ROBERTO CARLOS
Transcrição: Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

1979




Em 1979 Roberto Carlos foi entrevistado por alguns fãs no programa Studio Free.
Foram feitas perguntas sobre os mais diferentes temas.
Você vai saber agora o que Roberto falou para seus fãs.

* O que a Edi Silva representou na sua carreira?
"RC" – Ela foi uma moça que teve uma importância muito grande na divulgação do meu trabalho, dos meus discos em São Paulo. Até então eu era conhecido no Rio e em outras partes do Brasil, mas não tinha o reconhecimento dos paulistas. A Edi era divulgadora da CBS. A grande importância dela era porque além de responsável pela divulgação dos discos, além de colocar o lado profissional, ela colocou um carinho muito grande. Ela assumiu o trabalho com um compromisso de fazer uma super-divulgação. A Edi fez seu trabalho com muito amor.

* Quantos anos você tinha quando fez seu primeiro show, e qual a música que cantou?
"RC" – Não me lembro, exatamente, quando foi o meu primeiro show, porque a primeira vez em que cantei em rádio foi em Cachoeiro. Tinha nove anos de idade e a música foi uma gravação do Gregório Barros, “Amor y más amor”. Depois disso, comecei a fazer shows, me apresentei nas festas de Cachoeiro e em outras cidades do Espírito Santo. Em seguida fui para Niterói e comecei a tentar a vida artística naquela cidade. Com 14 para 15 anos, já no Rio de Janeiro, comecei a participar de shows, com o Carlos Imperial. Assim é muito difícil falar do primeiro show e da música que cantei. No Rio, integrei o conjunto Os Sputniks, com o Erasmo Carlos, o Arlênio Lívio, o Trindade e o China.

* Você tem mágoa do Carlos Imperial?
"RC" – Não, porque na realidade eu nunca entendi muito bem o que ele queria dizer em certas declarações. O Imperial, às vezes, me parece um agitador na área artística, levanta muita polêmica. Sempre leva as coisas na brincadeira. Ele gosta muito de falar coisas que sente no momento. Não quero dizer que tenha algo contra ele. Sempre que me encontro com o Imperial nos tratamos muito bem e acho que as declarações dele são muito mais profissionais do que pessoais. O Imperial me ajudou muito no início da carreira e não posso me esquecer disso.

* Existe diferença entre o Roberto Carlos cantor e o pai de família?
"RC" – O Roberto Carlos é um só, seja na vida profissional, seja na vida particular. Eu sou um ser humano, e uma coisa é muito em função da outra. Sou um artista exatamente como sou fora do palco, principalmente em termos de sentimento. Agora, logicamente, cada coisa no seu lugar: a hora de trabalhar é a hora de trabalhar; hora de estar em casa é hora de estar em casa, e assim sucessivamente. Mas isso não quer dizer que o artista seja uma pessoa diferente em sua vida privada.

* Existe diferença entre seu público da Jovem Guarda e o atual?
"RC" – Naquela época, meus fãs eram muito jovens. O público da Jovem Guarda tinha em média 10 a 20 anos. Hoje, não; é um público mais misturado. Ainda tem pessoas daquela faixa etária mas a maioria fica entre 30 e 40 anos. Naturalmente que as pessoas que tinham 20 anos nos anos 60 hoje estão com cerca de 50 anos. Isso me deixa feliz porque vejo que muito daquele público tem acompanhado meu trabalho.

* Você acredita que o amor esteja morrendo?
"RC" – Não, não acredito. Talvez o que esteja acontecendo seja que a vida das pessoas, hoje, seja bem diferente da de algum tempo atrás. Hoje temos um outro ritmo de vida, e muitas coisas influenciam. Talvez as pessoas, devido à correria diária, não se preocupem tanto com o amor, mas isso não quer dizer que elas não amem. Para mim, o amor, é o mesmo, tanto é que as músicas românticas têm uma aceitação muito grande no mundo inteiro. Isso quer dizer que as pessoas continuam amando.

* Você acha que o amor pode ser eterno?
"RC" – Eu acho que o amor é um momento, e esse momento pode ser de um segundo ou pode ser eterno. Muitas pessoas costumam definir o amor conforme o tempo que ele dura. Mas eu acho que uma pessoa pode amar outra intensamente nem que seja por cinco minutos. Também pode amar por um ano, por 20 minutos ou eternamente.

* Qual foi o filme que você assistiu e que mais gostou?
"RC" – Eu já curti alguns filmes, como “Verão de 42”, que foi um dos que mais me marcaram. Dos bang-bang, eu gostei de “A força oculta”, com o Marlon Brando. São os dois que me vêm à cabeça agora.

* Você que grava com muitos músicos, quais os da sua preferência?
"RC" – Talvez me falha a memória para dizer o que mais admiro, mas poderia citar o maestro Chiquinho de Moraes, maestro Gaya, César Camargo Mariano e muitos outros. Tem também o Hamilton Broa, no piston, Waldyr Azevedo, Altamiro Carrilho, Copinha. Não posso esquecer do meu conjunto, o RC-9.

* Porque os instrumentistas não têm grandes oportunidades no Brasil?
"RC" – Eu discordo da sua opinião. Acho que eles têm vez, principalmente os bons são reconhecidos. Não sei o sentido dessa pergunta mas eu acho que os músicos instrumentistas têm oportunidades e reconhecimento no Brasil. Eles são reconhecidos lá fora pelo que realizam aqui.

* É verdade que há algum tempo, na Venezuela, quebraram toda a sua aparelhagem porque você se atrasou para um show?
"RC" – Não chegou a ser um atraso, mas um problema entre os empresários. Os promotores quiseram colocar o espetáculo numa casa onde seu proprietário não concordava com o horário. Ele queria o show mais cedo. Para nós foi comunicado que o espetáculo seria às 3h30. Como na Argentina já havíamos feito apresentações nesse horário, pensamos que também seria viável fazer o mesmo na Venezuela. Acontece que a casa divulgou que o espetáculo começaria às 0h30, e o público chegou ao local às 21h.

* Quantos irmãos você tem. Quais os nomes e qual o que você tem maior afinidade?
"RC" – São três: Lauro Roberto, Norma e Carlos Alberto. A minha afinidade com eles é a mesma; eu os amo da mesma forma.

* Qual foi o seu primeiro carro?
"RC" – Foi um Fusquinha 1960. Eu o comprei em São Paulo. Acho que ele era cinza e depois pintei de creme, que era a cor da moda.

* Qual o seu grande ídolo?
"RC" – Tenho vários. O primeiro foi o Bob Nélson, quando eu tinha cerca cinco anos. Depois vieram Elvis Presley e os Beatles. Atualmente eu tenho um carinho muito especial pelo Tony Bennett.

* Para você, o que significa a palavra natureza?
"RC" – A palavra já diz tudo. A natureza é tudo que você tem de forma natural. É tudo que Deus nos deu, que podemos desfrutar: o mar, a fauna, as florestas, as montanhas... São coisas que quando chegamos aqui já encontramos feitas pelas mãos de Deus.

* O que os Beatles representaram para você?
"RC" – Para mim existem duas épocas na música internacional: antes e depois dos Beatles. A importância que eles tiveram para a música de um modo geral foi muito grande. Para mim, em particular, as músicas que fiz e que cantava naquela época tinham uma influência enorme deles, embora eu tivesse minha forma própria de compor e de cantar. Mas a minha geração sofreu grande influência dos Beatles, não só no comportamento musical, mas no dia-a-dia, nas roupas e nos cabelos.

* Você viveria em uma cidade pequena?
"RC" – Viveria sim. Gosto da vida do interior. Fui criado numa cidade pequena, Cachoeiro de Itapemirim. Sempre que vou a uma cidadezinha gosto daquela vida pacata. É claro que moraria, mas tudo isso dependeria dos meus compromissos. É lógico que a distância dos grandes centros onde estão os meus negócios não permitiria que, hoje, eu fosse para o interior. Mas em relação à vida do interior, posso dizer que curtiria muito.

* O que você acha da violência na televisão?
"RC" – É claro que isso me preocupa. Acho que certos exemplos não podiam ser dados através de nenhum meio de comunicação, principalmente pela TV, que é o veículo mais forte. Mas a violência também é divulgada pelos jornais, pelo cinema e nas ruas. De qualquer forma, certos exemplos não poderiam, de forma alguma ser dados por nenhum veículo de comunicação.

* Você ainda tem ilusões?
"RC" – É claro que sim. E graças a Deus. Sou um sonhador e os sonhadores têm sempre muitas ilusões. Sinto-me feliz em ser assim.

* O Erasmo é mesmo seu melhor amigo?
"RC" – O Erasmo é o meu melhor amigo, mas além disso é o maior representante dos meus grandes amigos. Isso quer dizer que tenho outras grandes amizades. A letra da música “Amigo” homenageia Erasmo como representante de todos os outros amigos.

* Como você se sente sendo o maior ídolo da Argentina?
"RC" – Claro que fico feliz com as manifestações de carinho do público em qualquer lugar. E me sinto muito bem com o carinho dos argentinos, que sempre me recebem de uma forma maravilhosa.

* Você pretende fazer programas semanais de televisão como na época da Jovem Guarda?
"RC" – Não que eu não pretenda, mas os meus compromissos não permitem. Naquela época minha vida estava condicionada ao programa, por isso seria difícil, hoje, retornar aquele ritmo. Na realidade, não tenho intenções de fazer programas semanais. Minha participação na TV está dirigida a alguns programas, como “Globo de Ouro” e “Fantástico” e a um Especial por ano.

* Quando você sentiu que era um grande artista?
"RC" – Olha, eu não sei como posso responder esse negócio de grande, de maior, só mesmo o público pode julgar. Mas eu senti que era um artista desde o momento em que disse que queria ser cantor, e acho que isso foi aos nove anos de idade. Eu comecei a cantar muito cedo, com quatro ou cinco anos. Agora, em rádio, cantei pela primeira vez aos nove anos. E até cantar pela primeira vez em rádio, eu achava que iria estudar medicina, talvez por influência da minha mãe. Mas a partir daquele momento eu mudei totalmente de ideia e não tive mais dúvida sobre o queria ser.

* Quem foi a primeira pessoa a te ajudar na carreira?
"RC" – Muita gente... Principalmente no início eu recebi várias ajudas. Uma delas e muito importante foi a do Otávio Terceiro, que me apresentou ao Chianca de Garcia. Foi quando cantei pela primeira vez na televisão. Através dos dois tive minha primeira oportunidade na TV. Outras pessoas foram importantes, mas o Otávio foi essencial porque eu estava começando a carreira, e o programa não era para novos cantores, mas para artistas consagrados.

* Nas horas vagas, qual o seu passatempo preferido?
"RC" – Isso depende. Quando tenho um tempo maior gosto de ir para o mar, pesca, navegar. Agora, isso, naturalmente, não acontece sempre, com a mesma frequência com que estou em casa. Aí, curto muito jogar sinuca.

* Você precisa de inspiração para compor?
"RC" – É claro que sim. Todas as músicas que tenho feito são baseadas em inspiração. O tema vem das observações da vida, das pessoas, dos fatos, das coisas que vejo e sinto. Então, nascem de todas as maneiras. Aí converso com o Erasmo e começamos a compor.

* Por que você é tão sério quando aparece na televisão?
"RC" – Eu não me considero sério na TV, mas, naturalmente, apareço cantando músicas românticas e, no palco, sinto o que canto. Por isso pode parecer que estou sério.

* Cite algumas emoções da sua vida.
"RC" – Foram tantas... Mas não posso esquecer o Festival de San Remo, em 1968, do nascimento do Segundinho, da vez em que voltei a Cachoeiro de Itapemirim para ser homenageado como “Cachoeirense Ausente”, numa festa linda. Também a primeira temporada no Canecão... E muitas outras...

* O que falta para sua realização?
"RC" – Eu não posso deixar de dizer que agradeço a Deus todos os dias as coisas que acontecem comigo, na minha vida particular e na minha carreira. Mas, naturalmente, enquanto a gente está vivo quer realizar alguma coisa a mais. A cada dia penso em fazer uma música nova, cantá-la, me aperfeiçoar na forma de interpretá-la. Penso em fazer uma música que fale e tudo isso. São coisas que gostaria de realizar. Já me sinto bastante feliz com tudo que me acontece, mas enquanto estamos vivos queremos sempre fazer algo mais.



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