CARLOS COLLA
entrevista concedida a Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

15.02.2002




Em outubro de 1992 entrevistei Carlos Colla para o Grupo Um Milhão de Amigos.
Muitos dos nossos leitores, súditos do nosso Rei, têm em seus acervos
essa que foi uma das mais ricas entrevistas que já publicamos.
Muitos leitores atuais naquela época ainda não eram associados do Grupo Um Milhão de Amigos.
Mas hoje todos, novos e antigos leitores, terão oportunidade de saber um pouco mais daquele que,
depois da própria dupla Roberto Carlos e Erasmo Carlos,
é o compositor mais gravado por Roberto Carlos.
Carlos Colla já teve vinte e quatro músicas inéditas e três versões suas, sendo duas em parceria com Roberto Carlos,
gravadas pelo Rei, além da gravação ao vivo de “Falando sério”, em 1998.

* Você é o compositor que teve maior quantidade de músicas gravadas por Roberto Carlos. Vamos falar um pouco de cada um desses sucessos.
* A NAMORADA (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1971
"CC" - Roberto Carlos estava ensaiando no Canecão seu primeiro show naquela casa. Na época havia um conjunto que se apresentava no Canecão antes do artista principal, e na ocasião eu e o Maurício Duboc participávamos desse conjunto. Maurício já conhecia Roberto, pois o acompanhou nos vocais da música “Maria, carnaval e cinzas”, que Roberto defendeu num dos festivais de música da TV Record. Nós fomos pedir ao Roberto uma música para gravar no disco que íamos lançar, só que para nossa surpresa Roberto também nos pediu uma música para o disco que ia lançar. Fizemos “A namorada”. Ela foi feita para uma namoradinha que eu tinha, por quem eu era muito apaixonado mas não estava conseguindo conquistar. Eu escrevi um poema para ela, mas resolvi dar o poema ao Maurício, que fez a melodia. Roberto gostou, mas não esperávamos que ele fosse gravar. Foi uma grande e agradável surpresa.Eu fiquei muito feliz porque a minha letra foi gravada na íntegra pelo Roberto Carlos; ele não alterou nem uma vírgula. Essa música mudou minha vida, pois eu era advogado, e a música era um hobby. “A namorada” pagou todas as minhas dívidas e ainda sobrou dinheiro para fazer muitas outras coisas.

* NEGRA (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1972
"CC" - “Negra” foi entregue ao Roberto Carlos na mesma fita que tinha “A namorada”. Para nossa surpresa e alegria, Roberto a guardou e lançou no ano seguinte. Eu a fiz para uma outra namorada. Não há muito o que falar sobre a canção, pelo menos que eu me lembre agora.

* SONHO LINDO (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1973
"CC" - “Sonho lindo” foi feita para a mesma menina para quem fiz “A namorada”. Sempre falo que essa garota me deu muito dinheiro, pois vocês vão perceber que ela me inspirou em várias músicas gravadas pelo Roberto Carlos. Naquela época a garota estava sempre no meu pensamento, e a música fala disso, de um romance lindo mas que já tinha acabado.

* EXISTE ALGO ERRADO (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1975
"CC" - Foi feita para a minha primeira mulher. Eu havia me casado em 1972, mas acho que ela nunca me amou de verdade; eu é que era apaixonado por ela. Foi aí que surgiu “Existe algo errado”, que fala dessas coisas, que existia algo errado entre a gente, só que a minha mulher nem percebeu a mensagem da música, pois nunca comentou nada comigo.

* COMENTÁRIOS (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1976
"CC" - Também foi feita para a minha primeira mulher, quando o nosso casamento já estava terminando. Acho que a letra fala tudo, de uma relação que está chegando ao final: “nossos problemas são nossos, não devem servir pra conversas banais”. Vocês podem notar que todas as músicas sempre falam da minha vida. É difícil escrever uma letra imaginando uma história; eu não consigo. Adoraria trabalhar assim, porque você não se expõe. O verdadeiro poeta não escreve sobre o que está sentindo, o verdadeiro poeta é aquele que sabe imaginar situações. Infelizmente eu não sou assim. Por um lado é ruim, mas por outro é bom, pois é uma espécie de auto-análise, me liberta de várias coisas.

* FALANDO SÉRIO (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1977
"CC" - É um dos grandes sucessos da minha carreira, talvez o maior. Eu conhecia uma menina que era casada com um amigo meu, mas ela estava se insinuando para mim. Eu me sentia numa situação horrível, porque não gosto de me envolver com namorada ou mulher casada com amigo. Não quero nem ouvir falar de situações desse tipo, eu respeito a amizade. Mas não posso negar que ela era bonita, envolvente, e aquela situação não podia seguir adiante. E como dizer aquilo para a menina? Eu não tinha coragem de falar diretamente e resolvi falar em forma de música. Foi assim que surgiu “Falando sério”. Um dia ela foi à minha casa, eu estava tocando violão, começamos a conversar, e eu disse que tinha um recado para lhe dar. Peguei o violão e cantei: “falando sério, é bem melhor você pagar com essas coisas...” Ela ficou com os olhos cheios d’água e foi embora. Muito tempo depois nós nos encontramos e ela me disse que tinha reconhecido o erro que iria cometer, mas por outro lado tinha ficado muito contente com a música e emocionada por ter me inspirado. Roberto Carlos fez tanto sucesso com essa música que sei que muitas pessoas pensam que ela foi feita por ele. Até acho natural por causa da importância do Roberto na música brasileira. Ele é uma pessoa muito carismática, poucos artistas no mundo têm cerca de duzentos sucessos gravados como ele tem. As pessoas olham muito o Roberto como cantor, mas para mim, além de grande cantor, ele é um grande compositor, por isso essa identificação que ele tem com as músicas que grava, mesmo quando não são dele.

* MAIS UMA VEZ (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1978
"CC" - Essa música me emociona muito e até hoje eu evito cantá-la. É mais uma música que fiz para a minha primeira namorada, aquela que já tinha me inspirado em “A namorada” e “Sonho lindo”. Anos mais tardes nós nos encontramos, acabou acontecendo novo romance, chegamos a nos casar, mas esse reencontro foi muito traumático para ambos. Acabamos dizendo o que não queríamos um para o outro até que nos separamos. Essa música foi muito importante na minha vida.

* ME CONTE A SUA HISTÓRIA (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1979
"CC" - Quando fiz “Me conte a sua história” eu ainda trabalhava na Ordem dos Advogados, e uma amiga da Ordem queria me contar uma história mas estava com vergonha. Só que eu tinha ficado curioso para saber o que ela queria me contar, e sempre insistia para que ela me contasse a sua história. Foi assim que surgiu esse grande sucesso. Mas não tivemos nenhum romance; a história que ela tinha para contar era sobre uma outra pessoa.

* PASSATEMPO (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1980
"CC" - Mais uma canção que fiz com o Maurício para a minha primeira namorada. Como essa mulher me inspirou e me deu dinheiro com direito autorais... O tempo passava e nada de esquecer aquela história mal resolvida, não dava para apagar da lembrança aquela saudade, por mais que eu tentasse resolver. Essa menina era como uma pedrinha dentro do meu sapato... Por menor que ela seja, está sempre incomodando. Eu acho “Passatempo” uma das melhores interpretações do Roberto Carlos. Ele colocou toda a sua emoção na música. Parece até que ele viveu aquela história.

* DOCE LOUCURA (Maurício Duboc - Carlos Colla) – 1981
"CC" - O amor que me inspirou fazer essa música é aquele amor que a gente chama de amor de cama, de carne, que faz explodir tudo o que está nos sufocando, e até mesmo o que tentamos disfarçar para os outros. Tudo isso foi colocado para fora e explodiu em “Doce loucura”. Foi uma paixão muito bonita que tive.

* QUANTOS MOMENTOS BONITOS (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1982
"CC" - Fala do meu casamento naquela época, de um amor bonito que eu estava vivendo. E como o Roberto também canta essa música de uma forma tão bonita! Eu queria destacar aqui o valor do Roberto Carlos como intérprete. Ele não é apenas o maior cantor do Brasil, eu o considero o maior ator do Brasil, porque Roberto pega uma palavra da música e consegue extrair tudo o que ela tem de emoção. Roberto interpreta cada música como se estivesse vivendo aquele personagem da letra. Eu considero o Roberto o “Fernando Montenegro” brasileiro.

* A PARTIR DESSE INSTANTE (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1983
"CC" - É outra música feita para a minha primeira namorada. Acho que já falei tudo o que tinha que falar sobre essa garota. Se não falei ainda para o jornal, com certeza falei nas várias canções que ela me inspirou.

* AS MESMAS COISAS (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1984
"CC" - Outra canção que essa menina me inspirou. Eu gosto muito da letra dessa música, que fala das contradições entre o passado e o presente: “hoje você me despreza, ontem você me queria, hoje sou sua tristeza, ontem foi sua alegria”, e aí por diante.

* DA BOCA PRA FORA (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1985
"CC" - Foi outra música feita para essa mesma minha antiga namorada. Acho que essa música foi a que me deu mais trabalho. Tive que fazer várias mudanças na letra original a pedido do Roberto, porque ela tinha na letra sentimentos negativos, e o Roberto não gosta de passar esse tipo de mensagem em suas músicas. Uma vez ele me explicou que ao cantar músicas com mensagens negativas, acaba criando nas pessoas esse tipo de sentimento. A intenção do Roberto é sempre falar mensagens bonitas, coisas positivas. Não é à toa que o Roberto Carlos é esse fenômeno da nossa música, não só pelo que canta, mas pelo que transmite em suas atitudes. Sempre falo que o Roberto é um pregador do amor, de bons exemplos, e é por isso que considero o Roberto um mito. Como “Da boca pra fora” tinha umas passagens negativas, eu fui obrigado a mexer em muita coisa na letra.

* VOCÊ NA MINHA MENTE (Mauro Motta – Robson Jorge – Lincoln Olivetti – Carlos Colla) – 1985
"CC" - Foi a minha primeira música em parceria com outros compositores que o Roberto Carlos gravou, pois até então todas tinham sido feitas com o Maurício. O Maurício Duboc chegou até a ficar zangado comigo por causa dessa parceria, mas graças a Deus hoje isso faz parte do passado. Eu não tive culpa, foi o próprio Roberto quem pediu para que eu fizesse a canção em parceria com o Mauro, o Robson e o Lincoln. “Você na minha mente” tem um balanço totalmente diferente de tudo que já tinha feito, e isso se deve ao talento do Mauro Morra que tem uma maneira de fazer a melodia diferente dos outros. Eu fiz só a letra.

* EU SEM VOCÊ (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1986
"CC" - Eu não estava nem um pouco inspirado quando fiz essa letra, e se você pedir para eu cantá-la agora, sinceramente eu nem me lembro dela.

* INGÊNIO E SONHADOR (Maurício Duboc – Carlos Colla) – 1987
"CC" - Foi a minha última parceria com o Maurício Duboc gravada pelo Roberto Carlos. Teve uma época que o Maurício resolveu buscar outros caminhos, e se afastou da música para estudar filosofia oriental. Eu gosto muito dessa música, pois é o meu auto-retrato, eu sou esse personagem, ingênuo e sonhador. Com o passar do tempo, ao adquirir mais experiência, nós começamos a mudar a maneira de pensar. Começamos a ter receios, manias, tentamos ser perfeccionistas demais, olhar e julgar as pessoas, isso faz parte da natureza humana. Por causa de um amor que eu estava vivendo, comecei a perceber o quanto era ingênuo e sonhador, e resolvi colocar isso na lera. O amor faz isso em nós. Como estou precisando de um amor nesse momento!

* SE O AMOR SE VAI (Roberto Livi – Bebu Silvetti / versão: Roberto Carlos – Carlos Colla) – 1988
"CC" - Essa música é muito especial, pois mesmo sendo uma versão é uma parceria com o Roberto Carlos, a primeira que fizemos. É uma canção muito triste. Nós dois fizemos essa versão por telefone e também eu fui algumas vezes à casa do Roberto. Foi uma canção muito trabalhosa, na verdade um citar várias vezes repetições e variações sobre o mesmo tema. Eu acho que fazer versão dá mais trabalho que compor, porque fazer uma música é abrir o coração e colocar os sentimentos para fora, já a versão você tem que estudar, pesquisar, trabalhar as sílabas tônicas. É gostoso trabalhar com o Roberto, é simples e tranqüilo. Muitas pessoas falam sobre as superstições do Roberto, certas manias que ele tem na hora de compor, mas considero tudo folclore. Se você parar para pensar todos nós temos algumas manias, só que tudo que acontece com o Roberto é supervalorizado. Quais as manias dele? Abrir a porta para as pessoas passarem na frente? Isso é mania ou educação? Não falar palavras negativas? Eu também não falo, e considero que é questão de bom senso. Quem pegar os ensinamentos de nosso grande mestre Jesus Cristo, vai perceber que Ele só falava coisas e palavras bonitas. Roberto gosta de planta e animais. Isso é mania ou caridade humana? Roberto gosta de mulheres bonitas. Isso é mania ou bom gosto? Não é difícil trabalhar com ele, e pude perceber isso nas poucas oportunidade que tive.

* COMO AS ONDAS DO MAR (Marcos Valle – Carlos Colla) – 1988
"CC" - Essa música não chegou a fazer sucesso, mas é uma das que mais gosto. Eu me lembro bem do dia e como ela foi feita. Naquela época o Marcos Valle ia à minha casa todos os domingos, e nos ficávamos brincando no piano, com nossos filhos fazendo uma tremenda algazarra, correndo pela casa. Essa é a melhor maneira de fazer música, ficar brincando com letras e melodias, sem compromissos, aí a música sai naturalmente. Foi assim que surgiu essa canção.Foi uma coisa espontânea que quando percebemos o Marcos tocou uns acordes e eu logo escrevi a letra. “Como as ondas do mar” tem uma curiosidade. No final da letra me inspirei numa frase que o Sylvio Cezar colocou na música “Pra você” e fiz uma adaptação: “se eu fosse você, meu amor, como alguém já falou, eu voltava pra mim”. Tempos depois encontrei o Sylvio Cezar e ele me disse que era o compositor que fez a música “Pra você”, que tinha a frase “se eu fosse você, eu voltava pra mim”. Eu disse que sabia que era ele o compositor, e pedi desculpas, só que não dava para colocar na letra “se eu fosse você, meu amor, como o Sylvio Cezar falou, eu voltara pra mim”, mas fiz questão de ressaltar que alguém já tinha falado aquela frase. O Sylvio Cezar até brincou e disse que a minha sorte foi que na canção eu coloquei “como alguém já falou”, porque se não tivesse colocado ele mandaria me prender.

* EU SEM VOCÊ (Mauro Motta – Carlos Colla) – 1988
"CC" - Mais uma vez um estava sozinho com meus pensamentos, sem aquela namorada que me inspirou em tantas músicas. Essa música tem uma curiosidade, é que dois anos antes eu já tinha feito com o Maurício Duboc uma música com o mesmo nome.

* SE VOCÊ PRETENDE (Mauro Motta – Carlos Colla) – 1989
"CC" - Mais uma parceria com o Mauro Motta. Fazer letra para as melodias do Mauro é muito fácil, pois elas já vêm cheias de emoção, também não poderia se diferente, pois o Mauro é o aluno mais fiel do Roberto Carlos.

* SE VOCÊ ME ESQUECEU (Roberto Livi / versão: Carlos Colla) – 1989
"CC" - Como essa versão me deu trabalho! Foi quase um mês trabalhando, porque o Livi escreve muito objetivamente, ele não está preocupado com sonoridade, poesia, se preocupa apenas com o sentido correto da frase. É bem compositor argentino, eles são objetivos no que querem dizer nas músicas, não se importam com as emoções. E é complicado porque apesar de os idiomas serem parecidos, os conteúdos são muito diferentes, os sentidos das palavras são ligeiramente diferentes, a sonoridade, a acentuação e terminação das palavras são todas diferentes. Eu considero que fazer versões de músicas em castelhano é o mesmo que jogar xadrez ou brincar de palavras cruzadas. É difícil traduziu para o português a mesma emoção da letra em espanhol. Em castelhano tudo fica mais emocionante, até porque eles são mais dramáticos. Se você reparar os tangos só falam de tragédia e pessoas abandonadas. Existe até uma brincadeira de que por amor o argentino se mata, enquanto o brasileiro toma um porre.

* UM MAIS UM (Gilson – Carlos Colla) – 1990
"CC" - O Gilson é um compositor muito especial, ele fala as coisas de forma direta e simples. Quem não se lembra de seu grande sucesso “Casinha branca”, que diz “eu queria ter na vida simplesmente um lugar de mato verde pra plantar e pra colher”? É isso, no fundo, o que todo homem precisa. O Gilson é uma pessoa muito doce e muito voltada para Deus. Tive um prazer muito grande em fazer essa canção com ele.

* SE VOCÊ QUER (Roberto Livi – Alejandro Vezzani / versão: Roberto Carlos – Carlos Colla) – 1991
"CC" - Foi muito engraçado fazer essa versão, porque quando eu estava trabalhando eu pensava em coisas totalmente absurdas para a letra, coisas que jamais poderia colocar na música. Eu ficava rindo dos meus pensamentos e as pessoas da minha casa não entendiam nada. Por causa desses pensamentos eu não conseguia me concentrar na música. Na época eu não estava querendo voltar para ninguém, queria mesmo era começar uma vida nova. Então o meu subconsciente se defendia com esses pensamentos absurdos. Até que um dia eu cheguei em casa depois de ter tomado na rua tudo o que tinha direito, estava chateado com algumas coisas que tinham acontecido, e consegui fazer a letra. Quando me perguntam quais das músicas gravadas pelo Roberto me deram mais trabalho, digo que sem dúvida foram as versões, mas no fundo eu considero esse tipo de trabalho fantástico porque é um exercício mental.

* NÃO ME DEIXE (Marcos Valle – Carlos Colla) – 1991
"CC" - O Marcos que me desculpe, mas eu vou contar a história dessa canção. Ele estava para se separar da Mônica. Graças a Deus isso acabou não acontecendo, porque são duas criaturas maravilhosas. Naquela situação de separa, não separa, o Marcos estava sofrendo muito. Um dia ele me apareceu com uma melodia de muito sentimento, de uma forte emoção, e eu via nos olhos do Marcos o que ele estava sentindo. Aí escrevi tudo aquilo na letra, sem que o Marcos Valle me falasse nada, porque a melodia já dizia tudo. Foi um momento muito emocionante, porque o Marcos colocou na melodia o quanto ele amava a Mônica, e eu consegui traduzir isso na letra.

* PRA FICAR COM VOCÊ (Mauro Motta – Carlos Colla) – 1995
"CC" - Essa música foi feita numa época muito turbulenta na minha vida. Eu estava me separando da Marisa, que depois, infelizmente, Deus levou, mas que me deixou uma filhinha linda, Luíza, que hoje está com seis anos de idade. A Marisa era muito linda como mulher e ser humano. Mas eu não quero falar muito dessa música. Foi uma fase muito triste que passei.

* FALANDO SÉRIO (Maurício Duboc – Carlos Colla) gravação ao vivo, 1998
"CC" - Para falar a verdade, eu ainda estava num momento muito triste da minha vida, e o Roberto também vivia uma fase complicadíssima. Na época que ele lançou esse disco eu nem prestei atenção na gravação, eu não tinha condições emocionais. Hoje, já com as emoções em seus devidos lugares, e recuperado da perda da Marisa, considero que a gravação ao vivo de “Falando sério” foi um presente que ganhei do Roberto, porque eu não tinha nenhuma condições para compor naquele ano. Eu passei um ano afastado da música, cuidando de cavalos em Marica, e por isso entendo muito bem o que o Roberto está passando nesse momento. Mas é necessário dar a volta por cima. Roberto tem que entender que a saudade é forte e existe, mas que a paz da Maria Rita depende da sua serenidade. Ele tem que seguir em frente, tem que lutar. A minha filha, Luiza, é quem me faz lutar, levantar e ir em frente. É triste porque o ser humano não nasceu para sofrer.

* "Pra ficar com você" foi a sua última música gravada pelo Roberto Carlos, o que você está preparando para o próximo CD dele?
"CC" - Eu já tenho mais de trinta músicas para entregar ao Roberto Carlos. É claro que não vou entregar todas porque ele nem vai ouvir as trinta músicas. Então vou fazer uma seleção e daqui a uns dois meses eu mando o material.

* Já surgiu a possibilidade de uma parceria sua com ele?
"CC" - Já surgiu uma conversa, e uma vez ele também me disse que pretendia fazer um disco regravando as minhas músicas. Eu estou esperando. Já fico contente com as parcerias que fiz com o Roberto. Eu vou contar um segredo a você. Nos primeiros anos em que Roberto Carlos começou a gravar minhas músicas, eu fui visitá-lo no estúdio, e na ocasião ele estava gravando uma canção de outro compositor, só que não estava gostando de uma palavra e não conseguia substituí-la. Então, ele me pediu uma sugestão, e eu ajudei e troquei a palavra. Só que, por respeito ao autor, não vou falar qual foi a música.

* Roberto Carlos já te surpreendeu ao interpretar alguma de suas músicas?
"CC" - Não, porque o Roberto Carlos é meu “muso” inspirador, todas as músicas que faço eu o imagino cantando. Até mesmo as que não são gravadas por ele, eu escrevo imaginando como ele cantaria. O Roberto é um parâmetro maravilhoso, tudo o que ele canta fica bonito. Até aquilo que é feio Roberto Carlos torna bonito quanto canta. Ele tem esse dom, é capaz de fazer seus fãs se emocionarem até se resolver ler uma bula ou mesmo um catálogo de telefone. É um iluminado por Deus. Posso falar que todos os sucessos que tenho com outros intérpretes passaram antes pelas mãos do Roberto Carlos. Como ele não gravou, eu dei para os outros gravarem, musicas como: “Solidão” e “Bye, bye tristeza”, com a Sandra de Sá, todas as músicas gravadas pelos sertanejos, “Teu caso sou eu”, com a Joanna, e muitas outras.

* Roberto já chegou a pedir que você fizesse músicas de acordo como estilo do disco que estava gravando na época?
"CC" - Muitas vezes, mas eu não consigo fazer. Não sei, fica mentiroso. Fica difícil escrever uma música que fale de um amor bonito se meu coração está triste. Gostaria muito de ser assim, mas não consigo.

* Você também fica na expectativa se sua música vai ser gravada por ele ou não?
"CC" - Às vezes ele me fala se a música vai ser gravada, às vezes não fala nada, mas isso é natural na gravação de um disco. O cantor tem dez faixas à disposição, determinada música pode estar selecionada para entrar no CD, mas de repente aparece uma outra música lindíssima e ele tem que gravar de qualquer maneira. Então uma música vai ter que sobrar. Às vezes é a minha.

* O que você acha do compositor Carlos Colla?
"CC" - Você pode até achar graça, mas eu não me considero um profissional da música. Eu sou um amador, fazer música é meu divertimento. Essa coisa de administrar a minha carreira é complicada, por isso tenho pessoas que fazem isso para mim. Agora, pegar um violão, abrir o coração, colocar na letra tudo o que estou sentido é um prazer. O que me importa é fazer música. Se ela vai ser gravada, só Deus é quem sabe. Eu mando para o cantor, se gravar ótimo, se não, não tem problema. Eu não fico na expectativa se a minha música vai ser gravada ou não, a minha ansiedade é tirar as coisas do meu coração. Eu tenho inúmeras músicas que não mostro para ninguém porque são muito intimas, e às vezes falam de sentimentos que não quero compartilhar com os outros.

* O que significa para você ser o compositor mais gravado por Roberto Carlos?
"CC" - Eu me sinto honrado pelo fato do grande mestre escolher as músicas desse humilde servo. O Roberto sempre fala que só grava o que seu coração está sentindo naquele momento. A canção pode até fazer sucesso com outro cantor, mas se não tocar no coração do Roberto, ele não grava. Ele diz que sairia falso. Por coincidência todas as minhas músicas que ele gravou também falavam do que eu estava sentindo naquela época. Foram emoções verdadeiras.

* Como você define Roberto Carlos?
"CC" - É uma pessoa predestinada e se alguém escrevesse uma Bíblia dos tempos atuais, Roberto Carlos não poderia ficar ausente. Ele é um profeta. É só analisar a letra de “As baleias”. É um grande conselheiro. Os gritos de alerta de suas letras, como “Amazônia” e “O ano passado” foram feitas muito antes de a natureza chegar ao atual estágio de destruição. As mensagens religiosas são lindíssimas. Roberto parece ser capaz de adivinhar o que irá acontecer no futuro, só que ele não tem consciência da sua importância na sociedade. É o Espírito de Deus mexendo com ele. Como acredito que Deus fala pelas pessoas, uma dessas pessoas, com certeza é Roberto Carlos. Ele é usado por Deus o tempo todo. Até as coisas sofridas que acontecem em sua vida, servem para amenizar os sofrimentos dos outros, e posso dizer que já amenizaram os meus. Vendo o seu sofrimento, eu parei, refleti, e compartilhei a minha dor. Roberto é o grande companheiro de todos os que sofrem, é a grande esperança das pessoas que estão perdidas, porque ele sempre conseguiu reagir e renascer. Tenho certeza de que o seu próximo disco virá com muita alegria para levantar toda a população brasileira, porque essa é a sua missão: Cantar o amor, mostrar o bem, fazer com que as pessoas tenham esperança. Nós precisamos de um Roberto renascido a cada ano. Nós precisamos de um Roberto Calos muito forte, muito cheio de energia, porque ele é o grande líder brasileiro, e isso eu falo de todos os sentidos.

PÁGINA INICIAL VOLTAR ENTREVISTAS COMO É BOM SABER