ROBERTO CARLOS
entrevista concedida a Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

junho / 1996




Roberto Carlos volta aos palcos, onde, como se diz, se sente em casa.
É o seu novo show “Amor”.
Paro e me pergunto: Por que terá ele demorado tantos anos para colocar esse nome em um show,
já que o amor está presente em tudo que canta, em tudo que fala,
seja a mulher amada, sobre a humanidade ou ao falar em Deus?
Com a temporada de Roberto com seu “Amor”, no Metropolitan, não poderíamos fugir desse assunto.

* Por que você, um cantor romântico desde o início de sua carreira, só agora coloca o nome de “Amor” em seu show?
"RC" – Há muito tempo eu vinha pensando em colocar esse nome num show. Agora resolvi colocá-lo. Mas em todos os meus shows o amor sempre esteve presente.

* Quais as grandes diferenças neste show?
"RC" – A grande diferença está na iluminação e no roteiro. Não vamos falar de números em relação à luz, mas as cifras não são tão absurdas assim. E vale a pena. Às vezes um efeito especial pode custar mais do que um investimento desses. Eu quero sempre levar o melhor ao meu público e por isso procuro sempre caprichar.

* No show “Detalhes” você cantava com violão, num número acústico. Agora você volta a usar o violão em suas músicas. Como surgiu essa idéia?
"RC" – Ela surgiu no Especial de 95 para a Globo, quando o diretor Jorge Fernando sugeriu que eu cantasse “Sua estupidez” com violão. É uma música que há muito tempo não estava nos roteiros de meus shows. Gostei da idéia e resolvi colocar, também, no espetáculo, junto com “Não quero ver você triste”. Eu já havia tocado violão no “Detalhes”. O show é romântico como todos os que eu tenho feito, mas esse tem uma dose maior de romantismo, e o número se encaixou bem.

* Você toca bem violão?
"RC" – Geralmente eu só o uso para compor ultimamente, como tenho composto muito ao piano, ele ficou um pouco abandonado. Eu não toco bem, mas o momento é bonito e ficou bem natural. Com a continuidade do show acho que aos poucos as músicas irão ficando melhores. Quando começamos a ensaiar pensei em colocar alguém tocando, mas o músico não ia fazer as paradinhas ou marcar o ritmo com naturalidade, como eu faço. Daqui a algumas semanas eu recupero a intimidade com o violão, pois sei quais são os acordes de “Não quero ver você triste” e “Sua estupidez”. * Há pouco tempo você assinou um contrato com a Nestlé, que tem como destaque em sua campanha a música “Como é grande o meu amor por você”.

* É esta a música que abre e encerra seu show. Isto está previsto no contrato?
"RC" – Foi uma grande coincidência. Quando eu estava escolhendo o roteiro do show, com o Miele, eu já tinha decidido que queria cantá-la. Depois, ao me reunir com o pessoal da Nestlé, soube que eles tinham a frase “amor por você” para o slogan da campanha. Então sugeri que a música entrasse na campanha. Acredito que tenha sido uma coisa de Deus.

* Qual o critério para a escolha das músicas com o tema amor?
"RC" – Depois que escolhi o nome do show percebi que é uma palavra que diz tudo. O amor está sempre presente no meu repertório, e assim posso cantá-lo de muitas formas. Mas sempre destaco a maior delas, que é o amor a Deus.

* Como você recorda a Jovem Guarda 30 anos depois? Que avaliação você faz do movimento?
"RC" – Até quando recordo a Jovem Guarda na música “Jovens tardes de domingo” e no pout-pourri que se segue eu faço um comentário romântico. Existia muito romantismo naquela época. A Jovem Guarda é inesquecível para quem teve a oportunidade de presenciá-la. A saudade é muito grande.

* As músicas daquela época tinham consistência?
"RC" – Muita, tanto é que até hoje elas são regravadas. Isso dá grande importância ao movimento e mostra que o que se fazia na época não pode ser esquecido. A música “Não quero ver você triste”, por exemplo, foi feita em 64 e até hoje é muito bem recebida. A Jovem Guarda permanece interessante para o artista e para o público.

* Em mais de 500 músicas gravadas, como é feita a escolha do repertório do show?
"RC" – Primeiro a ideia do que o público quer ouvir. Algumas músicas, como “Detalhes” e “Outra vez”, já fazem parte do roteiro; poderíamos até dizer que são fixas. No meu show anterior, “Luz”, me cobravam muito a falta de “Cavalgada”, e em “Amor” ela está muito bonita, com a luz seguindo as viradas dos arranjos do maestro Eduardo Lages. E a gente sempre pega algumas canções antigas, como os casos de “Como vai você”, “Não quero ver você triste” e “Sua estupidez”. Também tem a Jovem Guarda, que sempre costumo homenagear.

* Mais uma vez a sua religiosidade está presente no espetáculo.
"RC" – Desde o começo dos anos 70, quando gravei “Jesus Cristo”, venho colocando uma mensagem em cada disco e sempre procuro encerrar meus shows com um bloco religioso. Essa repetição não é por acaso; é de propósito. Para mim, terminar um show rezando através das minhas músicas me deixa muito feliz. Quando eu canto “Nossa Senhora” há a projeção da imagem de Maria, aquele é para mim um dos momentos mais marcantes do espetáculo. Infelizmente a imagem de Cristo, na música “Jesus Cristo”, ainda não está tão marcante. A foto que colocamos não é a ideal, não tem uma definição perfeita. Estou pensando em trocá-la para que as formas da imagem de Jesus fiquem mais nítidas.

* Certas canções, como “Como é grande o meu amor por você”, “Outra vez” e “Como vai você”, têm finais com a participação dos fãs. Como você sente essa troca de emoções?
"RC" – Em alguns shows as músicas não voltavam para mim; se encerravam na voz da plateia. Mas agora resolvi encerrar as canções depois da participação do público. Isso começou com “Outra vez”, no final dos anos 70. Nos shows “Coração” e “Luz” eu fazia, até, brincadeiras com a plateia. Antes o público ficava meio tímido e não se soltava muito mas hoje perdeu a timidez, tem mais liberdade e fica mais à vontade para cantar comigo. E é claro que adoro essa participação, esse carinho.

* Qual a sua rotina antes de entrar em cena?
"RC" – Rezo, sempre, antes de cada show e faço aquecimento de voz. A emoção de pisar no palco é muito grande. Tem sempre aquele nervosismo, e ele só desaparece depois de algumas músicas. Agora, na estreia a tensão é maior. Quando entro no palco e canto diante de amigos, os sorrisos e os aplausos da plateia me acalmam.

* As constantes viagens e os shows não te cansam?
"RC" – Isso faz parte da vida de qualquer artista. Viajar com um show é um grande prazer, e neste caso acho a estrada uma coisa maravilhosa.

* As pessoas sempre perguntam: Por que você não volta para o bis?
"RC" – A verdade é que eu fico muito tempo no palco distribuindo flores. Mas nas vezes em que a distribuição das rosas dura pouco o pessoal acaba pedindo bis. E aí volto e canto algumas músicas, que podem ser “Amada amante”, “Café da manhã”, “À distância...”. Não é um roteiro fechado.

* Como você vê as críticas em relação às músicas que homenageiam as mulheres pequenas, as gordinhas e agora as mulheres de óculos?
"RC" – Isso não me incomoda, principalmente porque as mulheres que foram homenageadas estão contentes. E isso compensa tudo. Todas essas homenagens foram espontâneas. A beleza da mulher não se prende à altura, peso, idade ou cor. Quem sabe se no futuro eu não faço uma canção pensando nas mulheres altas ou nas magras?

* Depois de tantos anos você ainda sente prazer em subir no palco?
"RC" – Eu gosto muito do que faço e isso me dá um grande prazer. Músicas como “Jovens tardes de domingo” ainda me emocionam demais. É como se eu estivesse cantando pela primeira vez.

* No seu aniversário, em Belo Horizonte, o público se emocionou e até chorou. Qual o segredo desse sucesso?
"RC" – Não sei, para mim isso não tem explicação. Só tenho que agradecer a Deus por todo esse carinho.

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