ROBERTO CARLOS
Transcrição: Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

01.12.1997




Foi depois de muita ansiedade, sem uma definição
de onde seria a coletiva à imprensa para o lançamento do CD “Canciones que amo”,
que no dia 1º de dezembro de 1997 estivemos com ele no Hotel Caesar Park, em Ipanema, no Rio de Janeiro.
Roberto Carlos, como sempre, chegou brincando com os quase cem jornalistas da imprensa escrita e de TV.
“Antes das perguntas quero agradecer a presença de vocês.
Estou contente por estar aqui, lançando meu disco de fim-de-ano,
um pouquinho diferente do disco que normalmente faço.
Estou contente com o resultado deste trabalho”.

* - Como foi a escolha do repertório?
"RC" – Foi uma escolha muito difícil, porque eu já tinha pensado em fazer esse disco há algum tempo, mas o começamos depois que muitos artistas latinos já tinham feito algo assim. Digo, latinos de língua hispânica. Então, quando resolvemos fazê-lo, a partir de uma proposta do Tomás Muñoz, o produtor-executivo desse disco, tivemos que procurar muito no repertório para que não repetíssemos as músicas. Acho que pelo menos 20 discos desse tipo já havia sido lançados, então foi difícil escolher o repertório. O que acabou facilitando muito foi que busquei esse repertório na minha infância. Quando comecei a carreira, em Cachoeiro, eu cantava esses boleros, além dos sambas-canções de Nélson Gonçalves, de Albertinho Fortuna... Mais tarde eu passei a cantar o repertório do Tito Madi. Então, nessa época, eu cantava “Abrázame así”, e me lembro de “Adios”, que tocava na rádio. “Manicero”, por exemplo, era uma canção que eu ouvia e achava triste mas não sabia o que dizia a letra. Depois, já entendendo a letra, percebi que era uma letra muito alegre. Bem, levamos quase um ano escolhendo as músicas, mas fiquei contente com a escolha porque a grande maioria não está em outros discos que existem do mesmo gênero.

* - Você acha esse disco uma mudança em sua carreira?
"RC" – Eu não considero uma mudança, não; eu considero um projeto diferente dos discos que faço normalmente, em português. Eu não ia lançar esse disco no Brasil, mas em torno de setembro, quando começamos a ouvir o resultado, achamos que ele podia perfeitamente ser bem aceito no mercado brasileiro, porque o espanhol cantado por um brasileiro é muito mais fácil de ser entendido. Mesmo cantadas em espanhol, achamos que as letras seriam compreendidas. Também achamos que o disco era muito romântico e que tinha um repertório bonito, e que poderia ser bem aceito aqui. Passamos a estudar com muita calma a possibilidade de lançá-lo no Brasil e chegamos à conclusão de que poderia ser lançado no lugar do meu disco anual em português. A ideia foi crescendo cada vez mais e aí eu disse: Realmente é um disco que pode ser lançado no Brasil, e nesse caso não vamos lançar este ano o disco em português. Mas aí eu pensei: Caramba, não vou lançar uma mensagem? Afinal eu lanço uma mensagem todo ano! Então chamei Erasmo e fizemos “Coração de Jesus”, que foi lançada no Brasil em português e em espanhol no mercado hispânico.

* - Você tem planos de voltar a gravar em italiano?
"RC" – Eu tenho pensado muito em fazer um disco em italiano com clássicos italianos. Não seria um disco com músicas do meu repertório vertidas para o italiano, mas um disco como este que fiz em espanhol. Tenho pensado muito nisso e até é possível que eu faça no próximo um ano e meio. Não sei se para lançar no Brasil imediatamente, mas para lançar na Itália.

* - Você já tem algum repertório em vista para ele?
"RC" – Não, nessa época de lançamento a minha cabeça e os meus planos ficam todos voltados para o novo disco. Não me ocupo com outras coisas porque a gravação, a mixagem, a masterização e todo o plano de marketing e de lançamento já são uma grande preocupação.

* - Lançado esse disco em espanhol e pensando num em italiano... Isso significa que você está compondo menos?
"RC" – De forma alguma! É só a vontade de gravar em italiano, o que tem muito tempo que não faço. Antes e depois do Festival de San Remo lancei alguns discos na Itália. Até 1979. Desde então tenho vontade de fazer um outro disco em italiano, só que agora começo a pensar na possibilidade de fazer um disco de clássicos. Mas isso não quer dizer que esteja compondo menos. Pelo contrário, estou compondo muito, e tenho praticamente um disco pronto para o ano que vem.

* - Não teve um certo medo de lançar esse disco em espanhol no lugar do disco em português?
"RC" – Não houve medo, mas uma preocupação, porque qualquer coisa que você muda no que já faz há mais de 30 anos tem que ser analisado profundamente e com cuidado. Nós tivemos a preocupação de analisar muito bem, com muito cuidado, essa decisão, até que chegamos à conclusão de que deveríamos lançar esse disco.

* - Vocês fizeram alguma pesquisa de mercado?
"RC" – Não. Nós analisamos partindo do próprio disco, partindo de que o disco, mesmo sendo em espanhol, tem possibilidades no mercado. Possibilidades devido à forma como ele foi feito, porque é um disco romântico, acima de tudo. Talvez um disco até mais romântico do que os que tenho feito, recentemente. Acho-o parecido com os discos que fazia há uns 10 ou 15 anos, só que em espanhol. Lembra aquele que têm “Desabafo” e “Abandono”, aquelas músicas para sentar e ouvir, para deitar e ouvir. Não é um disco para ouvir andando, não.

* - Como você viu a sua participação no Programa do Faustão, entrando nessa guerra de audiência entre a Globo e o SBT?
"RC" – Guerra? Não sei que guerra é essa. Isso não é uma preocupação minha. Isso deve ser uma preocupação das emissoras. Minha preocupação foi a de fazer uma boa participação no Programa do Faustão, lançar bem o meu disco. Enfim, é um programa que tem audiência.

* - Há alguns anos você vem homenageando as mulheres, como as gordinhas, as baixinhas, as mulheres de óculos e as de 40. Este ano elas não foram homenageadas. Você esqueceu delas?
"RC" – De jeito nenhum esquecidas nunca! Elas estão em quase todas as canções desse disco. De uma forma ou de outras as mulheres estão aí. “Abrázame así”, por exemplo, é uma canção que fala para uma mulher. Logicamente que se uma mulher cantá-la será para um homem. De forma alguma as mulheres foram esquecidas, porque elas estão no romantismo das letras. Mas no ano que vem estaremos aí, de novo falando delas diretamente.

* - Quais são os planos para o lançamento desse disco no exterior?
"RC" – Há mais de três anos não lanço um disco em espanhol. É lógico que tenho planos de fazer uma tournée pelos países hispânicos. Se eu for à Espanha penso em esticar até Portugal. A gente nunca perde essa oportunidade! Mas ainda não tem nada agendado porque temos que esperar o disco ser lançado no Exterior, ver o resultado para que possamos saber exatamente o que vamos fazer. Mas acho que a excursão não vai acontecer antes de agosto ou setembro.

* - Você não pensa em fazer uma excursão com o Erasmo Carlos?
"RC" – Sempre tive vontade de fazer um show com o Erasmo, e não fizermos, ainda, um show juntos porque nossa programação é muito diferente. Em determinadas épocas Erasmo está num lado; eu no outro. Às vezes estamos perto... Mas, é claro, sempre juntos no coração. Sem dúvida meu irmãozinho Erasmo está sempre comigo e eu sempre junto dele. Essa ideia de show juntos eu sempre tive tanto é que todo ano ele está no meu especial, cantando comigo, falando alguma coisa. Mas eu acho que um dia esse show vai acontecer; e acho que de repente está perto.

* - Quando esse CD será lançado no mercado latino-americano?
"RC" – Teoricamente ele é simultâneo ao lançamento no Brasil mas na prática não vai ser bem assim porque houve uma demorazinha na mixagem da música “Coração de Jesus”, que eu gravei em espanhol. Nós vamos mixar amanhã (02/12/97). Então depois de amanhã esse disco estará sendo masterizado com essa canção em espanhol e no dia seguinte irá para a fábrica. O CD será fabricado aqui. Por isso o lançamento no Exterior será muito rápido, pois o CD já vai para o mercado latino pronto para ser distribuído.

* - O estúdio que você está montando na Urca vai mudar seu costume de gravar em Miami?
"RC" – Vai. Logo que o estúdio ficar pronto não vou mais precisar sair do Brasil para mixar. Mesmo já havendo no Brasil estúdio com 48 canais, eu preferia ir à Miami mixar. Agora, ficando pronto o estúdio “Amigo”, com certeza não vou precisar mais ir para fora. E a vantagem é que é pertinho de casa.

* - Você pretende lançar mais um disco este ano?
"RC" – Não sei, acho que dois discos não... Pode ser que de repente eu faça um projeto especial, como fiz há dois anos com o disco “Inolvidables”, mas não tenho planos de lançar dois discos com repertório inédito num mesmo ano. Eu levo muito tempo gravando, fico muito tempo em estúdio, e por isso seria difícil fazer dois discos por ano. Talvez agora com o estúdio “Amigo” eu possa fazer dois discos por ano, sendo algum projeto especial. Até penso em algo com as canções do Tito Madi, por quem tenho grande admiração. Tendo um estúdio fica mais fácil para mim pois não ficaremos na dependência de saber se ele está desocupado.

* - Quais os planos de lançar novos artistas pelo selo “Amigo Records”?
"RC" – Sem dúvida eu penso nisso. Não que eu venha a ser produtor desses discos pois não tenho tempo para me ocupar com outras produções. Mas pelo menos dar uma supervisionada, essas coisas... Eu gostaria de fazer isso, sim, quem sabe lançar artistas novos, não só novos, mas qualquer artista que ache oportuno fazer um disco com ele, desde que seja interessante para o artista e para nós.

* - Como foi a escolha de “Insensatez” para esse disco?
"RC" – Curiosamente parece que não há uma versão em espanhol. Então pedimos a alguns compositores de língua hispânica uma versão mas elas vinham muito diferentes da canção original. Então resolvi fazer a versão em espanhol partindo da versão mais próxima, que havia sido feita pelo Luiz Gómez Escolar. Como o que ele me mandou, mexei em alguma coisa, tentei me aproximar da letra original do Tom e do Vinícius.

* - Como será a divulgação desse disco nos seus shows aqui no Brasil?
"RC" – Não será um show baseado no disco, até porque meus fãs sempre me cobram muito os meus clássicos, como “Detalhes”, “Emoções”, “Outra vez”, etc. É claro que haverá algumas canções desse disco. Entendo que você tenha me perguntado isso pelo fato de o disco ser todo em espanhol. Só vou colocar duas ou três canções do repertório em espanhol.

* - Na Jovem Guarda você tinha um estilo rebelde, esse rebelde ainda existe em você?
"RC" – A gente vai amadurecendo, e essa rebeldia se torna específica para alguma coisa; ela não fica generalizada. Essa rebeldia sempre existe, mas só para casos específicos, para coisas que exigem da gente uma certa rebeldia. O amadurecimento vai deixando a gente mais consciente, mais tranquilo, mais equilibrado, preocupado em buscar coisas que tenham um resultado que nos dê uma grande satisfação de coração, de espírito. É... não acho que eu seja o rebelde daquela época, embora às vezes a gente fique rebelde em alguns casos.

* - O que você acha do conjunto Planet Hemp?
"RC" – A rebeldia sempre traz alguma novidade, novas ideias, formas, linguagens, formas de tratamento de um disco ou de um show. Mas não conheço o trabalho do Planet Hemp. Talvez esse tempo que eu fiquei fora gravando o disco não me tenha deixado tomar conhecimento do trabalho deles.

* - É que eles foram presos por fazerem apologia da maconha.
"RC" – Ah, é? Então eu sou contra. Se realmente eles fazem um trabalho nesse sentido, como sou absolutamente contra as drogas, sou contra. Se houver qualquer música qualquer trabalho que seja de apoio às drogas, diretamente ou discretamente, ou mesmo sutilmente, eu sou absolutamente contra. Não sei o que aconteceu. Não sei se eles têm culpa. Só estou dizendo que se isso for uma verdade eu sou contra a apologia das drogas. Não conheço o trabalho do grupo.

* - O que você acha de eles terem sido presos?
"RC" – Não sei, porque são coisas que têm que ser analisadas de forma profunda, é necessário saber até que ponto isso levaria uma pessoa a ser condenada. Não é uma coisa para se falar sem conhecimento de causa e, portanto, não posso dizer nada. * Depois de gravar clássicos em espanhol você não pensa em gravar um disco de clássicos em português? RC – Uma das primeiras coisas que me vieram à cabeça quando vi esse disco pronto foi que eu poderia fazer um disco com as canções que eu amo que português.

* - Você se considera uma pessoa iluminada por Deus?
"RC" – Eu sou uma pessoa que agradece a Deus, todos os dias por aquilo que Ele me dá. E digo sempre que tudo que acontece comigo tem sido presente de Deus, porque na realidade o que fazemos é comandado por Ele. E Deus tem me dado esse presente de estar aqui na música e bem na minha carreira. Enfim, tenho sempre motivos para agradecer a Deus por tudo.

* - Qual foi a sua emoção ao cantar para o Papa no Aterro do Flamengo?
"RC" – Não dá nem para explicar com palavras, porque é uma coisa tão linda, tão emocionante, tão maravilhosa que nem sei explicar, mas você pode crer que foi uma das maiores emoções que tive na minha vida. Eu já havia tido uma emoção muito grande quando cantaram para ele a música “Amigo”. Agora imagine cantar uma canção para o Papa! É algo maravilhoso! E também beijar a mão do Papa, receber sua bênção, ganhar um terço de suas mãos, pegar esse terço, rezar nele e saber que me foi dado pelo próprio Papa... É uma coisa maravilhosa, que aumenta a minha fé e minha devoção.

* - A canção “Coração de Jesus” foi feita antes ou depois da missa no Aterro?
"RC" – Eu comecei antes. Não sei se ela estava pronta quando o Papa veio, mas já devia estar quase toda pronta. Eu digo isso porque quando estava fazendo a música com o Erasmo e fiz a frase “aqui estamos coração de Jesus” eu imaginei aquela multidão no Aterro, diante do Papa, pedindo essas graças a Deus.

* - Em 1967 você lançou a musica “Eu sou terrível”. O Roberto Carlos era realmente terrível na década de 60?
"RC" – Eu era o rapaz que tinha o direito de ser o que era naquela época, com a idade que eu tinha. Era um cara que gostava de tudo que um jovem gostava, de velocidade, de carro... Logicamente que continuo gostando. Não sei se isso é ser terrível, mas eu disse na canção que era terrível usando todos esses argumentos, essas coisas que faziam parte da personalidade de alguém que se considerava terrível. Terrível nesse ponto de ser arrojado nas coisas, enfim... é isso aí.

* - Você acha que a Igreja deveria rever seus conceitos sobre o divórcio?
"RC" – Acho que já está revendo mas considero o Papa um homem de conhecimento profundo da vida e do que se passa dentro e fora da religião. Acima de tudo eu o considero um homem sábio pelo equilíbrio, pelo cuidado, por tudo que tem feito, pela sua coragem. Você veja os lugares onde tem ido para manter a paz, sem se preocupar, com os perigos. Então tenho muita confiança nos passos da Igreja Católica. Vejo o cuidado das pessoas que assessoram o Papa e que discutem com ele diversos assuntos. Então, quem sou eu para discutir determinadas coisas que são discutidas por pessoas que sabem muito mais do que eu, que estudam muito mais profundamente determinadas questões e têm muito mais conhecimento do que eu e muita gente? Pode parecer lenta mas não considero lenta; considero a Igreja Católica cuidadosa, equilibrada.

* - Por que você não grava seus discos com o RC-9?
"RC" – De um modo geral a gente grava com músicos separadamente. Às vezes começamos uma base eletrônica para depois colocarmos os instrumentos, depois entram as cordas os sopros. E a minha banda está acostumada a tocar junta. Também meus músicos moram quase todos em São Paulo.

* - Qual a função do Mauro Motta nos seus discos, já que sabemos que você tem todo o controle do seu trabalho?
"RC" – No início da minha carreira era eu que dirigia quase todo o disco. Eu tinha uma ideia e levava para o estúdio, mas os discos passaram a ficar mais difíceis de serem produzidos. Antigamente a gente trabalhava com 3 ou 4 canais e em 2 dias se gravava tudo. Hoje a gente começa uma base com 4 ou 5 músicos para depois colocar os solos e em seguida algo eletrônico. Você vai vendo que a produção de um disco hoje é bem mais complicada. Até o momento da mixagem a produção de um disco já são 48 canais. Então o produtor é muito importante para administrar tudo isso, para trocar ideias. Por isso o trabalho do Mauro Motta é muito importante. Ele é um profundo conhecedor de música e isso me ajuda muito porque eu não sei música; eu toco e componho ouvindo.

* - Como está a ideia de lançar uma biografia?
"RC" – Eu estou pensando em lançar um livro há 20 anos e todo ano eu digo: Este ano eu vou começar. Foi igual aos filmes, quando depois de fazer o terceiro comecei a pensar em fazer o quarto. Já se assaram quase 30 anos e até hoje não fiz. Sobre o livro, já penso nisso há uns 20 anos e sempre digo que vou começar. Mas agora vou começar mesmo, só que deixei passar tanto tempo que acho que tenho que escrever uns três livros. Então estou pensando seriamente em começar a gravar depoimentos e dar para alguém transcrever, colocar de forma literária o que vou dizer.

* - Quem vai te ajudar?
"RC" – Ainda não escolhi ninguém. Por enquanto sou eu mesmo.

* - Qual a emoção de receber o Prêmio Shell, apesar de você ser um cantor popular e isso não agradar à crítica? Mudou você ou mudaram os críticos?
"RC" – Não me preocupei em analisar por esse lado. Somente me preocupei em agradecer por eles terem considerado que eu devia receber esse prêmio com o Erasmo. Fiquei muito contente, e a minha alegria pelo prêmio foi maior que qualquer análise que eu pudesse fazer. Um prêmio é sempre o reconhecimento pelo nosso trabalho, e não vejo porque questionar se foi a crítica que mudou ou eu mudei. O importante é agradecer pelo prêmio, agradecer a Deus e a quem achou que eu devia recebê-lo.

* - Você está ficando saudosista? O repertório desse disco vem do início da sua carreira?
"RC" – Saudosista não, mas realmente a gente começa a se lembrar de coisas do passado depois que se passa dos 40. Queremos gravar certas coisas, regravar outras, podemos querer ter um carro 1964... Tudo são lembranças. Outro dia me deu vontade de ter um Mustang 64, um Volkswagen 60, ainda meio alemão, coisas assim. Não sei se é saudosismo. Acho natural. Agora em relação à música, eu penso que o repertório antigo tem coisas muito bonitas que ouvíamos quando meninos e que hoje podemos gravar. Dá vontade de gravar o que ouvia e cantava na Rádio de Cachoeiro, mas não acho que seja um saudosismo. É realmente uma admiração por coisas muito bonitas do passado, coisas românticas. Hoje existe uma carência de música romântica. É claro que surge uma ou outra às vezes, mas antigamente esse tipo de música predominava. Houve uma época maravilhosa em termos de canções românticas. A gente sabe que a música romântica tem o seu lugar no mercado, sempre.

* - Já pensou em voltar a trabalhar como ator?
"RC" – O trabalho no cinema é maravilhoso. Fiquei encantado todas as vezes que fiz cinema. Passamos a entender a paixão que os cineastas e os atores têm pelo cinema. Agora, como ator nunca tive grandes pretensões, porque nunca me considerei um bom ator. Acho até que posso ter melhorado um pouquinho mas não penso em fazer filmes novamente.

* - Dizem que você é muito supersticioso. Tem medo da chegada do ano 2000?
"RC" – Nós estamos em 97, não é? Quer dizer... mas por que essas superstição em relação ao ano 2000?

* - Porque dizem que o mundo vai acabar!
"RC" – Com certeza não tenho essa superstição. Não tenho preocupação com o apocalipse. Sou muito otimista e vejo as coisas sempre pelo lado positivo. Até considerando a visão de São João no Apocalipse, a gente fica preocupado com a aproximação do ano 2000. Mas, por outro lado é a vontade de Deus. E que seja feita a Sua vontade. Agora, eu acredito mais no novo mundo do que no fim do mundo. Poderá acontecer muita coisa, mas acho que tudo será sempre para o mundo novo aquele que é o esperado por todos nós e prometido por Deus, o que Ele nos dará com Sua bondade e Sua misericórdia.

* - Por que escolheu “Insensatez” para gravar nesse disco?
"RC" – Possivelmente por ser uma das mais tradicionais canções do Tom Jobim. A sugestão veio numa conversa e eu falei: Essa é a música!

* - Você acha que suas músicas antigas são mais bonitas do que as atuais? Pergunto isso porque muitos cantores escolhem sempre as músicas dos anos 70 e no início de 80 para regravar.
"RC" – Veja bem, a maioria das regravações são sempre as canções de 10, 20 ou 30 anos atrás, de qualquer compositor. Quem sabe daqui há 20 anos as minhas composições de hoje serão também regravadas? Quem sabe se alguém dirá que gostava do Roberto Carlos de 1997? Sem dúvida hoje as mais procuradas pelos cantores são as mais antigas mas, com a graça de Deus, isso pode acontecer daqui a 20 anos se alguém buscar algo bem romântico no meu repertório. Eu não acho que fazia algo diferente ou melhor. Para mim é tudo uma questão de identificação, a as pessoas se identificam muito como tipo de canções românticas que eu e outros compositores fazíamos naquela época. Podemos esperar que daqui a 20 anos alguém também terá uma tia que dirá: “Ah, como eu gostava das músicas do Roberto Carlos dos anos 90”.

PÁGINA INICIAL VOLTAR ENTREVISTAS COMO É BOM SABER