 92. Nós tínhamos alguns shows marcados. Roberto me ligou, e eu falei que estava saindo porque era contratada do Júnior, mas que tinha muita coisa na mão e queria saber para quem deveria passar. Aí ele falou que eu não saísse, que aguardasse a sua volta, para conversarmos. Quando ele voltou, disse que eu ficasse. Como eu não tinha experiência, ele se propôs a me ajudar, me orientando. Aceitei o desafio. Fique como uma “personal manager”. Ele voltou para Los Angeles, e eu fiquei encarregada de quatro shows bancados. Lotei todos e a seguir consegui um patrocínio. Depois fizemos a temporada do Imperator, que foi pleno sucesso. A seguir fomos para o Exterior, com 31 shows que foram considerados como a melhor temporada internacional até então. Houve muita harmonia, paz, apesar do desgaste de um viagem demorada, talvez graças ao ótimo relacionamento, de amizade mesmo, que sempre tive com todos da equipe. Tanto que cheguei a diminuir os cachês e as diárias internacionais, que achava altos demais, e não tive problema com ninguém. E graças a Deus, os shows com melhores resultados financeiros até aquela época foram os meus, tanto os internacionais como os do Brasil. * Você acha que Roberto tem ideia da sua importância para os fãs? "AG" – Acho que sim. Ele é uma pessoa profundamente sensível, inteligentíssima, das mais inteligentes que eu conheço, e não pode ignorar isso. Talvez ele não ache tanto, porque ele tem uma importância muito grande na vida das pessoas, e ele, com aquela humildade, pode não admitir o quanto é importante. Mas ele sente a energia positiva que esse povo passa para ele. Não é possível que ele não sinta. * Como você define Roberto Carlos? "AG" – Marcos Lázaro disse um dia que “nem Frank Sinatra tem o carisma de Roberto Carlos”. Concordo plenamente. Já vi o Sinatra de quem sou fã, da primeira fila, e ele não tem um terço do carisma de Roberto Carlos. O artista é insuperável, o maior do Brasil e da América Latina, sem dúvida. É uma pessoa é maravilhosa. Apesar da pouca diferença de idade que temos, ele é como um terceiro filho para mim. Já fui verdadeiramente fanática por ele. Hoje consegui equilibrar melhor esse amor, talvez até pelo contato maior que temos. Tenho profunda amizade por ele, algum contato ainda, ótima recordações, e sinto muita saudade dele, o que sempre digo a ele. Sinto saudades dele, da nossa convivência, de dona Laura. Sinto saudade da Maria Rita, que é uma pessoa que eu adoro. Um pouco mais velha que meus filhos, ela é, também, como uma terceira filha. * O que você gostaria de falar para Roberto Carlos pelo nosso jornal? "AG" – Ah, isso é difícil, mas acho que é isso: eu sinto muita saudade do tempo em que convivi com ele. "justify"> |