ROBERTO CARLOS
Transcrição: Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

1994




Roberto Carlos na TV americana, no início de 1994.
Em Miami, a entrevistadora é Cristina, como todos nós, sua fã.


* C - Que importância você dá à idade das pessoas?
"RC" – Para mim isso não importa. Creio que a idade é uma coisa natural. O importante é que a pessoa se sinta bem com a idade que tem e que, sobretudo, se sinta jovem. Eu acredito que uma pessoa possa se sentir jovem com qualquer idade. Eu, com cinquenta e...

* C - De verdade?
"RC" – Sinto-me bem, sinto-me bastante bem e isto, para mim, é o que importa.

* C - Você sempre esteve nos primeiros lugares das paradas, com que idade você começou a cantar?
"RC" – Eu comecei a cantar em público com 9 anos. Cantei na Rádio Cachoeiro de Itapemirim; o nome é difícil mas a cidade é linda; pequena, porém, linda. Foi em minha cidade natal que cantei pela primeira vez, com 9 anos.

* C - Cantou uma canção em espanhol. Tiveram que lhe explicar o que queria dizer para que soubesse o que estava cantando? Porque você não fala bem o espanhol.
"RC" – Sim, na época eu não falava espanhol, e não falo bem hoje. Naquela época eu gostava do som, tinha uma identificação muito grande com o idioma. Sempre penso nisso. Eu cantei uma canção chamada “Amor y más amor”, que era um sucesso muito grande no Brasil cantada por Fernando Borel; “Tu no sabes cuanto te quiero / Tu no sabes lo que y tengo para ti / Tu no saber que yo te espero para darte / Amor, amor, amor y más amor”.

* C - Como se sentiu quando escolheram sua canção para comemorar a visita do Papa ao México? Qual a importância desse momento para você?
"RC" – Foi uma emoção fantástica. Eu soube de tarde, quando me disseram que haviam visto na televisão. Já tinha sentido uma emoção grande quando me disseram, mas quando vi pela televisão, me emocionei muito. Realmente foi uma emoção fantástica, principalmente quando o Papa cantou uma frase. Me faltou o ar!

* C - Sendo o Brasil um mercado tão grande, tão rico, tão importante em discos nos últimos 30 anos, que motivos existem para Roberto Carlos, Xuxa, Simone, Nélson Ned cantarem em espanhol, sabendo que podem vir a ser milionários e super-famosos somente em um país tão grande como o Brasil?
"RC" – Todo artista quer levar um pouco mais adiante sua mensagem, o que faz, o que canta, o que diz através de sua arte.

* C - Você é muito romântico na vida real? É como sua canção, ou não?
"RC" – Sim, sou romântico. Sou como nas canções, porque quando faço as canções estou passando exatamente o que sou. Sou romântico, às vezes, inclusive, à moda antiga.

* C - Como é um romântico à moda antiga?
"RC" – Desse tipo que manda flores, que escreve coisinhas e deixa em lugares onde possam ver. Daquele que a chama e diz: Olha, me esqueci, quando saí, de dizer-lhe mais uma vez, que lhe amo!

* C - Quantos grandes amores você teve em sua vida?
"RC" – Ah, não sei, Cristina. Grandes? Todos os amores são grandes. Às vezes, por períodos pequenos, mas o amor é grande. Às vezes temos um grande amor em um dia, e um amor imenso em uma semana, um amor imenso em dez anos, doze...

* C - Quando você se casou pela primeira vez, com Cleonice, houve muito agito, porque ela era uma moça da sociedade, e as pessoas se metiam muito no assunto, questionando se deveriam ficar noivos, casar ou não. Houve muito problema para você se casar com ela? Como isso afetou um homem tão romântico e sensível?
"RC" – Bom, a mim pessoalmente não afetou, porque para mim as questões de amor estão à parte de tudo. Quando se ama, se tem coragem, se faz o que o coração diz.

* C - Você teve que lutar muito para se casar com ela?
"RC" – Um pouco, mas o importante é que não me feri nessa luta.

* C - Quando sua ex-esposa morreu, você estava em tournée...
"RC" – Estava justamente aqui em Miami.

* C - E você suspendeu a tournée para viajar para o Brasil para se despedir dela. Isso não acontece com ex-maridos. Por que você fez isso?
"RC" – Ah, porque eu sou assim. Não sei lhe explicar, mas, para mim, era o correto. O que realmente eu deveria fazer era ir vê-la e estar com meus filhos, que sofriam. E eu também sofri muito com sua morte porque, apesar de já não estarmos juntos, éramos amigos, muito amigos. Para mim, foi muito importante fazer aquela viagem, cancelar tudo e fazer aquela homenagem a ela e a meus filhos.

* C - Você se aproximou mais de seus filhos desde que sua ex-esposa morreu?
"RC" – Não, nossa relação sempre foi muito próxima. Se nos aproximamos um pouco mais depois disso foi só um pouco. Nossa relação sempre foi muito próxima, muito mesmo.

* C - Aqui temos os nomes e as idades de seus filhos, e não tem nenhum artista. Temos: Roberto Carlos, de 25 anos, que trabalha com automóveis; Luciana, de 22, que estuda publicidade; Ana Paula, que era filha de Cleonice, e Fernando, de 28 anos, um novo filho...
"RC" – Rafael, Rafael...

* C - Rafael, um novo filho, o que se passou? De onde saiu um novo filho de 28 anos?
"RC" – É que faz uns três ou quatro anos, sim, quatro anos, um rapaz foi ao meu escritório e me disse que era meu filho e que propunha que eu reconhecesse a paternidade. Eu lhe disse: Bom, se existe algo que prove que eu sou pai desse menino (desse menino que já era um rapaz de 25 anos), não tem problema. Eu havia tido algo com uma moça muitos anos antes. Então, fizemos um exame de sangue, o DNA, e o resultado foi positivo. Então, reconheci a paternidade. Creio eu que isso é o correto.

* C - O que sentiu quando conheceu o rapaz? Quando viu que era seu pai, o que lhe passou pela cabeça?
"RC" – Vi que ele se parece comigo, e o recebi com muito amor. Afinal, a culpa não é dele, e sim, minha.

* C - O que pensaram os irmãos ou meio-irmãos, quando você lhes disse?
"RC" – Ficaram um pouco assim... Porém, depois começaram a aceitá-lo melhor.

* C - Se dão bem?
"RC" – Ah! Bom, agora sim. Não se conhecem pessoalmente, por falta de oportunidade. É que muitas coisas aconteceram nesses dois anos. Porém, já se aceitam, e creio que agora é só a oportunidade de apresentar-lhes pessoalmente o novo membro da família.

* C - Quando era criança, você tinha muitos sonhos e era péssimo em matemática. Certo?
"RC" – Sim, é certo. Mas a verdade é que música é um pouco matemática; poesia também. Porém, matemática de verdade, números, realmente não é o meu forte. Então, transferi o que deveria saber de matemática para fazer a matemática da música, da poesia.

* C - É verdade que você era um menino gordinho?
"RC" – Sim, gordinho; era bem gordinho, do tipo que às vezes ma chamavam de “bolão”.

* C - O que fez para emagrecer?
"RC" – Não sei. Da puberdade em diante comecei a emagrecer. Depois tive um tempo em que comecei a me desgastar muito.

* C - Faz dieta?
"RC" – Não, agora não. Somente não almoço; apenas janto. Como muito bem pela manhã, depois um sanduíche pela tarde e como muito bem à noite.

* C - Aqui temos que você não se contém diante de um pote de chocolate com creme chantilly!
"RC" – Ah, que maravilha! Tem um aí?

* C - É verdade que teve sua primeira namorada aos 12 anos e que não a vê desde a época em que casou?
"RC" – Sim, sim. Ela está casada, muito bem casada.

* C - Você era muito namorador?
"RC" – Bom, dentro da oportunidade que tinha... Na verdade, não as perdia.

* C - Você viveu com uma atriz, Myrian Rios, mas já se separaram. Esteve muito tempo com ela?
"RC" – Estivemos juntos bastante tempo mas já estamos separados há 5 anos.

* C - Ela era 18 anos mais nova que você. Isso não lhe dava nenhum complexo? Você gostava disso?
"RC" – Não, nenhum. Eu gostava muito dela, e para mim é o que importava. Importava é que... Por que?

* C - Bom, porque, como sua fã, tenho todos os seus discos e notei que naquela época suas canções se tornaram muito eróticas.
"RC" – Creio que agora estou começando uma fase, também, de fazer canções eróticas. Eu não diria eróticas; diria sensuais, porque minha atual namorada também é bem mais nova que eu; ela tem 20 anos menos do que eu. Digo sempre que o amor não é uma questão de idade. É um momento que acontece; olhamos e dessa olhada tudo acontece. Porém, eu não diria eróticas; as canções que fiz não são eróticas, eu digo que são sensuais.

* C - É verdade ou não que você é bem supersticioso?
"RC" – Não muito supersticioso, mas um pouco supersticioso. Um pouco porém não tanto quanto dizem. Na realidade fazem um folclore muito grande com as minhas superstições. Dizem que não faço isso, não faço aquilo, que ninguém pode estar de roxo ou marrom perto de mim. Eu não uso marrom porém não tenho nada contra quem usa.

* C - Qual é a razão para que você não use marrom?
"RC" – Na verdade, o marrom tem a ver com meu pai, que era contador de estórias. Ele contava muitas estórias e uma vez contou a mim e aos meus irmãos, que seu pai era um homem muito valente, não tinha medo de nada, porém não gostava de montar cavalo vestindo marrom. Era a única superstição que meu avô tinha. Ele se vestia de marrom, mas não quando cavalgava.

* C - E você não se veste de marrom?
"RC" – Não, eu vestia marrom quando era menino, mas na primeira vez em que fui a uma loja comprar umas roupas, o vendedor me ofereceu uma camisa marrom. E eu ia comprá-la mas quando coloquei a mão disse: Mas meu avô não usava marrom... E não comprei a camisa.

* C - Porém veste muito de azul e branco... Por que?
"RC" – Também me visto de amarelo. Pouco, mas me visto. O azul é uma cor que fui, pouco a pouco, usando mais. Me acostumei ao branco e ao azul. Porém há muito exagero a respeito de minhas superstições.

* C - Uma informação que tenho aqui sobre o livro Guiness Records: A comissão desse livro está estudando a possibilidade de incluir Roberto Carlos em sua publicação porque parece que é o único cantor no mundo que, durante 35 anos, sem interrupção, vem lançado dois discos por ano, um em português outro em espanhol. E o mais incrível é que nunca vendeu menos de 1,5 milhão de cópias com um álbum. Felicidades.
"RC" – Obrigado, obrigado.

* C - Como criou a canção “Amigo”?
"RC" – Essa canção eu fiz para a amizade, fiz para o meu amigo Erasmo Carlos, que é um rapaz que faz as canções comigo. Ele é como um irmão, faz muitos anos, e através dessa amizade dediquei esta canção à fraternidade, a esse sentimento tão lindo que é a fraternidade.

* C - É verdade que de todas as suas canções a sua favorita é “Detalhes”?
"RC" – Sim, é.

* C - Por que?
"RC" – Não sei...

* C - Este homem é uma maravilha para se entrevistar.
"RC" – Na realidade é uma canção que muitas coisas me levaram a fazê-la. Porém sempre digo que é a canção de que mais gosto. Mas a canção é como o próprio amor, e é difícil de explicar o porquê eu gosto tanto dela. Se o amor é uma coisa inexplicável, como vou explicar uma canção de amor? É difícil.

* C - Você é um homem de poucas palavras. Gosta de falar cantando, não é verdade?
"RC" – Sim, eu creio que gosto mais de falar cantando.

* C - Já que é um homem tão romântico, o que de mais romântico já fez para uma mulher?
"RC" – O mais romântico que já fiz para uma mulher? Eu creio que foram as canções que fiz para elas. Sim, para cada mulher que amei.

* C - Quando você interpreta “Mulher pequena” é porque já teve alguma mulher pequena?
"RC" – Sim.

* C - E por que nunca fez antes uma canção para a mulher pequena?
"RC" – É que, durante muito tempo, observei as mulheres pequenas. No Brasil temos, por estatística, quase 30 milhões de mulheres com menos de 1,60m e me dei conta de que no mundo latino, no mundo de língua hispânica, também existem mulheres pequenas, muitas mulheres com menos de 1,60m. Então observei a beleza da mulher pequena, o charme da mulher pequena, a delicadeza da mulher pequena e a sua sensualidade.

* C - Eu quero lhe fazer uma perguntinha com respeito a seu filho. Como, depois de tanto tempo, depois de tantos anos, você vê o aparecimento de um filho?
"RC" – Eu não sei, exatamente, porque ele levou tanto tempo para chegar à conclusão de que era meu filho e que deveria me procurar para que eu o reconhecesse. Ele me disse que foi porque não tinha muito acesso a mim e que também não sabia como comprovar. Eu creio que, quando apareceu essa exame, o DNA, isso lhe deu muito mais confiança para chegar e pedir o reconhecimento da paternidade.

* C - Você não suspeitou que por sua condição econômica esse rapaz poderia tentar se aproveitar?
"RC" – Nunca pensei nisso, porque, seja como for, se ele é meu filho, tinha que ser assim.

* C - Roberto, eu gostaria de saber em que você se inspirou para fazer “O côncavo e o convexo”.
"RC" – Eu comecei me inspirando na forma geométrica, no côncavo e no convexo que realmente se encaixam de forma perfeita. Bom, aí me dei conta de que o corpo tem as duas formas, tem a forma do côncavo e do convexo. Vamos dizer, com muito respeito, saliência e reentrâncias que realmente se encaixam de forma perfeita.

* C - Roberto, quais os seus projetos futuros para sua vida profissional e pessoal?
"RC" – Já comecei a fazer um outro disco em espanhol, tenho uma tournée por todo o Brasil com meu novo show. Depois devo fazer uma tournée pelo México e, então, volto ao Brasil para começar um novo disco em português. Bem, esses são os meus planos até setembro mais ou menos.

* C - Onde está a ‘Mulher Pequena”, em que LP?
"RC" – Neste LP que...

* C - Como se chama?
"RC" – A mulher pequena?

* C - O LP?
"RC" – O LP? O LP não tem um nome. Se chama Roberto Carlos, digamos 94.

* C - E dedicando a música “Mulher Pequena” à entrevistadora Cristina, Roberto Carlos encerrou o programa todo falado em castelhano.

PÁGINA INICIAL VOLTAR ENTREVISTAS COMO É BOM SABER