PAULINHO FERREIRA
entrevista a Carlos Eduardo F.Bittencourt
exclusiva para o Grupo Um Milhão de Amigos

13.01.2002




O guitarrista Paulinho Ferreira é um dos nomes mais constantes
entre os músicos dos últimos discos de Roberto Carlos.
Desde 1992 ele tem acompanhado Roberto em suas gravações, em solos de várias músicas muito conhecidas,
como “Alô”, “Amor sem limite” e outras.
Paulinho também tem participado dos últimos Especiais de Roberto Carlos na TV Globo
e com freqüência está presente nos shows do Rei.


* Como a música começou a fazer parte de sua vida?
"PF" – Aos cinco anos de idade eu comecei a aprender acordeon com meu pai, que era professor. Quando completei dez anos ganhei uma guitarra de presente de um amigo. A partir daí comecei a participar de um conjunto, que costumamos chamar de “conjunto de garagem”, e passamos a tocar em bailes. Quando eu já estava com dezoito anos, o conjunto começou a gravar com pastores evangélicos. Através dessas gravações eu conheci pessoas do mundo artístico e logo depois eu estava gravando com quase todos os cantores e duplas sertanejas que gravavam em São Paulo: Roberta Miranda, Chitãozinho & Xororó, Leandro & Leonardo, Zezé di Camargo & Luciano. Também trabalhei durante oito anos com a Fafá de Belém.

* Nesse início de carreira, qual era o seu contato com a música do Roberto Carlos?
"PF" – Na época da Jovem Guarda eu tinha dez, doze anos, e já acompanhava a carreira do Roberto Carlos. Eu já era seu fã, gostava muito de ver e ouvir Roberto tocando guitarra, e quando iniciei na música eu tinha o sonho de um dia poder gravar com ele, pela sua carreira, pela importância dele na música brasileira, até mesmo pela liderança que ele tinha entre os jovens daquela época.

* Um dia esse sonho virou realidade, mas passava mesmo pela sua cabeça que você chegaria a gravar com Roberto Carlos?
"PF" – No início não, mas depois que comecei a gravar com vários artistas já consagrados eu comecei a achar que esse sonho poderia se tornar realidade. Claro que no início da minha carreira eu achava essa possibilidade muito difícil, algo quase impossível.

* Você hoje faz parte da banda do Chitãozinho & Xororó e quando tem oportunidade toca no RC-9. Como veio o convite para fazer parte da banda da dupla sertaneja?
"PF" – Eu já gravava com o Chitãozinho & Xororó em estúdio , mas eles ainda não tinham alcançado o sucesso que têm hoje. Seus shows eram em espaços reduzidos e com uma banda menor. Com o estouro da música sertaneja no país, eles aumentaram o número de componentes da banda e me chamaram. Na época eu tocava com a Fafá, mas preferi trocar a banda dela para acompanhar Chitãozinho & Xororó, e já os acompanho em shows há dez anos.

* Quando surgiu o convite para gravar com o Roberto Carlos?
"PF" – Há alguns anos o Eduardo Lages foi convidado para fazer um arranjo para o disco do Chitãozinho & Xororó, e foi naquela época que o conheci. Eduardo gostou do meu trabalho e meu convidou para participar de uma gravação com Roberto Carlos. Eu não me lembro bem qual foi a música, nem o ano, mas isso deve ter uns oito para dez anos. (NR: pelas fichas técnicas dos discos de Roberto Carlos, a primeira vez que Paulinho Ferreira gravou com ele foi no CD de 1992, participando das músicas: “Você é minha”, “Mulher pequena”, “Dito e feito” e “Dizem que um homem não deve chorar”).

* Qual foi a sensação de gravar com Roberto Carlos pela primeira vez?
"PF" – Roberto logo me impressionou porque a voz guia dele era perfeita, poderia ser colocada direto no disco. Para quem não sabe, a voz guia é quando o cantor canta apenas para que o músico possa ter um acompanhamento na hora de gravar o instrumento, e muitas vezes o cantor nem canta da forma como grava. Mas a voz guia do Roberto era perfeita e isso me deixou muito impressionado.

* Qual foi a sua primeira participação em shows do Roberto Carlos?
"PF" – Foi no Especial da TV Globo, só não me recordo o ano. Foi muito emocionante para mim, foi a realização do sonho de criança.

* Como você consegue conciliar as datas dos shows do Chitãozinho & Xororó com as do Roberto Carlos?
"PF" – Nos meses de janeiro, fevereiro e março Chitãozinho & Xororó entram de férias e nesses meses costumo acompanhar Roberto Carlos, participando do RC-9. Nos outros meses, eu só acompanho o Roberto quando ele faz shows em dias que a dupla Chitãozinho & Xororó não tem compromissos.

* Há possibilidade de você vir a ser efetivado no RC-9, banda do Roberto Carlos?
"PF" – Não vou negar que penso realmente nessa possibilidade, mas é uma coisa que tem que ser feita com calma e amigavelmente. Eu faço parte da banda do Chitãozinho & Xororó há dez anos, trabalho com eles em estúdio há cerca de vinte anos e não gostaria de magoar ninguém. Vamos ver o que acontece nos próximos meses. Essa troca é uma coisa normal em qualquer profissão. Se existe uma proposta de trabalho melhor para a sua carreira, você tem que aceitar. O certo é que até março, com as férias do Chitãozinho & Xororó, eu fico acompanhando o Roberto.

* Por participar de vários shows do Roberto, você já se considera integrante do RC-9?
"PF" – Eu estou bastante integrado na equipe do Roberto Carlos, inclusive com os músicos da banda, e mesmo não participando constantemente dos seus shows, eu me sinto integrante do RC-9. Várias pessoas já me reconhecem pelas participações em shows e Especiais do Roberto Carlos. Na época da gravação dos Especiais da TV Globo muita gente me pára na rua dizendo que me viu na televisão, principalmente as pessoas que trabalham perto da minha casa: o jornaleiro, o padeiro, o rapaz que lava meu carro. O ambiente da produção do Roberto é muito bom, e me sinto bastante à vontade com todos.

* Atualmente você é um dos músicos que mais participa dos discos do Roberto Carlos. Como é a sua participação nos CDs?
"PF" – Todo disco se inicia pela base, e a partir dela é que a música começa a ser elaborada. É um processo bastante demorado. Como a guitarra e o violão fazem parte da base, eu participo de quase todo o processo de gravação. Depois da base gravada, começam a se criadas as coberturas, que são as cordas, os solos, a percussão, e quase sempre eu sou chamado para fazer os solos de guitarra em algumas músicas. Depois da parte instrumental pronta é que o Roberto coloca a voz. Em seguida vem a mixagem. A gravação de um disco é um processo bem demorado, e vocês sabem que Roberto é bastante perfeccionista. É bom porque ele gosta de um trabalho perfeito, mas isso faz com que as gravações fiquem mais demoradas.

* De todos os solos de guitarra que você fez nos discos do Roberto Carlos, qual o que você mais gosta?
"PF" – Gosto muito do solo da música “Alô”, também acho muito bonito o solo de “Amor sem limite”. Mas eu não costumo ter muita preferência, pois cada solo tem seu momento e quando eu estou tocando, criando, acabo tendo um carinho especial por cada um.

* Esse processo de criação é seu ou você segue a orientação da produção do disco?
"PF" – Quando eu faço um solo, geralmente apresento várias opções, vários solos diferentes para um ser escolhido. Há músicas em que o Roberto, o Mauro Motta e o Eduardo Lages me dão sugestões, e isso faz com que o trabalho acabe sendo feito em grupo. Através do palpite de cada um eu vou criando o solo desejado. Mas existem alguns que são criados por mim.

* Qual foi a música que deu mais trabalho no processo de criação?
"PF" – A música “Alô”, pois tive que criar várias versões com tons diferentes, repetir o mesmo solo com outros acordes. Para se chegar ao desejado você acaba sendo obrigado a repetir várias vezes, e como o Roberto testou quatro versões diferentes de tons para a música “Alô” foi o trabalho que demorou mais.

* Você participou do show do Roberto Carlos no Recife, quando ele voltou aos palcos depois de quase um ano afastado. Como foi a preparação para aquele show?
"PF" – Foi um show bastante tenso para nós. Mas a tensão maior foi porque tivemos pouco tempo de ensaio, apenas dois dias. Era inicio da temporada do “Amor sem limite”, e por isso estávamos meio inseguros. Particularmente, apesar de todo processo doloroso pelo qual o Roberto estava passando, eu tinha a certeza de que ele faria o show até o final. Não me passava pela cabeça a ideia de que ele não conseguiria cantar o show inteiro. Mesmo quando ele parou algumas vezes porque não conseguiu conter o choro, sempre acreditava que com a sua técnica ele iria conseguir superar a emoção que estava sentindo. É claro o momento pelo qual ele passava era muito delicado, mas quando Roberto sobe no palco ele consegue ter uma força superior e supera tudo.

* A gravação do disco “Amor sem limite” também foi complicada?
"PF" – Sem dúvida, foi um disco mais demorado que os outros. O próprio processo de composição deve ter sido mais complicado para o Roberto porque ele queria falar sempre do amor de uma maneira positiva. Em relação à minha participação, não tive maiores problemas. Acho que a maior dificuldade deve ter sido na colocação da voz. Graças a Deus no final deu tudo certo e ele conseguiu fazer um disco bem bonito.

* Como é o clima de gravação dos discos do Roberto Carlos?
"PF" – É muito gratificante. Ela corre num clima de muita tranqüilidade e de amizade, apesar de a gravação de um disco ser um processo demorado e o do Roberto sempre demora um pouco mais. Mas isso não é só com o Roberto Carlos. Nas gravações com o Chitãozinho & Xororó acontece a mesma coisa. Eu me lembro de uma vez em que fiquei doze horas no estúdio com eles e nessas dozes horas não gravamos nenhuma música. Gravar com o Roberto Carlos é muito agradável, o clima é de muita calma, amizade e tranqüilidade. Ele é exigente mas nos dá o tempo de que precisamos para a elaboração de um arranjo ou de um solo. Mas sempre sobra tempo para uma conversinha, uma brincadeirinha.

* Quantas horas por dia vocês costumam passar em estúdio?
"PF" – Depende muito do cronograma do disco. No começo até que a gente não fica muitas horas gravando, mas quando se aproxima a data marcada para entregar a matriz à gravadora, às vezes ficamos até de madrugada gravando. O normal de uma gravação é de oito a doze horas por dia, mas os técnicos, o produtor e o Roberto passam mais tempo porque ficam cuidando de outras coisas, como mixagem, arranjo vocal, e às vezes até mesmo de fotos e da parta gráfica da capa.

* O que significa para a sua carreira fazer parte do RC-9?
"PF" – Acrescenta muito, tocar com o Roberto Carlos valoriza qualquer profissional, você acaba ganhando reconhecimento dos outros músicos. Até os grandes nomes da música brasileira são fãs do Roberto Carlos. Chitãozinho & Xororó já declararam isso em público. Tocar com Roberto Carlos é um reconhecimento que você passa a ter por causa da carreira dele, e como o Roberto é muito exigente consigo mesmo, nós temos que ser bastante profissionais, o que nos valoriza ainda mais.

* Vamos falar um pouco do novo disco do Roberto?
"PF" – Nós levamos um mês de ensaios diários. Como as músicas eram mais ou menos conhecidas, ficou fácil elaborar os arranjos criar um solo. Trinta dias ensaiando foi um tempo até longo demais. Quando gravamos o disco, praticamente já sabíamos tudo de cor.

* Roberto gravou dezessete músicas mas no disco só foram lançadas quatorze. Vocês chegaram a ensaiar outras músicas além das dezessete?
"PF" – Roberto chegou no estúdio com o repertório praticamente pronto, mas chegamos a ensaiar algumas outras músicas, que por um motivo ou outro ele desistiu de gravar. “Fera ferida”, por exemplo, nós chegamos a ensaiar bastante. Ela foi retirada do repertório minutos antes do primeiro dia de gravação. Outras músicas Roberto também resolveu não gravar logo no primeiro ensaio, porque não ficaram boas. Esse processo de escolha é super normal num disco. Agora, não sei qual foi o seu critério para deixar de fora as três músicas que chegamos a gravar e que não foram colocadas no CD.

* Vamos falar um pouco da música “Por isso corro demais”, em que você faz um solo de violão e é um dos momentos mais bonitos do Acústico.
"PF" – Antes de ensaiar as músicas para o Acústico, a gente ouvia as gravações originais e tentávamos procurar uma forma diferente para cada composição. Na gravação original de “Por isso corro demais” tem um solo de teclado, e eu comecei a criar um solo de violão em cima da melodia original. Quando eu fui para o hotel, fiquei pensando em como poderia fazer algo diferente e consegui tirar aquele solo. Acho que ficou bonito demais.

* Depois do disco já gravado, você chegou a modificar alguma coisa em estúdio?
"PF" – Eu fui chamado apenas para refazer o violão em “Detalhes”, porque havia um problema na harmonia. Da minha parte, só fiz isso.

* Existe uma curiosidade muito grande dos fãs sobre o disco sertanejo que Roberto começou a gravar e ainda não lançou. Você chegou a participar da gravação?
"PF" – Eu fiz algumas bases, mas já faz tanto tempo que nem me lembro quais foram as músicas. Pelo que sei só as bases de seis ou sete músicas é que estão prontas. O disco ainda está muito no início e não dá para se ter uma ideia de com ele ficará. Assim como vocês estão ansiosos eu também espero que ele volte a trabalhar esse disco, porque o que foi gravado até agora está muito bonito.

* Todo fã de Roberto Carlos fica na expectativa de o disco chegar às lojas. Vocês, músicos, também passam por esse processo?
"PF" – Com certeza, e principalmente em relação a esse disco acústico, já que foi um trabalho diferente na carreira do Roberto Carlos. Falaram que ele seria lançado em setembro. Todos nós tivemos que esperar bastante. A nossa expectativa é igual à de vocês.

* Outro dia foi publicado que Roberto pretende começar um novo disco em maio, já houve algum contato com você?
"PF" – Comigo até agora não. Eu só sou chamado a participar do disco quando ele já tem o repertório escolhido. Em maio Roberto deve começar a escolher as músicas, compor com o Erasmo ou sozinho, trocar ideias com o produtor, e esse processo é muito trabalhoso. Geralmente eu começo a gravar em julho, quando já existem algumas músicas prontas, e fico com ele em estúdio até dezembro.

* Como vocês encaram o perfeccionismo do Roberto Carlos?
"PF" – Como uma coisa normal. Roberto quer sempre dar o melhor para o fã. Acho isso super normal, e no estúdio e no palco nós queremos que o trabalho fique do jeito que ele goste. Isso não acontece só com o Roberto Carlos; acontece também com outros artistas. Trabalhar com Roberto Carlos é ate mais fácil do que trabalhar com o Chitãozinho & Xororó. No caso deles é mais complicado, porque são dois cantores e às vezes eles até têm ideias diferentes sobre o trabalho. Existem casos em que fica até mais difícil haver um entendimento. Com o Roberto é mais fácil, pois é uma pessoa quem decide tudo.

* Qual a música do Roberto Carlos de que você mais gosta?
"PF" – Há músicas do Roberto Carlos que fazem parte da minha infância, da minha carreira, porque foram gravadas quando eu estava aprendendo a tocar violão. Uma delas é “Por isso corro demais”, em que tive até uma participação importante na versão acústica. Também gosto muito de “Detalhes”.

* Como você define Roberto Carlos?
"PF" – Um cara super-bacana, super-amigo, tanto é que há pessoas na equipe que trabalham com ele há mais de trinta anos. Se o Roberto não fosse uma pessoa agradável, boa de se conviver, não tinha tanta gente trabalhando com ele há tanto tempo. Roberto Carlos trata todo mundo da mesma forma carinhosa, dá atenção a todos e é um ótimo cantor, um ótimo compositor. Eu tenho orgulho de trabalhar com o Roberto e tenho o maior respeito por ele, como pessoa e como artista.

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