Tivemos o prazer de conversar com Genival Barros, que começou na equipe RC como técnico de som e hoje trabalha na gerência da parte técnica. Amigo de Roberto Carlos desde a Jovem Guarda, é uma das pessoas que mais conhecem a carreira do nosso Rei.
* Quando você começou a trabalhar com Roberto Carlos? "GB" – Foi em 1965. Eu trabalhava na Rádio Record e fui transferido para a TV Record, para a sonoplastia. Lá fiz o programa Jovem Guarda, em que Roberto Carlos era a grande estrela. * Então você pegou o início da Jovem Guarda? "GB" – Exatamente. Eu me lembro que o programa despertou um grande interesse na juventude. Tinham que fechar a Rua da Consolação até a Avenida Paulista, por causa do movimento de fãs no Teatro Record. Os ingressos se esgotavam com seis meses de antecedência e quem não conseguia entrar ficava na frente do teatro para ver o Roberto entrando e saindo. Naquela época os ingressos para programas de televisão eram pagos, mas, mesmo assim, era uma loucura. Parava tudo e até os cinemas evitavam estrear filmes aos domingos porque a atenção geral era para o programa Jovem Guarda. * Você ficou surpreso com a fama que Roberto Carlos conseguiu em tão pouco tempo? "GB" – Não. Desde o início Roberto foi um fenômeno. Sempre foi e até hoje é um fenômeno, com seu carisma, sua maneira de falar com as pessoas, a mensagem que transmite. Naquela época Roberto virou moda da juventude. Para mim não foi surpresa alguma porque desde o início ele teve e mostrou o talento que Deus lhe deu. * Como era fazer a sonoplastia dos programas Jovem Guarda no meio de toda aquela gritaria da plateia? "GB" – Realmente era difícil. O Teatro Record virava um verdadeiro caldeirão de emoção. Era uma loucura total, gritaria do início ao final do programa.Todos que iam lá, adolescentes ou não, participavam ativamente do programa. * Quando você passou a cuidar do som dos shows de Roberto Carlos? "GB" – Depois que saiu do Jovem Guarda, Roberto Carlos fez outros programas na TV Record. Eu fiquei na emissora até 1974 e quando saí fui trabalhar com Roberto Carlos, nos palcos . * De tantas as temporadas com Roberto Carlos, qual a mais marcante? "GB" – Cada show de Roberto ou é igual ou é melhor que os anteriores. Ele coloca muito do seu lado pessoal em tudo que faz, então ele é sempre “igual”, ou melhor a cada dia. * Ele é muito exigente com os shows, não é? "GB" – É bastante exigente sim. Ele tem um ouvido privilegiado e para ele o som tem que estar muito bom. Ele tem uma paciência incrível ao passar o som. Se tiver que ficar duas horas passando o som, sozinho no palco, ele fica. Só pára quando sente que está tudo perfeito. * Explique o que é passar o som. "GB" – É você equalizar da maneira que o artista quer, com os agudos e os graves no ponto que agrada ao artista. Às vezes você pode até achar que o som está perfeito mas o técnico tem que chegar ao gosto do artista. Ele é quem sabe quando está bom. * Já aconteceu do Roberto interromper algum show porque o som não estava bom? "GB" – Pelo menos umas três vezes ele já parou o show e falou: “Olha, me dá uns cinco minutos porque estou com um probleminha técnico e preciso acertar o som”. Ele fez isso sem a menor cerimônia. Mas não é comum acontecer. * E dá para acertar o som em poucos minutos? "GB" – Às vezes, quando o problema é só de ajuste, coisa simples, dá para consertar rapidamente. * Ele passa o som antes de todos os shows? "GB" – Antes de cada show ele faz a passagem de som dele. O mesmo acontece com a banda. * Em termos de som, existe diferença entre shows em casa de espetáculo, ginásios e campos de futebol? "GB" – Não, porque os equipamentos são adequados para qualquer lugar. * Algum show provocou em você uma forte emoção? "GB" – O show que ele fez este ano, em Porto Alegre, com o Pavarotti deixou toda a equipe emocionada. Foi realmente muito emocionante. O estádio completamente lotado, com 60 mil pessoas, e, sem medo de errar eu afirmo que a maioria estava lá para ver Roberto Carlos. Também me emocionei muito com um show em Brasília, na Praça dos Três Poderes, onde você perdia de vista a quantidade de pessoas que estavam lá. Na época se calculou um público entre 250 e 300 mil pessoas. * Roberto estava tranqüilo por estar cantando ao lado de um dos maiores tenores do mundo? "GB" – Roberto é muito seguro e estava tranqüilo, tanto é que deu um show. Eu acho que quem se surpreendeu foi o Luciano Pavarotti, porque ele jamais havia cantado ao vivo com um artista popular, só com tenores. Roberto foi o primeiro, e acho que o Pavarotti se surpreendeu. * Você costuma guardar material do Roberto Carlos que nunca foi gravado? "GB" – Durante tanto tempo trabalhando como técnico de som do Roberto, até janeiro de 97, guardei muita coisa que ele não gravou. São verdadeiras preciosidades para mim. * O que você tem guardado? Pode contar para nós? "GB" – Eu tenho umas gravações feitas no Canecão, do Roberto Carlos cantando “Mac Arthur’s Park”, “Rubi”, e outras quatro ou cinco músicas que ele nunca chegou a gravar e que só cantava nos shows. “Rubi” é uma coisa linda, com Roberto tocando gaita. * Você não acha que essas gravações deveriam ser lançadas em disco? "GB" – O problema é que a gravadora tem uma linha de trabalho, e esses tipos de lançamento não são tão simples assim. O artista tem um plano de trabalho junto com a sua gravadora, e não dá para lançar tudo. Não pode ser diferente. * Com o avanço da tecnologia ficou mais fácil fazer um show? "GB" – Hoje é tudo computadorizado. Você faz um desenho de luz, grava em disquete e na hora do show é só disparar o computador. Se você quiser fazer todos os shows exatamente iguais tem esse recurso. Na Jovem Guarda não existia equalização nas mesas. Hoje você tem tudo à disposição, há uma série de recursos que não existiam. Um show hoje é muito mais produzido. * A produção dos shows no Exterior é a mesma? "GB" – Não há nenhuma diferença. Roberto leva toda a sua equipe e se apresenta da mesma maneira. Ele é muito querido lá fora. Agora mesmo fizemos uma temporada com shows em Miami, Chicago e New York e foi maravilhoso, os teatros lotados de brasileiros que vivem nos Estados Unidos e também muitos latinos vibrando a cada apresentação. * Como é a convivência de vocês da equipe com tantas viagens? "GB" – A convivência é a melhor possível, e até podemos dizer que ali está realmente a nossa família. Já estivemos 75 dias fora de casa excursionando. Normalmente passamos de 15 a 20 dias juntos fazendo shows. Por isso a gente tem que conviver como família. Caso contrário vira guerra. * Roberto costuma gravar o show para corrigir falhas? "GB" – Os shows são gravados diariamente e as fitas estão sempre à disposição dele. Se quiser o material é só ele solicitar. * Quanto tempo leva a montagem do palco para um show de Roberto Carlos? "GB" – Quando fazemos excursões quase sempre temos um show por dia. Se estivermos a uns 200 quilômetros saímos direto do show para a cidade seguinte e começamos a montagem pelas 8 horas: camarim, luz, som e vídeo. Às 5 da tarde, já está tudo pronto para o espetáculo. Se estivermos mais longe, a mais de 200 quilômetros, os caminhões chegam às 10 e às 18 horas o palco já está pronto. * Você já chegou a participar de gravações de disco do Roberto Carlos? "GB" – Não, nunca, porque a minha dedicação com o som sempre foi a nível de shows. Certa vez Roberto estava em New York, gravando, e também teve um show. Aí ele me levou ao estúdio para vê-lo gravando. Não me lembro do ano mas deve ter sido entre 78 e 80. * Você citaria uma música de Roberto Carlos como a sua preferida? "GB" – São muitas, mas “Detalhes” é uma música que me toca muito. Também tem “Nossa Senhora”, “Emoções”, “O portão”, “Falando sério”... São tantas que fica difícil citar uma só. * Você convive há muitos anos com Roberto Carlos. Continua fã? "GB" – É impressionante como além de trabalhar com ele a gente também é fá! Ele nos transmite segurança, carinho, amizade. Nos sentimos seguros ao seu lado. Não dá explicar. * Qual a sensação que você tem quando vê Roberto Carlos no palco? "GB" – No palco, Roberto Carlos é meu ídolo. Tenho um respeito duplo por ele como ídolo e como profissional. Sabemos que estamos trabalhando com um super-profissional, de alto nível, cuidadoso, então dá uma grande empolgação porque sabemos que estamos trabalhando para ele exercer sua profissão da melhor maneira. * O profissionalismo de Roberto Carlos já podia ser notado na Jovem Guarda? "GB" – Sempre, desde o início, quando ele era apenas um adolescente, já sabia o que queria. Por exemplo, se um cenário não estava como desejava, ele pedia para mudar. * Naquele início da Jovem Guarda você imaginava que Roberto Carlos chegaria a ser o maior ídolo da Musica Popular no Brasil? "GB" – Pelo seu trabalho sério não foi nenhuma surpresa. Você logo percebe quem pode se manter. O difícil não é fazer sucesso mas sim cuidar da carreira e manter o sucesso. Roberto sempre fez isso muito bem. O que plantou está colhendo até hoje e, seu Deus quiser, ainda vai colher por muitos e muitos anos. * E o trabalho da imprensa em relação a Roberto Carlos, como você observa? "GB" – Eu acho que a crítica respeita o seu trabalho mas é claro que sempre tem um ou outro que não gosta, e tem todo o direito. Mas são bem poucos os que não gostam do trabalho do Roberto Carlos. Ele é respeitado pelos grandes jornalistas e pelos grandes críticos mas a gente sabe que existem críticas não favoráveis. Se elas não forem maldosas até ajudam o artista a corrigir e melhorar o seu trabalho. * Dá para você sentar na coxia e ver um show do Roberto? "GB" – Não, não dá. A gente tem que ficar atento a tudo, a todos os detalhes. Durante o show ficamos procurando erros para no outro dia podermos conversar com a equipe e tentar evitar que se repita. É difícil sentar a ficar vendo um show inteiro. * Como você define Roberto Carlos? "GB" – Quem sou eu para definir Roberto Carlos! Ele é alguém muito superior, uma pessoa incrível, iluminada por Deus. A gente tem que agradecer todos os dias a Deus por poder trabalhar com Roberto Carlos porque ele nos passa uma energia positiva muito boa. A definição é Deus que dá para ele: aquela luz, aquele poder. "justify"> |