Já entrevistamos muitas pessoas que fazem parte da história de Roberto Carlos. Essas conversas foram muito enriquecedoras para o nosso conhecimento sobre sua vida, carreira e obra. Também publicamos no Jornal do Grupo Um Milhão de Amigos muitas entrevistas de Roberto Carlos. É sempre muito bom saber o que ele pensa em cada momento, como neste dia de Natal, em 1988, quando falou à Rádio 98 FM. Estávamos presentes para ouvir o que ele teve a dizer naquele dia.
* - Roberto, a gente só se encontra uma vez por ano, mas esses encontros nos dão uma energia que dura o ano inteiro. "RC" – Obrigado, fico contente ao ouvir essas coisas bonitas de você e só tenho que agradecer. * Como você está neste ano corrido de tantos shows e terminando agora a gravação de um disco? "RC" – Estou bem, graças a Deus, estou muito bem, estou muito contente com o resultado de tudo. Eu trabalhei muito neste ano, mas muito mesmo. Até senti que não tinha tempo para nada a não ser para trabalhar. Logicamente para quase nada, porque sempre tem aquele diazinho em que a gente procura e acha um tempinho para a gente mesmo. Mas realmente este ano eu não tive quase tempo nenhum, a não ser para trabalhar. Mas o resultado foi muito bom, eu estou muito feliz com tudo o que está acontecendo com a minha carreira, com meus discos, enfim, com tudo que estou fazendo. Estou muito contente. * Eu achei muito bonito você participar do Especial de fim de ano da Xuxa e ver as crianças cantando “Se diverte e já não pensa em mim”. Como você se sentiu? "RC" – Fiquei muito emocionado e feliz ao ouvir e ver as crianças cantando. Realmente foi uma grande surpresa para mim quando as ouvi me acompanhando no refrão. Aquilo me deixou muito feliz, além da felicidade de participar do Especial da Xuxa, que faz um trabalho tão bonito com a criançada. A Xuxa tem uma imagem linda, ela é realmente uma pessoa maravilhosa, e tudo que faz é de acordo com ela mesmo. Para mim foi uma alegria grande estar no programa dela, foi um “barato”, fiquei muito feliz e curti todo aquele momento junto com ela. * Conte para nós a história de “Se diverte e já não pensa em mim”, que até já virou gíria entre os jovens. "RC" – A história dessa música vem mais uma vez da imaginação do compositor. Imaginei essa história, comecei a letra e depois me encontrei com o Erasmo para continuarmos a desenvolvê-la. É a história do cara que terminou um romance com a mulher que ele ama e que, sofrendo, fica pensando que ela também está sentindo saudades e com esperanças de que um dia ela vá voltar para ele. Mas, de repente, ele vê que isso não está acontecendo e que ela está levando uma vida normal, no trabalho, em casa. Aí ele começa a imaginar as coisas a imaginar até que às seis horas da tarde ela pode receber um telefonema e de noite já estar pronta para sair com outro cara e dançar, mas tudo isso não passa da imaginação dele. É uma barra, uma tremenda dor-de-cotovelo. * Como você vê a vida da mulher de hoje? "RC" – A vida da mulher moderna, hoje, é cheia de compromissos, bem diferente da de outros tempos onde a mulher se dedicava somente à casa. Hoje, além de cuidar da casa e da família, ela também trabalha, tem suas ocupações profissionais. Mais eu acho que isso não tira da mulher a necessidade do romantismo, mesmo que ela seja uma mulher romântica e altamente ocupada. Da mesma forma que o homem pode ser ocupado e tremendamente apaixonado. Por exemplo, eu sou um cara ocupadíssimo e muito romântico. Então, eu acho que a mulher pode ser ocupada, viver uma vida moderna, fazer suas reivindicações e continuar a ser romântica. * Como artista, como você vê essa mudança que o país está passando? "RC" – Da mesma forma que o povo está vendo, porque é um quadro muito claro. O Brasil vive uma situação delicadíssima, preocupante. Nós estamos vendo tudo o que está acontecendo com as pessoas com muita preocupação. As mudanças ainda não aconteceram, só nas urnas, com as eleições diretas, mas estamos muito na expectativa, aguardando os acontecimentos. Vamos ver agora o que vai acontecer na prática. Espero que tudo seja em favor do povo brasileiro, o que é realmente quem está sofrendo com toda essa situação do país, independentemente do partido e de quem for, as mudanças devem ser um benefício do povo. * Uma vez você falou sobre o apoio ao Antônio Ermírio, você faria campanha para ele? "RC" – Há alguns anos me perguntaram quem era o meu candidato a presidente da República e eu disse que ele ainda não tinha se candidatado, e que eu esperava que se candidatasse. Os jornalistas ficaram curiosos e me perguntaram então quem era ele, e eu disse que era o Antônio Ermírio de Moraes. Sinceramente, eu espero que um dia ele seja presidente. Eu acho que ele pode fazer muito pelo Brasil já que é um homem de uma experiência internacional, acostumado com números, finanças, economia internacional, todos os tipos de coisas importantes para o Brasil. Além disso, é um grande coração e um homem honesto. * Como está o projeto de lançar um disco com o Julio Iglesias? "RC" – Esse projeto foi uma ideia do Julio e confesso que me entusiasma muito. No que depender de nós dois, está tudo bem, poderíamos até começar a fazer o disco hoje. Já estive com o Julio, já conversamos sobre as músicas, estivemos com o Ramón Arcuza, que irá produzir o trabalho, e as ideia são ótimas. Estamos na expectativa de começar o disco. * Como seria o repertório? "RC" – O repertório seria de clássicos e duas ou três músicas inéditas. Eu tenho muita vontade de fazer uma música para esse disco, mas ainda não parei para pensar nela, quem sabe de repente ela pinta... Mas seria basicamente um disco de clássicos populares. * Já que falamos do seu encontro com o Julio Iglesias, vamos falar sobre a participação do Erasmo Carlos no seu disco, na música “Papo de esquina”. "RC" – Nós já havíamos cantando juntos, num disco dele, a música “Sentado à beira do caminho”, e resolvemos voltar a cantar juntos em “Papo de esquina”. Foi um momento realmente muito bonito. Foi muito bom gravar uma faixa com o Erasmo, meu amigo, meu irmão, meu companheiro, meu amigo de fé e irmão camarada. Ao fazermos a canção começamos a perceber que deveríamos gravar juntos. Também foi muito bom ter o Erasmo no meu Especial, cantando “Papo de esquina”. Ainda bem que a mulher da letra não era a mesma. Já pensou se fosse e o Erasmo ficasse furioso? Enfrentá-lo, com todo aquele tamanho... Brincadeira! * O Natal está chegando. Como você passa o Natal? "RC" – Eu fico em casa e vou à missa. Isso é muito importante. O Natal e o Ano Novo eu passo sempre em casa, com minha família. E gosto de estar com minha mãe, meus irmãos e meus amigos. É importante, muito importante estar com eles. Natal é uma coisa de amor tem um significado fundamental para mim, pois é um dia dedicado ao amor, à religiosidade, à espiritualidade. Eu vejo dessa forma. O Ano Novo também faço questão de estar em casa curtindo esse amor, esse clima familiar. São momentos de oração. * Você é uma pessoa que viaja muito e deve ter muitos amigos e conhecidos espalhados pelo mundo, alguns até que você talvez nem volte a encontrar. Como é isso para você? "RC" – Olha, é a primeira vez que alguém me faz essa pergunta, e você me pegou de surpresa, porque às vezes fico imaginando isso, chego num lugar, encontro um amigo, dias depois estou em outro país e encontro outros amigos, porque cada vez que visito um país ou uma outra cidade sempre faço amizades. São pessoas que conheço, algumas até simples operários que trabalham nos bastidores dos shows, na organização, no hotel, ou até mesmo alguém que se aproxima através de outros, como um dos músicos, da minha equipe de trabalho... Então, é assim que faço amigos nessas ocasiões e vivo longe deles, porque moram em outros estados e até mesmo em outros países, é interessante isso, muito interessante, e tem um valor imenso, porque prova que a amizade e o amor independem da presença física. Às vezes você conhece alguém e em cinco minutos percebe que é um amigo, e quando voltamos a nos encontrar anos depois é aquela festa. Dá para sentir uma grande amizade. É muito bonito isso, e curto muito essas coisas. * Então você tem uma maneira diferente de lidar com a saudade, porque para muitos a saudade é uma coisa doida. "RC" – Depende da saudade. Ela tem muitos aspectos e há saudade que dói. Mas também tem aquela saudade que nos lembra de certas coisas boas, como aquela tipo: puxa, há quando tempo não vejo “fulano”... estou com saudades... Enfim, saudades têm muitos aspectos. * Como é para você estar ouvindo rádio e de repente tocar sua música que os ouvintes pediram? "RC" – É uma alegria muito grande, quase sempre que ouço minhas músicas no rádio, e principalmente os ouvintes fazendo os pedidos, eu me lembro da primeira vez que isso aconteceu, que foi uma emoção muito grande. “Puxa, que legal, estão pedindo a minha música, estão gostando!” A minha emoção ainda é a mesma, até hoje me emociono com isso, curto essa alegria de me ouvir cantando no rádio, é sempre uma coisa muito gostosa. Curto isso ainda hoje, depois de tantos anos de carreira, como curti na primeira vez ou nas primeiras vezes, no início da carreira. É uma coisa muito boa. * Como você se sente ao observar alguém na rua assobiando ou cantando a sua música? "RC" – Aí é um banho de emoção... aí dá vontade de parar para ouvir. Às vezes até num ambiente de trabalho ouço alguém assobiando minha música. Então fico penando: Puxa, o cara está assobiando minha música! Eu gosto muito disso, gosto mesmo, acho uma maravilha. * Nesse novo disco tem alguma música pela qual você tenha tido um carinho especial ao gravar? "RC" – Em todos os discos eu sempre gosto muito das mensagens. Em todos os meus discos faço questão de colocar um determinado tipo de mensagem, que faço com o Erasmo, como “A montanha”, “Jesus Cristo”, “O progresso”, “Amigo”. Sei lá, eu sempre gosto delas, sinto a letra no fundo do coração. Então, nesse novo disco, eu gosto de “Todo mundo é alguém” que diz uma coisa que eu sinto sobre a importância de se reconhecer o valor de cada um naquilo que ele faz. O personagem principal que sempre me veio à cabeça quando estava compondo essa música com o Erasmo foi o cara que trabalha no pesado, na picareta, no metrô, o pedreiro, o trabalhador que coloca o tijolo na obra e depôs a gente olha e vê um arranha-céu enorme... Eu paro e fico pensando em quantos tijolinhos foram colocados ali. Fico admirado com o trabalho, reconheço a importância que ele tem no edifício pronto mas penso que quando o prédio é inaugurado não vemos ali o seu nome, ao lado dos nomes dos engenheiros. Por isso na letra eu falo das digitais. Eu dou muito valor a essas pessoas e tenho muito carinho, muito amor por elas, porque elas têm a maior importância na nossa vida. A agente desfruta de coisas que foram feitas com muito suor derramado e que, quando tudo está pronto, não podemos esquecer da importância desses operários anônimos, que não conhecemos, mas de quem precisamos muito. * Já que falamos no trabalhador, a música é a sua ferramenta de trabalho. Como é a sua relação com ela? "RC" – É uma relação de amor, de muito amor, uma coisa que realmente eu curto. É através da música que eu falo tudo que penso, ou quase tudo. Não digo tudo porque tem muita coisa que penso mas que vou dizer nas próximas músicas. * Mas também deve ter muita coisa censurada... RC – Também tem isso. É o que chamamos de alto censura. Mas a realidade é que através da música eu tenho levado às pessoas o meu sentimento, o meu amor, os meus pensamentos, eu tenho conversado com multidões. Isso faz dela uma coisa ainda mais importante para mim. Graças a Deus a minha relação com a música é uma coisa harmônica, sem fazer trocadilho. * Você é um criador e tem uma relação muito bonita com o Criador maior, que é Deus. Como você fala com Ele? RC – Eu falo com Deus de muitas formas, através de pensamentos, de orações, em muitos momentos, até de repente em ocasiões inesperadas. Às vezes estou numa agitação, num corre-corre e aí converso com Ele até mesmo numa simples expressão. E converso com Deus também através da contemplação das coisas, principalmente da natureza, olhando tudo isso que Ele criou. Por exemplo, na varanda da minha casa tem uma mangueira plantada numa caixa, e no ano passado ela deu manga. Infelizmente não deu para segurar todas as mangas porque era pouca terra e venta muito na varanda do meu apartamento, mas tentei protegê-la com tapumes e com outras plantas maiores. E consegui que ela segurasse uma manga. Então fiquei com curiosidade de comer aquela manga, até que chegou o grande dia. Foi um grande ritual, distribuí os pedacinhos de manga para todo mundo que amo. É uma coisa fantástica! Como um pouquinho de terra deu uma fruta tão saborosa, tão doce! Comi a manga conversando com Deus e fazendo uma avaliação dessas coisas todas. A natureza é uma coisa maravilhosa, e Deus está presente nela. * Qual a mensagem que você daria aos nossos ouvintes nesse final de entrevista? "RC" – Eu acho que é oportuno a gente falar do Brasil. Tenho certeza de que é muito importante nesse momento difícil que o Brasil está vivendo, que nós amemos ainda mais o nosso país, porque só através do amor e da união é que a gente pode enfrentar muitas situações difíceis, como a atual. Então é muito importante que os brasileiros se unam e pensem em cada um fazer sua parte pelo Brasil. Sabemos que é uma situação delicada. É difícil pensar que se possa resolver da noite para o dia, mas com amor e com fé em Deus nós vamos superar todos os problemas e num futuro bem próximo vamos ver o Brasil numa situação muito melhor, com as pessoas sorrindo e vivendo momentos de mais alegria. O que é bonito é exatamente o fato de o brasileiro não perder a alegria de viver. Então, que ele não a perca nunca, e que junto à essa alegria acrescente-se ainda mais amor, e que esse amor seja cada vez mais dedicado ao Brasil. Vamos lutar, pensar positivamente, pedir a Deus que toda essa situação se resolva e que Ele ilumine as pessoas que governam o nosso país. Eu acho que é isso aí. Que Deus abençoe a todos os brasileiros, e abençoe o Brasil. Amém! * Além da emoção, estamos felizes, querendo te agradecer do fundo do coração, por poder mais uma vez fazer essa entrevista. Muito obrigado, mesmo, por todos nós. Sei que nossos ouvintes estão passando hoje um Natal muito mais feliz te ouvindo. "RC" – Vocês não têm nada que agradecer. Eu é que tenho que agradecer a vocês e a todo esse público por todas essas coisas lindas que têm me dado. Isso é uma coisa que tenho que levar sempre em conta. Tenho que agradecer a todas as pessoas e a Deus, ou melhor a Deus e a todas as pessoas. Obrigado a vocês por tudo, muita saúde, muito amor e união. Muita paz, e que Deus esteja sempre no coração de todos nós. "justify"> |