* AF - Boa tarde, Roberto.
"RC" - Boa tarde, Ana, boa tarde Paulinho (Paulo Autunian), é um prazer grande estar aqui. Boa tarde amigos da FM 105, boa tarde a todos vocês. Enfim, estou contente por estar aqui para a gente bater esse papo, estou feliz por estarmos juntos.

* AF - Feliz estamos nós por você estar aqui no nosso “Sala de Visitas. Quero lhe agradecer desde já em nome de toda a equipe do Jornal do Brasil, da FM 105, dos amigos que estão presentes e dos nossos ouvintes que estão de bem com a vida. Sempre recebendo esta mensagem do Roberto Carlos e que hoje vão ter o prazer de conhecer o outro lado do Roberto, do Roberto humano, forte, aquela Luz Divina.
"RC" - Obrigado, estou muito contente por estar aqui, muito mesmo.

* AF - São tantas emoções, não são, Roberto? Mas qual foi a maior emoção de sua vida profissional e de sua vida pessoal?
"RC" - É difícil dizer, porque são tantas... O programa “Jovem Guarda” foi uma emoção de dois anos, dois anos e meio, mais ou menos. Depois veio o Festival de San Remo, em 68, uma emoção fantástica. O nascimento dos meus filhos, emoções incríveis. O primeiro show no Canecão, em 1970, o primeiro show que eu fiz produzido, porque antes era uma coisa diferente. Eu acho que ali foi um momento muito importante na minha carreira. O show “Emoções”, também no Canecão, foi uma emoção grande porque no show anterior eu disse que se tivesse uma música chamada “Emoções” esse também seria o nome do show, e na época eu não tinha a música. Três anos depois eu fiz a música e, então, o show se chamou “Emoções”.

* AF - “O importante é que emoções eu vivi”. Você é assim mesmo, Roberto?
"RC" - Sou sim. Essa canção veio de dentro mesmo, e quando digo essa frase no final “o importante é que emoções eu vivi”, é uma coisa que todo mundo deve pensar assim. Porque se choramos, se sorrimos o importante é ter vivido essas emoções, desfrutado delas, ter aprendido como elas, porque a vida é uma escola. Nada se perde, tudo se constrói.

(Nesse momento, Fafá de Belém entra no estúdio para participar da entrevista)
* AF - Roberto, como surgiu o convite para Fafá cantar “Se você quer”?
"RC" - Eu liguei para ela e perguntei se ela gostaria de gravar a música comigo. De repente ela podia não querer cantar a música, mas ela topou. Foi uma coisa gostosa, uma emoção muito grande.

* AF - E para você, Fafá, como foi o encontro com Roberto?
** FB – Foi a maior emoção da minha vida. Eu estava no estúdio gravando o meu disco quando me chamaram dizendo que o Roberto estava no telefone. Na hora não acreditei mas quando ele fez o convite fiquei muito emocionada e também morrendo de medo, porque é uma responsabilidade muito grande cantar com ele, ainda mais no seu disco.

(Agora há um ouvinte, que denominaremos OR no telefone para participar da entrevista)
** OR – Quantos discos você já gravou até hoje?
"RC" - Eu acho que já gravei 33 discos, só LPs. Compactos normalmente são tirados dos LPs. Há muito tempo, quando comecei a minha carreira, fiz alguns compactos com músicas inéditas.

" AF – O que mudou em sua carreira de 1957 para cá, quando você se apresentou pela primeira vez no programa Teletur, na antiga TV Tupi?
"RC" - Acho que apenas a experiência que adquiri, o amadurecimento. A diferença do Roberto Carlos daquela época para o de hoje é apenas a maturidade. Naquela época eu estava começando e de lá para cá muita coisa aconteceu. Como eu disse, a vida é uma escola, a gente aprende muito, e hoje em dia eu tenho mais experiência e maturidade também. Mas as minhas raízes não se modificaram, são as mesmas.

* AF - Há vinte e cinco anos você não visitava uma rádio. Por que essa distância?
"RC" - Tem vinte e cinco anos? Não, eu acho que não tem esse tempo todo, mas sem dúvida tem um tempo grande. Eu acho que realmente é falta de tempo, de oportunidade, de coincidência de datas.

* AF - É verdade que a maior parte do seu tempo você vive dentro do estúdio?
"RC" - Realmente eu vivo grande parte do ano dentro do estúdio porque demoro muito fazendo o meu disco, e eu faço dois por ano, um em português e outro em espanhol. O espanhol a gente antes aproveitava todas as bases do disco em português. Agora coloco algumas músicas inéditas. Então é como fazer um disco novo e meio. Mas as partes mais demoradas do disco são a mixagem, os solos, a voz, alguns detalhes. As bases não demoram tanto; os solos são mais complicados.

* AF - Deve ser uma aula trabalhar com o Roberto, não é Fafá?
** FB – Sem dúvida é um grande aprendizado porque ele é muito detalhista. Tem coisas que passam despercebidas pela gente e que não passam pelo Roberto. Ele é um verdadeiro produtor. A minha voz na música “Se você quer” foi toda produzida por ele.

** OR – Como você se sentiu sendo enredo de uma escola de samba?
"RC" - Foi outra emoção fantástica que eu tive porque jamais havia pensado que um dia a minha vida pudesse ser enredo de escola de samba. Foi algo que me deixou fascinado, e ainda desfilar em carro como destaque da Cabuçu foi maravilhoso. Então foi uma emoção dupla: a primeira ser enredo e a outra desfilar na avenida. Muitos amigos me diziam que desfilar em escola de samba, num carro como destaque, era maravilhoso, mas eu ainda não conhecia aquela emoção. Então conheci mais uma emoção na minha vida e foi uma coisa fantástica ver aquele povo todo na Marquês de Sapucaí, vibrando, cantando... Foi maravilhoso.

* AF - Conta para a gente como surgiu a inspiração para homenagear Caetano Veloso com a música “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”.
"RC" - Uma vez eu estava em Londres, gravando um disco, e visitei o Caetano. Não me lembro que disco foi mas mostrei algumas músicas que estava gravando na época. Foi um papo muito gostoso com ele, com o Gil e com a Wanderléa, que também estava com a gente. Fiquei muito impressionado com o Caetano, com sua sensibilidade, porque nunca tinha tido oportunidade de conversar com ele antes. Tempos depois surgiu o verso “debaixo dos caracóis dos seus cabelos” e a partir daí me veio a ideia de homenagear Caetano Veloso. Aí fiz a letra pensando em todo aquele momento que estivemos juntos.

* AF - Para Caetano você é um ídolo. O que ele representa para você?
"RC" - Caetano também é um ídolo. É uma pessoa que tem me ensinado muito, um artista que tem feito coisas fantásticas. Cada vez que escuto uma nova música dele começo a meditar e encontro muitos ensinamentos para fazer outras músicas. Caetano é um artista fantástico, um homem inteligentíssimo, além de ser uma pessoa maravilhosa, muito dócil.

** FB – Como é seu processo de composição?
"RC" - As ideias pintam em momentos diferentes, inesperados, também em situações variadas. São muitas as formas mas a mais comum é começar a cantarolar alguma melodia que surge de repente. Aí eu gravo num micro-gravador que levo sempre comigo. Às vezes gravo apenas a melodia, outras vezes já gravo o primeiro verso. Mas quando não tem o verso eu coloco essa melodia em um dos temas que estou pensando em desenvolver. A inspiração traz às vezes só a letra, só o tema, o tema junto com a melodia... Isso acontece de várias formas, mas a mais comum é cantarolar alguma coisa já com um pedaço ou com a ideia da letra. Nesse momento de inspiração pode surgir, também, quase que a canção inteira, ou pelo menos a metade dela. Mas depois sempre vem o momento de aperfeiçoar a letra e a melodia. Existe sempre o momento da inspiração e o da transpiração.

* AF - As letras das suas músicas foram ou são vividas por você?
"RC" - Tem coisas que já vivi, coisas que estou vivendo, mas também tem músicas que são frutos da imaginação. Quando gravo uma canção de outro compositor ela tem que dizer coisas que tenham a ver com a minha vida. Já recebi canções lindíssimas mas que não eram exatamente aquilo que eu diria numa canção minha com o Erasmo. Só gravo aquilo que realmente diria numa música.

** OR – Por que você nunca fez um show no Imperator, aquela casa de espetáculos no Méier, aqui no Rio?
"RC" - Por falta de coincidência de datas, mas agora existe essa possibilidade porque já estamos conversando e é possível que ainda este ano eu faça uma temporada no Imperator. Eu gostaria muito de cantar lá porque é uma casa muito bonita, muito bem feita.

* AF - O que família representa para você?
"RC" - Em primeiro lugar representa o amor. Eu sou muito ligado a todos os membros da minha família, desde os primos de terceiro grau até meus filhos, meus pais, meus irmãos. Dou muita importância a isso porque eles representam os primeiros amigos que temos na vida. Depois é que se começa a conhecer outros amigos, que também se passam por membros da família. Mas os grandes amigos da gente vêm da família.

** FB – Essa sua religiosidade vem da sua família?
"RC" - Minha mãe é muito religiosa, mas acho que a religiosidade é uma coisa de cada um. Mas se eu já tinha tendência para a religiosidade, minha mãe contribuiu mais ainda. Ela é muito religiosa e comecei a ir à missa com ela quando era menino. Meu pai é espírita. Com ele aprendi muito da espiritualidade. Optei pelo catolicismo da minha mãe mas encontro muitas respostas no espiritismo.

** FB – Você tem consciência de que é uma pessoa especial, que tem algo diferente?
"RC" - Eu? Eu não penso nisso não! Vocês estão me deixando encabulado. Eu levo minha vida de uma forma normal, sou religioso, sou católico praticante, mas eu não penso assim. Logicamente que tudo que nós pudermos fazer para imitar Cristo temos que fazer, porque quanto mais imitá-Lo mais perto d’Ele estaremos. Mas acho que isso é algo que toda pessoa religiosa faz. É assim que penso.

* AF - Roberto, vamos fazer um ping-pong:
* Qual o seu símbolo sexual?
"RC" - Marylin Monroe

* Uma garota papo-firme...
"RC" - É difícil lembrar agora... mas um bom papo, uma pessoa legal, extrovertida, espontânea... Fafá.

* Tudo pára quando...
"RC" - Tudo pára quando a gente faz amor. Pelo menos eu falei isso numa música.

* O que existe além do horizonte?
"RC" - Existe muita coisa. Existe o amor, até onde o pensamento da gente vai, sempre buscando as coisas boas, as coisas bonitas.

* Uma boa proposta...
"RC" - São tantas... nenhuma me ocorre no momento, mas pode ser tanta coisa. Tipo vamos falar sério?

* Um detalhe importante...
"RC" - A autenticidade. Eu acho que é um detalhe importante numa pessoa.

* O que você gostaria de fazer outra vez?
"RC" - Tudo que fiz até agora: a Jovem Guarda, o Festival de San Ramo, os amigos que tenho, enfim. O Canecão...

* Qual o seu time?
"RC" - O meu time é o Vasco da Gama.

(Nesse momento entra no estúdio o jogador Giovani, que entrega a Roberto Carlos uma camisa autografada pelos jogadores do Vasco. Giovani lembra que, como Roberto, também é capixaba).
* AF – Como é a sua amizade com Erasmo Carlos?
"RC" - Uma coisa muito grande, muito forte, muito sólida. Uma amizade que começou na nossa adolescência. Eu conheci o Erasmo quando tinha 15 para 16 anos. Quem nos apresentou foi o Arlênio, que estudava comigo na Escola Ultra, na Praça da Bandeira. O Erasmo se reunia com uma turminha na Rua do Matoso, junto com Tim Maia, o Trindade, um conjunto que se chamou “Os Sputniks”. Depois mudamos o nome para “Snakes”. Aí começou a nossa amizade, mas só alguns anos depois é que começamos a compor. Antes de fazer música com o Erasmo ele já havia feito a versão de “Splish, splash”, e como gostei muito da versão eu o chamei para trabalharmos juntos. Aí surgiu “Parei na contra-mão”. E deu super certo, a parceria assim como a amizade. Erasmo é um irmão que escolhi, e isso é bom, é muito bom quando temos a oportunidade de eleger um amigo como irmão.

** OR – Como você se sente sento tão querido pelos fãs?
"RC" - Eu me sinto feliz, muito feliz. Eu agradeço a Deus por todo esse amor que existe entre nós, porque não é só um amor que recebo, é algo que eu também dou. E fico feliz e contente com isso.

** G – Você fica emocionado quando canta “Meu pequeno Cachoeiro”?
"RC" - Muito, muito. Essa música me toca bastante. É uma música do Raul Sampaio, que ele já havia gravado. Eu me emocionei quando gravei, quando cantei pela primeira vez no palco, e até hoje quando a canto me emociono muito. Sempre me lembro da minha cidade, da minha infância.

* AF - Seu lado afetivo é tão exigente quanto seu lado profissional?
"RC" - Não sei. O amor muda muito as coisas, não acho que seja tão exigente no amor, porque quando a gente ama já começa a aparar todas as arestas. Começa a valorizar quem ama. Não acho que seja tão exigente como sou na vida profissional, porque quando a gente ama, ama mesmo, e não fica buscando coisas. É deixar o coração falar mais alto. É ele que diz a verdade na hora do amor.

* AF - Já estamos chegando ao fim. Quero agradecer a você o prazer dessa visita. Volte sempre ao nosso “Sala de Visitas”.
"RC" - Obrigado a vocês por esse carinho, por esse amor, por essa coisa bonita que tenho recebido sempre de vocês. Obrigado a FM 105, que realmente tem me prestigiado muito. Enfim, eu só tenho a agradecer a essa emissora, aos ouvintes e a todos vocês que fazem a FM 105. E que a Luz Divina ilumine a todos vocês. Deus abençoe a todos.