NAUM ALVES DE SOUZA
entrevista concedida a Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

18.05.2000




Depois de enorme sucesso em São Paulo com casa lotada durante seis meses de temporada no Teatro Popular Sesi,
estreou no Teatro João Caetano, no Rio, o espetáculo de dança “Muito romântico”.
A concepção é do trio Susana Yamauchi, João Maurício e Naum Alves de Souza, o diretor,
com trilha sonora das músicas de Roberto Carlos e com dez bailarinos escolhidos especialmente para esse trabalho.
Em entrevista exclusiva para o Grupo Um Milhão de Amigos,
o diretor Naum Alves de Souza nos falou um pouco do espetáculo e do sucesso de “Muito romântico”.

* Como surgiu a ideia de fazer um espetáculo com músicas de Roberto Carlos?
"NAS" – A ideia surgiu dos coreógrafos João Máximo e Susana Yamauchi, que me disseram que quando pensaram no espetáculo surgiu logo o meu nome. Gostar de Roberto Carlos é um lugar comum mas gostar do ponto de colocar no palco em forma de dança, segundo eles, só eu poderia fazer. Fiquei muito contente com o convite.
* Eles pretendiam fazer um espetáculo baseado em músicas diversas ou só nas canções do Roberto?
"NAS" – Eles queriam especificamente o Roberto Carlos, não queriam mais ninguém.

* Foi fácil o Roberto autorizar o espetáculo, já que ele é muito cuidadoso com a sua obra?
"NAS" – Não, foi muito difícil convencer o Roberto, porque ele não cede os direitos de sua música para qualquer um, o que até acho certo. Eu sei disso porque o mesmo acontece comigo em relação às minhas peças. Não gosto que modifiquem aquilo que eu faço. Roberto foi muito exigente com isso. Quando as negociações estavam difíceis chegamos a pensar em outros cantores, mas não havia jeito, porque queríamos mesmo era fazer o espetáculo com as músicas do Roberto Carlos.

* Como surgiu o título “Muito romântico”?
"NAS" – Primeiro por causa da músicas do Caetano Veloso que ele gravou. O outro motivo é que muito romântico é o próprio Roberto. É ele quem canta todos os amores, todas as dores, todo mundo tem Roberto dentro do coração. É impossível que ninguém tenha uma passagem de sua vida ligada a alguma música do Roberto Carlos.

* Fale um pouco do espetáculo?
"NAS" – Ele apresenta uma técnica de dança moderna e transmite a interpretação do Roberto. A gente não procura mostrar o que a letra diz em forma de dança mas sim colocar no palco o sentimento do Roberto. Pegamos diversas fases da sua carreira, desde a Jovem Guarda até as músicas mais atuais, destacando sempre o lado sentimental. Há passagens alegres das músicas adolescentes, há músicas de amores contrariados e às vezes até um pouco a tristeza de algumas canções.

* O que surgiu primeiro, as músicas ou o roteiro?
"NAS" – Selecionamos nossas preferidas para daí selecionarmos as músicas para compor o espetáculo com apenas dezenove canções, e muita coisa teve que ficar de fora, inclusive a minha preferida, “Detalhes”, que o Roberto pediu que não fosse colocada no roteiro. Depois foi pensar em como colocar no palco. Pensamos em forma biográfica ou então cronologicamente, o que seria começar pela Jovem Guarda.

* Pelo que vi nenhum desses dois critérios acabou sendo usado.
"NAS" – Você tem razão. O que acabou predominando foi que se tentasse dar um equilíbrio ao espetáculo, com músicas mais agitadas alternadas com outras mais românticas. Por isso resolvemos não fazer nenhuma ligação entre um quadro e outro. Cada coreografia tem seu estilo, às vezes ela é triste, outras vezes fala de solidão. Há cenas maliciosas, de saudade, de amores que não deram certo.

* Porque na trilha sonora entraram outros cantores e não apenas o Roberto Carlos cantando as suas músicas?
"NAS" – Resolvemos alternar as canções, escolhendo cantores da nova geração. Eu fique muito impressionado ao ver que esses jovens cantores também são apaixonados pela obra do Roberto Carlos. Eles fizeram gravações muito bonitas, sem desfigurar as canções. Eu ouvi algumas músicas já gravadas do repertório do Roberto Carlos e não gostei porque ficaram muito diferente das gravações dele.

* Você também colocou músicas de outros compositores?
"NAS" – Engraçado que quando escutamos as músicas de outros compositores gravadas pelo Roberto dá para perceber que eles estavam escrevendo músicas para ele. É uma coisa impressionante a presença do Roberto Carlos nas canções, ele canta de um jeito tão particular que acabam virando músicas dele.

* Além de “Detalhes” ele pediu que mais alguma música não fosse incluída no espetáculo?
"NAS" – Não, mas nós resolvemos não colocar “Quero que vá tudo pro inferno”, porque sabemos que ele não deixa mais ninguém gravar essa música. Nós tínhamos vontade de colocar porque é uma música gostosa, mas já sabíamos que ele não ia deixar, por isso descartamos logo de saída.

* Por que não entrou nenhuma música religiosa do Roberto?
"NAS" – Por respeito ao Roberto Carlos foi a única fase que não entrou. Isso é uma coisa muito particular dele e por isso nós evitamos mencionar.

* Como está sendo a aceitação do público?
"NAS" – Em São Paulo foi um grande sucesso, mais de quarenta mil pessoas viram “Muito romântico”, e não é normal um espetáculo de dança ficar quase seis meses em cartaz. O público que foi ao teatro adorou. É um espetáculo muito simples, como o Roberto, fala coisas profundas de uma forma simples.

* Você tem consciência de que muita gente está indo por ser um espetáculo de canções do Roberto Carlos?
"NAS" – Sem dúvida, e eu acho que a força do Roberto é muito grande para o sucesso de “Muito romântico”. Eu considero um elemento nacional, pois não gosto do termo monumento nacional. Roberto é um brasileiro que fala à nossa alma da maneira mais comum e mais simples.

* Como você observa o Roberto Carlos como ser humano?
"NAS" – Ele é aquilo que ele canta. Roberto canta tão bem músicas religiosas porque ele é um religioso de verdade. Tudo nele é muito sincero, o que é raro hoje em dia.

* Como foram os contatos com a equipe do Roberto Carlos?
"NAS" – Infelizmente não estivemos com ele e nem o conheço pessoalmente. Na época em que o espetáculo foi desenvolvido ele estava envolvido com os problemas de saúde da Maria Rita. Todo contato foi feito através da Sandra, que trabalha na RC Produções Artísticas, da secretária do Roberto, a Carminha, e da Ivone Kassu. As três nos ajudaram muito quando as negociações ficaram difíceis. Um dia resolvei escrever uma carta para ele, falando da sinceridade e da qualidade do projeto, e a partir dessa carta as coisas se desenvolveram com mais facilidade. O Dudu também nos ajudou muito e chegou a assistir o espetáculo com sua esposa e gostou muito.

* Quais os planos para depois da temporada no Rio?
"NAS" – Nós pretendemos levar o espetáculo para algumas cidades do interior de São Paulo e para algumas capitais brasileiras. Há um empresário interessado em levá-lo para a Europa.

* Existe a possibilidade de ser lançado um CD com a trilha sonora do espetáculo?
"NAS" – Já tivemos uma conversa com o Dudu, que se mostrou interessado na ideia. Se o disco for lançado será muito bom para a divulgação e também porque as gravações feitas especialmente para ele estão muito bonitas.

* Como você define Roberto Carlos?
"NAS" – Eu acho que ele é fundamental para a música brasileira. Eu considero o Roberto e o Chico Buarque dois pilares da MPB. Não conheço Roberto pessoalmente, só o assisti em shows, mas acho que ele é o cantor que atinge mais longe a compreensão do povo. Não é possível uma pessoa ter uma carreira tão longa omitida pelos “intelectuais”. Mesmo aqueles que o esnobam têm alguma coisa do Roberto Carlos dentro de si.

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