ROBERTO CARLOS
Transcrição: Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

25.12.1991




Entrevista a Mara Torres, Rádio 98 FM, em 25 de dezembro de 1991

* Estamos aqui com Roberto Carlos nessa tarde de um dia de Natal. Como você se sente aqui trabalhando, já que daqui a pouco o seu Especial irá ao ar?
"RC" – Estou contente de usar o meu Especial para poder falar das crianças, dos velhinhos, para conscientizar as pessoas sobre a importância de se fazer o teste do pezinho nos bebês. Essa é a campanha que iremos fazer este ano. Tudo isso é muito bom. Eu me sinto muito bem.

* Todo mundo passa o dia 24 na ansiedade de chegar logo o primeiro minuto do dia 25 para desejar Feliz Natal. Como você passou a noite de Natal?
"RC" – Muito bem. Como sempre passei com a família, com os amigos, mas tive que dormir um pouco mais cedo por causa do Especial deste ano, que terá a primeira parte ao vivo nesta tarde. Então não teve jeito, tive que dormir mais cedinho para estar mais descansado.

* No seu dia-a-dia sempre nos passa uma energia positiva, energia esta que muitas pessoas só conseguem passar no dia de Natal. Como você consegue ter sempre esse alto astral?
"RC" – Eu acho que é a minha maneira de ser, mas o dia de Natal é um dia muito especial. Um dia em que me emociono muito, porque o Natal é o dia do nascimento de Jesus, o que é lindíssimo e importantíssimo para a humanidade. Por isso eu peço a todos que sempre as lembrem e pensem muito nisso, não se esqueçam de que Jesus nasceu nesse dia para nos salvar.

* Roberto, como é sua relação com as crianças?
"RC" – As crianças sempre têm acompanhado o meu trabalho e fico muito feliz de ver que elas estão do meu lado desde o início da minha carreira. Não posso me esquecer que comecei a cantar com nove anos de idade, portanto era uma criança. Depois as crianças sempre me acompanharam na Jovem Guarda, estavam nos meus primeiros shows no Canecão e continuam me prestigiando até hoje. Há duas semanas, em Ribeirão Preto, um menininho de dez anos me emocionou muito. Ele passou por todo mundo, furou o cerco, subiu no palco, começou a chorar a me deu um abraço tão emocionado que eu também fiquei emocionado com aquilo. Foi muito bonito. As crianças têm estado presentes na minha vida e eu fico muito feliz com isso.

* Fale um pouco das campanhas que você vai fazer hoje no Especial.
"RC" – Vamos fazer uma campanha para as crianças e outra para os velhinhos. Eu também tenho uma preocupação muito grande com os idosos. Em relação às crianças vamos mostrar a necessidade do teste do pezinho, que é importantíssimo. A nossa campanha não visa angariar dinheiro; vai ser uma campanha de conscientização. Logicamente que vamos pedir que as pessoas contribuam com algumas instituições, que adotem um velhinho ou uma criança e velhinhos carentes porque eles necessitam. Eu espero que depois do programa as pessoas dêem continuidade a essa campanha se tornando sócios de alguma instituição. A quantia não precisa ser grande pois a contribuição é sempre grande, seja ela qual for.

* E o pai Roberto Carlos, como foi de repente essa novidade de vir saber de mais um filho, reconhecer a paternidade do Rafael?
"RC" – Foi mais uma experiência na minha vida. Todo mundo sabe que já tinha três filhos. Passei a ter mais um, e encarei isso com alegria e total naturalidade.

* De repente surge um filho em sua vida. Qual foi a sua reação?
"RC" – Foi uma agradável surpresa eu saber que tinha um filho de 25 anos. Para ele deve ter sido mais fácil porque já me conhecia e sabia que era meu filho. Mas não foi complicado assim. Aparentemente poderia ter sido um processo delicado, mas agindo com naturalidade não é tão complicado quanto se pensa, principalmente quanto se trata de uma pessoa legal como o Rafael. Ele é um menino legal, gente boa, e encaro a paternidade com muita naturalidade porque afinal de contas a culpa não é dele. Se houve culpa no caso não foi dele, e ele sabendo que era meu filho me procurou. Hoje em dia é muito simples se certificar da paternidade porque existe o exame do DNA. Antigamente era mais complicado e só era possível chegar à conclusão através de fatos e provas. O juiz analisava para saber se havia alguma evidência para comprovar a paternidade. Hoje em dia não. Quando o exame deu positivo não tinha que discutir, eu assinei a paternidade e encarei o Rafael como filho, numa boa. Volto a falar, se existe culpa nisso, ela nunca é do filho; é dos pais.

* Qual o balanço que você faz desse ano que está passando?
"RC" – Graças a Deus foi um ano de muito trabalho. Eu passei grande parte desse ano dentro do estúdio de gravação. Fiz dois discos, um em espanhol e um em português, e estou muito contente com o resultado deles. Levei um pouco mais de tempo trabalhando no disco em espanhol porque tive que mixar e depois remixar algumas faixas, e isso acabou diminuindo um pouco o tempo que tinha para me dedicar ao trabalho do disco em português. Por começar o disco um pouco mais tarde tive que recuperar o tempo perdido, e foi uma luta muito grande, mas com a graças de Deus tudo terminou bem e não prejudicou a época de lançamento prevista pela CBS. A gravadora foi fantástica, não mediu esforços para colocar o disco nas lojas dentro do tempo previsto. Foram oito dias de muito trabalho na fábrica, e por isso agradeço muito aos meus amigos da gravadora, deste o presidente Roberto Augusto a todos os funcionários da fábrica. Estou contente com tudo que aconteceu este ano, com o meu Especial na TV Globo, principalmente porque gosto de fazer esse tipo de campanha de conscientização.

* Deve ser gostoso para você quando chega o fim do ano, ver o novo disco nas lojas e seu Especial na TV.
"RC" – Como é gostoso, muito gostoso, é um sabor maravilhoso, é doce esse conjunto de coisas, de reunir todo mundo e estar sempre com eles. Quando digo todo mundo, digo meu público, o pessoal que trabalhou nos meus discos, no Especial, os jornalistas na coletiva. É gratificante ver que em tudo houve uma harmonia, graças a Deus.

* Que relação mágica é essa que você tem com o seu público?
"RC" – Eu acho que tudo é uma questão de amor, porque existe uma troca, uma reciprocidade fantástica em tudo isso. Eu amo o meu público, eu amo as pessoas, e tenho recebido todo esse amor. Quando eu digo que os meus shows são diálogos, eu estou dizendo isso de verdade, e posso até dizer que o meu disco também é um diálogo de amor. É claro que no show é diferente porque tenho uma resposta imediata nos sorrisos, nos olhares, nas manifestações, nos gritinhos, e isso tudo é altamente gratificante, me emociona. A minha relação com o público é de amor. Achei muito engraçado porque num programa de rádio uma ouvinte disse que tinha se casado com seu marido só porque ele queria, que amar mesmo, ela amava a mim. Então quando ouço essa declaração, pode ter certeza de que a recíproca é verdadeira. É lógico que esse amor que ela sente por mim é diferente. Eu creio que é uma maneira de se expressar. Na realidade ela ama o seu marido e me ama de uma outra forma. Mas fico muito feliz e muito agradecido a Deus por isso.

* Mas será que não existe mesmo uma relação de amor, como a dessa ouvinte, por parte das pessoas?
"RC" – Eu não vejo dessa forma não. Mesmo recebendo muitas manifestações tão lindas durante os shows, nas cartas e nos telefonemas, eu não me vejo como um símbolo sexual. Eu acho que o símbolo sexual é diferente. Eu não sei não, a verdade é que acho que não entendo muito bem desse assunto.

* Mas cantar o amor tem dessas coisas. Pois você mexe muito com o coração das pessoas.
"RC" – Sem dúvida, cantar o amor provoca todas essas coisas, essas reações, principalmente cantar esse amor de verdade. Eu sempre digo que canto realmente o que eu sinto, não exatamente o que eu tenho vivido. Às vezes eu não tenho uma experiência pessoal de tudo aquilo que estou dizendo, mas eu posso me imaginar fazendo uma porção de coisas, aquilo que eu canto. Então mesmo que eu não tenha vivido uma determinada situação eu me imagino naquela situação de verdade e todas aquelas reações que eu poderia ter ali. Quando alguém me manda uma canção, às vezes linda, mas que diz coisas que eu não diria se a tivesse feito, eu não gravo. Eu deixei de gravar músicas lindíssimas por não terem exatamente as minhas verdades e que chegaram a fazer sucesso com outros cantores. Eu canto as minhas verdades, mesmo que elas tenham sido escritas por outro compositor.

* Já que estamos falando de música, gostaria de falar de “Todas as manhãs”, que já está liderando as paradas de sucesso.
"RC" – A letra dela já fala tudo o que eu poderia dizer aqui. Das quatro músicas que eu fiz com o Erasmo para este disco, ela foi a primeira. O curioso é que eu tinha começado a fazer uma música parecida que dizia: “A todo momento eu me lembro de você”. Só que a letra estava ficando brincalhona. A letra dizia que eu estava pensando nela em todos os momentos, acordava pensando nela, passava o dia pensando nela, mas não conseguia desenvolver a canção como eu queria. (NR: A música que Roberto Carlos já estava começando a compor em 1991, e que interrompeu para fazer “Todas as manhãs” é “Obsessão”, que ele gravou em 1993). De repente me veio à cabeça a frase “todas as manhãs quando eu acordo eu me lembro de você” com o mesmo tema anterior, mas uma letra diferente, mais séria.

* E a frase “chuva fina no meu parabrisa”, que é lindíssima?
"RC" – Essa frase mostra a solidão da pessoa num carro. Quando você liga o rádio e ouve uma música começa a fazer uma viagem dupla: a viagem que estamos fazendo no carro e a viagem na música que está tocando no rádio. Tudo isso apoiado pela solidão do carro. O carro sempre foi muito importante na minha vida, desde as minhas primeiras composições eu falei de carro de velocidade. É claro que o motorista tem que estar atento aos sinais, ao trânsito, ao caminho que vai fazer, mas ele também faz uma viagem através dos pensamentos e até mesmo através da solidão quando escuta uma música. Então eu coloquei essa frase “chuva fina no meu parabrisa, vento de saudade no meu peito”, pois quando chove a viagem mental vai ainda mais longe.

* Você é uma pessoa extremamente romântica. Que conselho você daria para quem sente falta desse romantismo?
"RC" – Dar conselho é sempre difícil e dar conselho sobre romantismo é mais difícil ainda. Às vezes podemos estar extremamente apaixonados por alguém e não sabemos se essa paixão é correspondida porque a pessoa não demonstra o que sente. Existem também casos de a pessoa amada ser tímida e não saber expressar esse sentimento. A minha transparência no relacionamento é muito importante, e é bom quando chegamos à conclusão que há reciprocidade no amor.

* Você se diz um amante à moda antiga e eu pergunto: será que hoje em dia o amante é diferente?
"RC" – As coisas hoje são muito práticas e às vezes práticas até demais. Antigamente o cara parava o carro, abria a porta para a namorada e ainda dava a mão para ela sair do carro. Hoje em dia não é normal ver esse tipo de gentileza.

* Mudaram os homens ou mudaram as mulheres?
"RC" – Eu acho que todo mundo mudou um porquinho. Mas isso não implica no sentimento, implica no romantismo. O romântico antigo tinha um comportamento diferente, demonstrava muito mais o seu amor, o seu carinho, a gentileza. Em tudo o que pudesse ele demonstrava todo o seu sentimento. Ele era mais cavalheiro e sabia que as mulheres faziam questão desse cavalheirismo. Eu ainda acho que toda mulher gosta desse cavalheirismo, disse romantismo, e eu gosto de ser um romântico à moda antiga. O romantismo é atual, nunca será antigo, ele é sempre novo e permite grandes criatividades.

* Como foi a sua participação no programa da Xuxa este ano?
"RC" – Foi com muita alegria que eu participei do programa da Xuxa. Ela é uma pessoa linda, maravilhosa de coração e de alma, e fisicamente também é uma mulher lindíssima. Foi um prazer grande participar, estar com ela e com seus baixinhos. Foi um momento de emoção muito grande e fico muito feliz cada vez que posso estar junto da Xuxa. Eu gostaria de ter as palavras certas para falar o que ela é, mas acho que sua própria carreira, os resultados aqui e lá fora mostram que ela é uma pessoa maravilhosa, um fenômeno de comunicação. Que Deus a abençoe sempre.

* Você também participou do programa do Fábio JR.?
"RC" – Também tive o prazer de participar do programa dele, que irá ao ar no princípio do ano. O Fábio também é um grande amigo. Eu admiro a sua espontaneidade. Ele é um cara de uma emotividade à flor da pele, é um grande garoto, um grande cara. No princípio estava difícil participar do programa do Fábio porque teria que arrumar tempo, e eu estava sempre ocupado com ensaios, gravações, reuniões deste meu Especial que, afinal de contas, é um programa de cinco horas, três horas à tarde e duas à noite. Mas felizmente tudo correu bem, consegui um dia de folga para gravar com o Fábio Jr. e foi maravilhoso. O Fabinho é um cara maravilhoso e eu gosto muito dele. Há muito tempo cheguei a participar de uma novela que ele era o protagonista. O seu personagem queria ser cantor e invadiu o meu camarim para pedir conselhos. Foi uma participação muito legal.

* Quais são os seus planos para o próximo ano?
"RC" – Os projetos são os mesmos de sempre, muito trabalho. O show, dois discos, sendo um em espanhol, mas pode haver alguma mudança nesses planos. O disco em espanhol eu quero fazer um pouco mais cedo para que ele não invada o espaço do disco em português, como aconteceu este ano. Já quero começar a gravar algumas canções agora em janeiro, organizar as datas dos shows e começar o meu disco em português bem mais cedo do que comecei neste ano de 1991. Enfim, continuar compondo, buscando sempre melhorar o meu trabalho, buscando sempre melhorar como ser humano. Quero fazer alguns shows lá fora, mas no ano que vem não pretendo trabalhar tanto no Exterior como fiz há três anos.

* E os seus sonhos para 92?
"RC" – Eu acho que o meu sonho é de todo brasileiro. Ver a situação do país bem melhor. A questão da inflação, o nosso grande problema, o desemprego, que todas essas coisas sejam solucionadas. Eu tenho fé em Deus que isso vai melhorar. Em toda virada de ano temos que ter esse pensamento firme e fé em Deus. Acredito muito na oração coletiva, por isso acho que as pessoas deviam orar mais, pedindo a Deus pelo Brasil, pedindo que os homens que governam esse país se inspiram para encontra as soluções.

* Vamos falar de sua nova mensagem, “Luz Divina”?
"RC" – Desde que fiz “Jesus Cristo”, com o Erasmo Carlos, em todos os discos coloco uma mensagem, seja religiosa, espiritual, ecológica, fraternal... Sempre tenho colocado no disco uma canção assim. Mas de uns cinco anos para cá não fazia uma música falando de Deus. Fizemos “Apocalipse”, “Amazônia”, “O careta”, que é uma canção que gosto muito por falar contra as drogas, “Todo mundo é alguém”, que fala do valor de cada ser humano em particular, da igualdade das pessoas. Mas queria fazer uma outra canção falando de Jesus. Com o trabalho do disco começando mais tarde, este ano eu demorei a fazer a mensagem. Eu já tinha todas as outras músicas prontas, mas faltava a mensagem. Eu estava pensando no tema e de repente apareceu essa falando da Luz Divina, falando diretamente de Jesus. Quando nós a terminamos foi uma alegria muito grande, gostosa, e fiquei muito feliz ao saber da aceitação da música pelas pessoas. Ouvi comentários de que essa música seria a melhor do disco e isso é uma alegria que não dá para descrever. “Luz Divina” é uma canção muito especial que eu queria fazer há muito tempo, e graças a Deus consegui fazer com o Erasmo Carlos.

* Uma mensagem de Natal para o seu público?
"RC" – Que todos tenham um Natal lindo, principalmente pelo lado espiritual. Que as pessoas tenham um Natal bonito de coração, e pensem que é a festa do nascimento de Cristo. Os presentes, a ceia, a festa, tudo isso é muito bonito mas o importante é que as pessoas tenham no coração que o Natal é a festa do Salvador, dessa Luz Divina que é Jesus. Então eu desejo que as pessoas recebam e tenham essa Luz Divina no coração e que Deus e Jesus abençoem a todos. Muito amor, muita paz, muita saúde, felicidade para todos. Que seja um Natal de amor, porque o amor e a felicidade estão sempre muito juntos. Principalmente, que todos sejam abençoados por Deus. Que cada dia do novo ano seja um dia de Natal maravilhoso.

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