s GUMARC
MAURO MOTTA
entrevista concedida a Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

12.01.1996




Em maio de 93 entrevistei Mauro Motta, o produtor dos discos de Roberto Carlos. Sem dúvida que foi uma das melhores entrevistas que fiz e, afirmo, com toda certeza, uma das maiores amizades que fiz com pessoas ligadas à carreira de Roberto Carlos. Mauro falou como conheceu Roberto e contou um pouco desses anos como produtor de seus discos. Agora, por sugestão de Vera Marchisiello, voltei a conversar com ele. Agora vocês vão saber um pouco das histórias, detalhes e algumas curiosidades das músicas gravadas pelo nosso Rei. No lugar das tradicionais perguntas dei a Mauro a relação dos discos de RC e ele contou algumas histórias.
A primeira vez em que ele gravou com Roberto Carlos foi em 1968. Na época Mauro tocava teclados no conjunto “Renato e Seus Blue Caps”, que acompanhava Roberto nas gravações. Com o grupo ele participou de todas as gravações do LP “O Inimitável” e dos discos de 69 e 70. Em 1970, Mauro Motta recorda a gravação de “Oh, meu imenso amor!”, em que Roberto imita os cantores antigos das décadas de 40 e 50. Sua voz teve que passar por um filtro para que ficasse bem anasalada. O produtor, como Roberto Carlos, é muito religioso e até hoje lembra-se da gravação de “Jesus Cristo”. Foi Renato Barros quem falou que Roberto gravaria uma música falando de Cristo, que tinha uma passagem bonita falando de nuvens brancas passando no ar.

“Em tudo o que canta Roberto Carlos põe sempre sua emoção, sejam músicas românticas ou religiosas, com o mesmo amor e a mesma responsabilidade. Só que por ser religioso, ter a fé que nos transmite, sempre existe uma emoção diferente; a própria letra o conduz a ter outro tipo de emoção.”

Outra música que Mauro Motta destaca no disco de 70 é “Meu pequeno Cachoeiro”. Como o autor Raul Sampaio já nos tinha contado, Roberto se emocionou muito, chegando a chorar durante a gravação. Mauro Motta recorda que a ex-esposa de Roberto, Nice, também estava no estúdio. Além da gravação que está no LP, tem uma outra, lançada em compacto, apenas com Roberto Carlos tocando violão. As pessoas sempre perguntam se Roberto participa dos discos tocando algum instrumento. Além desta gravação, Mauro se recorda de “O diamante cor de rosa”, a única instrumental de Roberto Carlos, em que ele toca gaita.
Após esses discos, Roberto resolveu gravar nos Estados Unidos, mas Mauro Motta lembra que ele gravou “Amanda amante” e “Agora eu sei”, de 71 e 72, no Brasil. Até 1978 Mauro Morra esteve um pouco afastado das gravações. Nesse ano ele voltou ajudando o produtor Evandro Ribeiro. Mauro acredita que Evandro, produtor dos discos de Roberto Carlos de 63 a 83, já estava querendo se aposentar e já o preparava para ser seu substituto.
Mas em 77 Roberto Carlos gravou a primeira música da dupla Mauro Motta e Eduardo Ribeiro, “Nosso amor”.

“Roberto costuma mexer em algumas músicas que grava de outros compositores mas nessa canção ele não fez qualquer alteração. Ele a recebeu numa fita K-7, só no piano, e o maestro Jimmy Wisner obedeceu a parte harmônica que fizemos. Essa foi a única música que mandamos para Roberto naquele ano. “Nosso amor” ficou muito mais bonita depois de gravada. Gosto muito de alguns outros artistas mas Roberto Carlos é, sem dúvida, o que mais me emociona. Independente de ter a felicidade de ser seu produtor, ele é o artista que mais admiro, que mais me emociona. Ter minha primeira música gravada por Roberto foi um presente muito especial.”

A partir de 78 Mauro Motta voltou a participar das gravações, ouvindo algumas músicas com Evandro Ribeiro, dando opiniões e participando das bases. Ainda não tinha muito contato com Roberto durante o trabalho. O importante nisso tudo era ele ir tomando conhecimento das gravações no Exterior. Quando Roberto Carlos colocava a voz no disco, frequentemente Mauro Motta já havia retornado ao Brasil. Mas às vezes Evandro Ribeiro se afastava um pouco e Mauro acompanhava a colocação de voz. Sua primeira participação efetiva nessa fase de gravação foi no disco de 81. Nesse disco encontramos “Emoções” em belíssimo arranjo de Torrie Zito, que já havia trabalhado no ano anterior na música “A ilha”. Mauro se recorda bem da gravação de “Emoções”:

“O arranjador já tinha muita experiência, pois havia trabalhado com Tony Bennet e Frank Sinatra. Ele é um tipo de pessoa que a gente olha e não pode acreditar que fez um arranjo daqueles. Roberto passou a idéia do que queria, uma gravação tipo ‘big band’. No final do dia voltávamos para o hotel, caminhando, numa noite muito fria, típica do inverno americano. Ele ainda estava na dúvida sobre o final, pois achava que junto com o solo do saxofone deveria também usar trompetes. Mas eu o convenci a deixar como estava, pois lembrava um pouco aquelas bandas de Glenn Miller, dando a idéia de sonho.”

Em 82, pela primeira vez, Roberto dividiu uma faixa de seu disco com uma convidada especial, Maria Bethânia, em “Amiga”. A gravação foi em New York, no estúdio da CBS. Roberto estava no estúdio mas não gravaram juntos. Primeiro Bethânia colocou a voz, só depois que Roberto gravou a sua parte.
Em “Fim de semana” Mauro Motta fez um solo num instrumento com som de realejo, uma sugestão do maestro Jimmy Wisner. No mesmo disco há “Fera ferida”, feita alguns anos antes mas que ainda não estava pronta para ser gravada. Na parte em que canta “Eu sei que as cicatrizes falam...”, Roberto Carlos sempre se lembrava de Mauro Motta, por um fato que tinha acontecido em 81. Roberto lhe mostrou a música, e ele foi para o piano e fez um acorde bonito de que os dois gostaram muito, dando realce a essa parte da música. Mauro Motta gosta muito da gravação mas acha que a base poderia ter ficado melhor. Mas naquela época não encontraram um ritmo melhor do que aquele. Algumas canções quando não estão boas, ficam arquivadas para outros anos, mas esse não foi o caso de “Fera ferida”.
Foi a partir do disco de 82 que Mauro Motta passou a trabalhar mais de perto na colocação de voz, funcionando já como produtor.

“Parte do disco de 83 foi gravada no Brasil, inclusive com vocal do grupo Roupa Nova em “O amor é a moda”.” O conjunto chegou a participar de outros discos do Roberto, na parte instrumental, inclusive o tecladista Cleberson Horst fez os arranjos de “Apocalipse”, “Do fundo do meu coração”, “Quando vi você passar” e “Verde e amarelo”.

Em 83, Mauro tocou órgão em “Estou aqui”, num arranjo muito parecido com o de músicas sacras. Esse disco tem a brilhante participação do maestro Édson Frederico nos arranjos de “Perdoa”.

“Essa música foi gravada no Brasil. A escolha de Édson foi porque ele tem uma ótima interpretação ao piano nesse tipo de música meio ‘blues’. Anteriormente, nos Estados Unidos, já haviam sido feitos dois arranjos diferentes para “Perdoa”. Os arranjos ficaram bonitos mas tinham algo que não combinava bem com a letra.”

Em 1984 o primeiro disco totalmente produzido por Mauro Motta, e também o primeiro gravado por Roberto com apenas nove músicas.

“Ele não veio com dez porque “Símbolo sexual” não ficou pronta a tempo e só foi gravada um ano depois. Quando convidamos Charlie Calello para fazer o arranjo de “Caminhoneiro” nós lhe explicamos como era a música, mas ele não entendeu direito e fez um arranjo em ritmo de samba. Depois, com muito tato, conseguimos explicar que “Caminhoneiro” não era samba. Só aí chegamos ao arranjo que foi gravado. Às vezes levam-se horas para conseguir explicar ao arranjador as mudanças de que precisamos. Principalmente num outro idioma isso se torna difícil pois há expressões e até gírias próprias em cada idioma. “Caminhoneiro” foi gravada no estúdio da A&M Records, o mesmo em que foi gravada “We are the world”.”

Em 84 foram gravadas duas versões: “Cartas de amor” e “Eu te amo”. A primeira foi uma sugestão do próprio Mauro Motta, que a considera uma música imortal e uma das mais bonitas de todos os tempos. Em “Eu te amo” perdemos a oportunidade de ouvir Roberto Calos cantando em dueto com Paul Mc-Cartney. Tudo estava bem encaminhado para os dois gravarem juntos mas devido a compromissos do Beatle não houve tempo para esse belo registro.
“Eu e ela” foi mais uma gravação de Roberto para uma música de Mauro Motta em parceria com Lincoln Olivetti e Robson Jorge. Essa música tinha outra letra e outro tema que não tinham nada a ver com Roberto. Quando os dois voltavam para o Brasil para gravar a voz, a letra não estava pronta. Na viagem, Mauro e Roberto estavam em pé no avião, quase chegando ao Rio, quando Roberto teve ideia da frase “cada dia mais que antes nesse amor”. No finalzinho da viagem, a letra ficou pronta e no mesmo dia, à tarde, ele gravou “Eu e ela”.
A idéia de “Verde e amarelo” já amadurecia havia alguns anos na cabeça de Roberto, como diz Mauro, que considera o cantor uma pessoa muito correta, honesta, que ama verdadeiramente o Brasil.

“Aproveitando o sucesso do inicio do Plano Cruzado, no governo Sarney, acreditando como todos nós nos ministros e naquele presidente sensível, um poeta, Roberto embarcou na onda de nacionalismo que tomava conta de todo o povo. O futuro do plano ninguém poderia imaginar”.

No disco, de 85, há uma outra parceria de Mauro Motta com Lincoln Olivetti, Robson Jorge e Isolda, “De coração pra coração”. Pode parecer estranho uma parceria de quatro pessoas mas Mauro, Lincoln e Robson fizeram a parte musical.

“Às vezes faço algumas letras mas não sou letrista. Roberto não gostava da letra original e eu, como produtor, não tinha tempo para modificá-la. Pensamos no Carlos Colla e no Paulo Sérgio Valle, mas Roberto sugeriu a Isolda. A letra ficou fantástica. Ela se baseou numa idéia que já tinha e acabou a canção.”

Em 85 veio a gravação de “Símbolo sexual”. Depois de um ano de espera, o ritmo certo foi encontrado.
“Apocalipse” veio numa época em que Roberto Carlos estava preocupado em mostrar seu lado roqueiro, pois estava surgindo muitas bandas de rock no Brasil. Então, não perdendo seu lado romântico, ele gravou “Apocalipse”, que é uma mensagem falando de uma passagem da Bíblia. Outra mensagem do disco foi “Aquela casa simples”.

“Foi difícil Roberto Carlos gravar “Aquela casa simples”, pois ela fala exatamente da casa em que ele nasceu, em Cachoeiro de Itapemirim. A música tem um estilo nostálgico bem parecido com “Meu pequeno Cachoeiro”. Aí vieram todas as lembranças de sua infância, de sua família, de seus amigos... Ele chorou, ficou muito emocionado. Não foi fácil gravar essa música.”

Já “Nêga”, uma música alegre, registra sua entrada no samba.

“Eu sempre brinco que o Roberto deveria ser sambista, no estúdio ele tem mania de ficar batucando. Ele gosta de ritmo e tocava bongô quando era menino”.

A escolha do repertório é sempre baseada na qualidade da música. Se ela é boa, independente do compositor, Roberto grava, mas se não for do jeito que ele sente, ele não grava.

“É uma questão e gosto pessoal mesmo!”

A música mensagem do disco de 87 é “O careta” e Mauro nos confirma que Roberto acha que as drogas são mesmo uma porcaria e, sempre muito humano e sensível ele se preocupou em levar sua mensagem dando um toque nos dependentes das drogas.

“Os discos de 85 e 87 foram quase inteiramente feitos no Brasil. Viajamos apenas para mixá-los. Foi uma opção, e uma experiência bem válida. Nós gravávamos lá fora com grandes músicos, mas era um tipo de trabalho que os brasileiros já estavam fazendo muito bem.

Depois veio o disco ao vivo. Muitas pessoas questionam a ausência de “Cavalgada” com o arranjo de Eduardo Lages para o show “Detalhes”.

“A gravação tinha de 6 a 7 minutos e para que ela entrasse teríamos que tirar um pout-pourri. O repertório ficaria bastante desfalcado pois são sucessos do Roberto. Se na época o CD estivesse mais desenvolvido daria para colocar todas as músicas do show.”

Em 88 Roberto voltou gravar o disco quase todo no Exterior.

“Lembro-me de “Papo de esquina”, com a participação do Erasmo. Como é um ritmo ‘country’, o ideal era mesmo aproveitar músicos americanos, mais familiarizados com essa levada. Aconteceu o mesmo com “Volver”, em que usamos músicos que estavam acostumados a tocar tango.”

A versão de “Si el amor se va” tem uma parceria do Roberto com o Carlos Colla, a primeira dos dois, que voltaram a fazer a versão de “Se você quer”. Roberto tinha começado a fazer a versão da letra de Bebu Silvetti sozinho, mas com o início das gravações ele não conseguiu terminá-la. Brincou dizendo que já tinha esgotado todas as imagens sobre a mensagem da letra. Então, quando sentiu que não tinha saída, recorreu à ajuda do Carlos Colla, que encontrou soluções sensacionais. Com a música pronta, Roberto comentou que demoraria um ano e não acharia soluções encontradas por Carlos Colla.“Se você disser que não me ama” foi gravada em Los Angeles com um belo solo de violão de Ramón Stagnaro que é peruano e na época não era muito conhecido nos Estados Unidos.

“Hoje é quase impossível chamá-lo, devido aos inúmeros compromissos. Neste disco novo, de 95, ele fez o solo de “Amigo não chore por ela”, em Los Angeles, e no dia seguinte voou para uma excursão pela Europa. Para “Se você disser que não me ama” Ramón gravou cinco solos lindos e foi difícil optar pelo original.”

Em 1989 tem “Sonrie”, que é uma versão de “Smile”, de Charles Chaplin.

“Foi uma emoção muito grande, porque gravamos essa música num estúdio em Los Angeles que antes era a casa de Chaplin. Como virou patrimônio histórico, ela não pode ser alterada. Então tudo o que a gente vê nos filmes do Carlitos está lá, continua intacto. Também em 89 Roberto gravou “Nem às paredes confesso”, que foi uma sugestão minha, porque gostamos muito de músicas portuguesas. Fizemos uma seleção de fados e optamos por esse, que é lindo.”

No disco de 90, Mauro só participou da gravação de “Por ela”, que deveria ter sido gravada um ano antes. Foi uma sugestão da Sony International. A versão é do Biafra e Aloísio Reis. Em 89, a base estava pronta mas a letra não havia ficado como Roberto queria.

“É uma música muito forte e muito difícil de cantar. Ela começa numa região muito grave, depois tem umas notas muito agudas, mas ficou muito bonita.”

Em 91 houve uma influência sertaneja no disco do Roberto. Mas “Todas as manhãs” não foi feita com esse sentido.

“Eu já conhecia essa música há alguns anos, mas ela não estava pronta. Em algumas faixas, como “Se você quer”, que Roberto canta com a Fafá de Belém, tem um pouquinho de sertanejo. A admiração de Roberto pelas duplas sertanejas é muito grande. Ele sempre comenta sobre os trabalhos do Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Zezé Di Camargo & Luciano, e, além de falar com muito respeito dessa turma, ele também admira esse tipo de voz. “Todas as manhãs” virou uma música sertaneja por causa do refrão, mas o ritmo era outro. Depois que ele chegou no estúdio foi que a música caminhou para esse lado. Já “Se você quer” foi uma música que ele tinha gravado alguns meses antes no seu disco em espanhol, com a Rocio Ducal, e a adaptação teve a ajuda do Carlos Colla. Mas esse disco não é totalmente sertanejo. Por exemplo, “Luz Divina” já é meio rock, lembra um pouco os roqueiros antigos. Em termos de repertório, o disco é um pouco misturado. “Diga-me coisas bonitas” tem um solo de assobio do Roberto Carlos. Ele já tinha feito coisa parecida em 64 na música “Não quero ver você triste”. O curioso é que ele, quando começou a colocar voz começou a assobiar de brincadeira. Tentamos outro tipo de solo mas desde o início eu gostei e estava disposto a deixar na gravação. Aquilo foi pura brincadeira dele. A gente grava a música numa série de canais e logo num dos primeiros ele estava assobiando a melodia, e eu falei para o técnico não fechar o canal. Eu disse: Deixe ele seguir, deixe ver ate onde vai dar. E ficou assim, natural, de improviso.”

A partir de 1992 vem “Mulher pequena”, “Coisa bonita” e “O charme dos seus óculos”.

“São músicas mais comerciais de que não há muito a falar. “Mulher pequena”, por exemplo, é uma homenagem, mas ele poderia ter colocado qualquer outro tipo de mulher. Muito atentamente, ele observou o grande número de mulheres pequenas que existem no mundo, até mesmo nos Estados Unidos. Ele até brincava dizendo que tem mulher pequena à bessa no mundo, citando o seu próprio caso, em que sua mulher, Maria Rita, e sua secretária Carminha são baixinhas.”

Ainda em 92 tem a gravação em espanhol de “Una en un millón”, que ele já tinha lançado no Exterior antes.

“É uma música muito bonita e que foi colocada no disco para completar o número de faixas. Para um disco ser bem feito você precisa no mínimo de seis meses. Não se pode fazer um disco bem feito em três ou quatro meses, e às vezes a gente corre contra o tempo. Quando estamos gravando lamentamos não termos mais 15 ou 20 dias; sempre fica faltando tempo. E por isso em alguns casos recorremos a gravações que ele já tinha lançado no Exterior, em espanhol. Nos últimos anos tivemos que lançar nove músicas pois o repertório em castelhano estava esgotado.”

Em 93 tem a belíssima “Nossa Senhora”, com a estréia do Tutuca, tecladista da banda do Roberto Carlos, como arranjador.

“Tutuca estava gravando com a gente. A primeira música que Roberto grava é sempre a mensagem, e ele nos mostrou a canção. Como Tutuca também é muito religioso – essas coisas são de Deus – ele começou a tocar “Nossa Senhora” fazendo um piano-guia sem muito trabalho, uma bateria. Depois aproveitando a boa idéia resolvemos colocar as cordas, mas sem nenhum compromisso. Aí ouvimos, achamos lindo e ficamos felizes com o trabalho. Mas aquilo era uma idéia preliminar, tanto que gravamos também um arranjo do Charlie Callelo, para termos outra opção, pois é difícil gravar uma música sem ouvir mais de um arranjo, mas depois de a ouvirmos muitas vezes decidimos colocar o arranjo do Tutuca, que encontrou uma maneira espontânea e bonita. Só existe a explicação de que guiado por Deus e Nossa Senhora esse arranjo soava perfeito para a música. O arranjo do Charlie Callelo era muito bonito mas o do Tutuca, que partiu de uma idéia preliminar, encaixava melhor na música. Então preferimos ficar com o dele.”

Ainda em 93 Roberto começa as regravações, com “Se você pensa”, e depois “Custe o eu custar” e “Quase fui lhe procurar”.

“Algumas pessoas já me perguntaram se Roberto não poderia regravar todos os seus sucessos. Isso seria impossível pois são inúmeros. Então, por causa disso, como os fãs querem ouvir a mesma música com outras gravações, começamos e nos preocupar com isso e a fazer uma revisão, ou seja, pegar uma ou outra música e dar uma outra forma, mais atual, sempre com a idéia de não se perder o teor original, pois um original bem feito de um sucesso fica eternizado. Então, em 93 começamos a regravar já que existem muitos pedidos nesse sentido.”

Em 94 vem o Roberto Carlos meio árabe em “Quero lhe falar do meu amor” em um ritmo que lembra um pouco a dança do ventre.

“Nós não fizemos a música nesse sentido mas a dança do ventre é um ritmo oriental, meio árabe. A tendência rítmica árabe tem um pouco disso de odaliscas. Nós buscamos um ritmo que se adaptasse àquela melodia.”

Também nesse disco tem uma música do Beto Surian, “Silêncio”. Como foi a primeira música do Beto que Roberto gravou, as pessoas às vezes pensam que é um novo compositor.

“O Roberto já conhece Beto há uns 30 anos. A pedido do Roberto, Beto Surian, gravou um disco na antiga CBS. Não foi bem divulgado e não teve sucesso. Quando a fita de “Silêncio” apareceu no estúdio as opiniões foram unânimes de que a música era bonita. Inclusive nos preocupamos em obedecer a idéia que ela tinha na fita demonstrativa. O que o Beto tinha feito em casa era muito bonito. Praticamente colocamos uma xerox da idéia dele no arranjo, apenas como mais riqueza.”

E agora veio o novo disco. “Amigo não chore por ela” foi feita pelo Roberto na época de “Todas as manhãs” mas ela não estava pronta, então ele foi adiando o lançamento até encontrar o refrão ideal.

“As pessoas podem estranhar que Roberto às vezes demore tantos anos para gravar certas músicas. Como se fala na gíria, ele tem um baú cheio de canções, ideias, melodias. Tem algumas bases já gravadas, outras só com play-back, mas não tem nenhuma canção totalmente pronta. Ele guarda tudo numa pasta: papéis, partituras, fitas K-7. Há uma música que eu queria que ele gravasse e que até hoje ele não conseguiu. Isso já tem uns 10 anos. A idéia é mais-ou-menos sobre a carreira dele, tem um pedaço que fala “o pintor faz o seu quadro, o pedreiro faz o pão, e eu faço música”. A idéia é fantástica, num ritmo bastante rock. Tem uma outra que fala de ‘bouganvilles’, que é um tema lindo. E outra, com o título “Caso complicado”, já está em play-back, mas ele esbarra na letra porque ele fez uma e depois disse que não vai cantar porque não é o que pensa. Acredito que para o ano que vem ela esteja lançada. Já existem muitos play-backs gravados sem voz. Lembro aqui que “Símbolo sexual”, por exemplo, tinha um teste que depois ele apagou para não ficar um registro do que não ia valer.”

“Prá ficar com você” é a segunda parceria de Mauro Motta com Carlos Colla que Roberto gravou. A outra foi “Se você pretende”, em 89.

“Eu tinha apresentado a ele uma outra música. “Prá ficar com você” eu tinha mostrado há alguns anos e na época ele não gravou. Quando eu apresentei essa canção, de que não me lembro o nome, ele me falou que preferia gravar “Prá ficar com você”. Aí eu disse: Bicho, mas e a nova? Ele, brincando, respondeu que eu entendia de produção, de música quem entendia era ele.”

A música que Mauro Motta mais gosta do disco de 95 é “O coração não tem idade”, mas ele fala de “O charme dos seus óculos”.

“Ela tem um ritmo bem rockão, tipo as músicas gravadas pelo Erasmo. É um tipo de rock da dupla, que tem ritmo balançado, sem ter uma forma pesada.”

“Sonho de amor” tem mais uma trinca nova em termos de Roberto Carlos: Fernando Souza, Mário Avelar e Edilson Campos.

“Fernando Souza é um baixista que já toca nas gravações há alguns anos, e ele nos apresentou essa canção que fez com Mário Avelar e Edilson Campos. Gostei muito e ao selecionarmos a última música para o disco “Sonho de amor” era a que ficava melhor na proposta. Também tínhamos canções do Paulo Sérgio Valle, do Marcos Valle, do Altay Veloso, mas optamos pela do Fernandinho, que pela primeira vez participa do disco como compositor. As outras tinham características musicais parecidas com as já gravadas.”

Como religioso, ele não poderia deixar de falar de “Quando eu quero falar com Deus”.

“Quando a gente pode divulgar a palavra de Deus, melhor para todos nós. E nisso Roberto é perfeito Observo Roberto cada vez mais entregue às coisas de Deus, em suas atitudes e pensamentos. Ele já me disse: “Procuro proceder como Jesus faria”. E me pergunto como Jesus faria em cada situação? Sempre o vejo pensando muito no ser humano, no semelhante, com muito respeito. E orando muito por todos, sempre. Pedindo por todos, com muita fé e amor. Ele merece ser, cada vez mais, o que ele é, esse homem iluminado, porque ele é tem uma fé irrestrita. Ele está muito certo!” “Para terminar, gostaria de falar uma coisa de coração, falar da minha felicidade por trabalhar com Roberto Carlos. Ele é uma pessoa muito especial, e Deus sabe o que faz. Não existe uma pessoa tão humana, tão profissional como ele. Eu nunca soube de um artista que durante 30 anos ocupasse o primeiro lugar nas paradas de sucesso de seu país, como acontece com o Roberto. E se isso acontece se deve à sua perseverança e à dedicação que tem ao seu trabalho e a seus fãs.”

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