Quem observar a ficha técnica dos últimos discos de Roberto Carlos encontrará o nome de Marcos Garcia. Há alguns anos participando dos CDs do Rei, Marcos, irmão da cantora Kátia, conversou conosco sobre seu trabalho nos computadores das gravações de RC.
* Quando você começou a trabalhar com Roberto Carlos? "MG" – Roberto sempre foi muito ligado à minha família, principalmente depois do lançamento da carreira da Kátia, que tem um estúdio de gravação. Em 1990, ele estava nos Estados Unidos gravando e na música “Super herói” o andamento da bateria não estava bom. Como o disco já estava atrasado e não havia tempo para convocar os músicos para uma nova gravação, o maestro Eduardo Lages foi ao estúdio da Kátia e eu fiz uns três andamentos para que Roberto escolhesse um. Também me lembro que naquele ano o Eduardo fez alguma coisa no estúdio com a música “Cenário”, que também entrou no disco. Roberto Carlos gostou do meu trabalho nos computadores e a partir daí passei a gravar com ele todos os anos. * Explique melhor como é esse trabalho no computador. "MG" – A parte de computação é um trabalho simples, nada complicado. Nele gravamos vários instrumentos, que passamos para uma fita onde depois será colocada a voz do cantor. Roberto sempre teve o cuidado de usar o computador e também os músicos, para não perder a essência da canção, para não ficar um trabalho frio, mecanizado. * Roberto costuma dar palpites nessa área de computação? "MG" – Não digo que ele seja palpiteiro mas Roberto é muito detalhista, e isso é importante no trabalho. Toda pessoa que gosta do que faz, sempre faz o melhor que pode, tem o prazer de fazer e, principalmente, de se realizar com o que está fazendo. Isso é importante, e Roberto é assim, ele se realiza fazendo o que gosta. Por isso sempre faz da melhor forma e é assim que se sente bem. * Conte para a gente como é o estúdio Amigo, do Roberto. "MG" – Eu sou meio suspeito para falar, mas o estúdio do Roberto é muito bonito, de primeira linha. Como tudo o que ele faz, foi construído e instalado com muito carinho. Quem convive com ele sabe disso. O estúdio foi feito bem no estilo Roberto Carlos. * Como é a rotina num estúdio durante a gravação? "MG" – Extremamente profissional, nada de lazer, pois estúdio é um lugar de trabalho. Mas é claro que às vezes rola um papo, uma brincadeira, uma piada. Afinal, ninguém, agüentaria se não fosse assim, pois ficamos mais de seis horas trancados num estúdio, sem nenhum contato com o mundo exterior. Ficamos sem saber do que se passa lá fora, por isso o clima tem que ser agradável. * Como ficou a rotina de Roberto Carlos em relação à gravação do CD 98 por causa dos problemas de saúde de Maria Rita? "MG" – Ele se esforçou ao máximo em todo o processo de gravação do disco. Ele vinha e voltava para São Paulo todos os dias. Para facilitar, o disco acabou sendo finalizado lá. * Além das quatro músicas inéditas que estão no CD 98, vocês chegaram a trabalhar em outras músicas? "MG" – Pode parecer incrível, mas, sinceramente, não sei. Meu trabalho no computador é de muita atenção, se apertar um botão errado tem que recomeçar tudo. Eu fico tão ligado no computador que às vezes nem sei que música estou gravando. Minha mãe sempre me pergunta qual a mensagem que ele irá lançar, mas quando saio do estúdio não consigo nem lembrar de nada. Ela até fica aborrecida comigo, mas realmente fico ligado apenas no computador. * Qual a música que, pelo resultado final, te deu maior satisfação? "MG" – São tantas que nem me lembro de alguma de que não tenha gostado. Só trabalhar com Roberto Carlos já uma grande satisfação. Não é bajulação, mas gosto de tudo o que ele faz. * Como você encara as críticas de que o computador tira o lugar do músico? "MG" – Essa pergunta é muito boa e é uma excelente oportunidade para esclarecer algumas questões. É muito simples: o computador funciona bem mas não é perfeito. O músico é melhor em certas coisas e o computador é melhor em outras. Se nós conciliarmos os dois fica uma coisa mais bonita. E tem que ter alguém para programar o computador. Por isso tudo o músico é fundamental. Infelizmente aqui no Brasil existem esses pensamentos errados. Se o músico é bom, o computador vai executar o que ele manda, e não erra. * O que demora mais na gravação do disco? "MG" – Tudo é feito em etapas. Primeiro as bases, com a estrutura da música. Essa parte é fundamental, tem que ser bem feita, porque tudo o que for gravado em seguida vai ser em cima das bases. Se a base ficar mal feita não há como consertar o resto. Também, se a voz não ficar perfeita, teremos problemas na hora da mixagem. Então, tudo funciona em sequência. A demora é muito relativa. Há músicas que demoram na voz, outras na mixagem. Como Roberto é muito detalhista, ele demora um pouquinho mais, mas é por isso que há mais de trinta anos ele é sucesso. * Quantos meses vocês ficam em estúdio? "MG" – Normalmente de três a quatro meses, entre gravação e mixagem. Há cantores que gravam em muito menos tempo, o que realmente é possível, mas Roberto é muito detalhista e extremamente profissional. * Roberto Carlos já entra em estúdio com o repertório definido? "MG" – Não, ninguém entra em estúdio com o repertório pronto. De repente, quando você pensa que o disco já está feito, chega uma música linda, maravilhosa, e aí paramos tudo para trabalhar na música. Todo mundo é assim, não só o Roberto, não. * Você tem algum exemplo de uma música de última hora? "MG" – Lembro-me de 1996, com a música “Mulher de 40”. Essa canção já era para ter sido lançada um ano antes, mas Roberto achava que ainda podia melhorar a letra. Como em 95 ele e Erasmo não tiveram muito tempo para compor, a música ficou guardada e, de repente, entrou no ano seguinte. * Já existe alguma previsão para o inicio da gravação do próximo disco? "MG" – Não, ainda é cedo. Normalmente os trabalhos começam em julho, só que agora, com o estúdio Amigo, ele não precisa ficar preocupado em reserva de local para gravar. Com o estúdio Amigo à disposição, pode ser que a gravação comece um pouco antes. * Fale um pouco sobre a gravação do CD do ano passado. "MG" – Foi tudo diferente porque Roberto só gravou quatro músicas. A parte instrumental foi toda gravada aqui, no Amigo. Só alguma coisa da voz foi que Roberto Carlos fez em São Paulo. Sobre as músicas gravadas ao vivo, já havia a previsão de que o material seria aproveitado em algum projeto, talvez um disco todo ao vivo. Como não foi possível a gravação de outras músicas inéditas, ele lançou mão dessas canções. Por falta de tempo ele não teve como fazer o trabalho todo no seu estúdio, o que acredito que aconteça este ano. * Quantas músicas vocês costumam gravar a cada ano? "MG" – Não existe uma linha básica, tipo vamos gravar doze para lançar dez, por exemplo. Tudo é muito relativo. Às vezes gravamos dez, outras vezes onze ou doze, nada é definitivo. Tudo depende do número de músicas que ele apronta e também das que escolhe de outros compositores. Acontece de se gravar uma música e depois de pronta observar que não ficou boa. Então ela é retirada do disco. * E o que é feito com o material que sobra? "MG" – Fica arquivado e pode vir a ser usado no futuro. * Para você, qual a importância de Roberto Carlos na música popular brasileira? "MG" – Será que preciso falar de mais de trinta anos de sucesso? Eu tenho quarenta e cinco anos de idade, nasci, cresci e estou amadurecendo ouvindo Roberto Calos. Na minha vida, na minha geração e até mesmo para uma geração anterior à minha e para algumas que vieram depois, ele é fundamental. Na minha geração, então, todo os que ouviram Roberto Carlos têm que se orgulhar dele. * Fale um pouco da sua carreira? "MG" – Eu nunca imaginei que um dia fosse trabalhar com música. O meu sonho era ser jogador de futebol e joguei até os vinte e oito anos de idade. Essa história de mexer com música começou por intermédio da Kátia. Com onze ou doze anos ela tocava violão e por ser muito criança fazia umas músicas com letras bem infantis. Eu fui dando palpites e escrevendo algumas coisas para ela musicar, mas nunca me passou pela cabeça ser músico ou compositor. Eu parei de jogar futebol na época em que a Kátia passou a lidar com música de uma forma mais profissional. Foi aí que passei a me interessar pela técnica. Via o pessoal trabalhando na mesa de som e isso me atraía. Até que entramos na era do computador na música, há cerca de quinze anos. * E quando ao CD “Mensagens”, você teve alguma participação? "MG" – Chegamos a iniciar alguma coisa, mas não haveria tempo hábil para lançar o disco. Então ele resolveu lançar essa coletânea. * Essas músicas te tocam? "MG" – Muito, e fico feliz por ter participado de quase todas elas. Para mim, antes de “Luz Divina” Roberto Carlos gravava músicas religiosas. Depois elas se tornaram verdadeiras mensagens, com letras muito profundas, e é sempre uma emoção muito grande ouvir essas canções. * Quais as suas primeiras lembranças de Roberto Carlos? "MG" – Meu pai conhece Roberto desde 1957, mas me recordo mesmo é de um programa de rock, na TV Tupi, um dos últimos programas desse estilo, quando fui ao camarim dele. Depois me lembro das temporadas no Canecão. * Trabalhar com Roberto Carlos facilita para outros trabalhos? "MG" – Sem dúvida, ele é uma estrela no seu currículo, uma estrela que não tem tamanho. É só falar que trabalha com Roberto Carlos que todas as portas se abrem, graças a Deus. * Qual a sua música preferida do repertório do Roberto Carlos? "MG" – Acho muito difícil para quem é fã escolher apenas uma música. Com certeza as canções do Roberto acompanham a minha vida. Uma das minhas preferidas é “À janela...” mas também tem “Alô”, “Emoções”, “Detalhes”, as mensagens religiosas.Tem muita coisa. * Como você define Roberto Carlos? "MG" – Eu vou falar para você o que já falei para ele. Para mim Roberto é um pai. Gosto dele como se fosse o meu pai. Eu não tenho como definir o que sinto por ele, porque nasci, cresci e vivi ouvindo Roberto Carlos, amando o Roberto. Agora estou trabalhando com ele. É um prazer muito grande tê-lo como amigo, como ídolo, como exemplo de vida e de fé. "justify"> |