ROBERTO CARLOS
Transcrição: Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

09.01.1994




Trazemos aqui uma entrevista internacional
que foi publicada no jornal colombiano “La Gente” em 09 de janeiro deste ano.
O original é todo em espanhol. Você vai ler uma das mais bonitas entrevistas de Roberto Carlos.
Até o Papa cantou, em um espanhol centro-europeu, sua canção “Amigo”
e as baleias têm nele seu maior defensor público.
Vive no Rio, em um apartamento com vista para o mar,
tem no amor sua base de vida e é um autor no qual jamais se vê esgotada sua sensibilidade,
apesar de estar, há muitos anos, criando letras que têm dado volta ao mundo.

* - Um companheiro jornalista que havia pouco lhe entrevistado, comentou que você faz boas colocações sobre o que lhe perguntam.
"RC" – Não sei. Sempre digo o que penso. Não faço relações públicas. Sempre digo que sou como as canções que canto, romântico, e o que eu gosto está em minhas canções.

* - Sabe me dizer quantos discos já gravou?
"RC" – Talvez 34 ou 35. É o meu trabalho de muito tempo.

* - Onde você encontra a inspiração, depois de tantos anos compondo?
"RC" – A principal e a mais rica é a vida. Olhando-a e observando-a, tenho todos os temas para fazer canções. E isso é o que faço: observo, escuto, vejo coisas, estórias e, às vezes, não há vivências mas, sim, imaginação.

* - Não tem nenhum truque de autor?
"RC" – Bom, sempre levo um gravador no bolso, onde registro o que me vem à mente, seja músicas ou letra, ou as duas. Em outro momento, ouço o que registrei e, se gosto do resultado, chamo o meu amigo Erasmo Carlos, pois é com ele que costumo compor, normalmente, e aí começamos a trabalhar.

* - Alguma vez já lhe passou pela cabeça deixar a música?
"RC" – Não. Nunca pensei em me retirar da música. Esta é a minha vida e amo o que faço. Gostaria de cantar sempre.

* - Por que seu novo disco não tem um título?
"RC" – Já me chamaram a atenção sobre isso. Ainda que aqui não seja muito frequente, no Brasil é comum ter apenas o meu nome ou o da música de trabalho no disco.

* - Roberto Carlos é, junto com Pelé, o brasileiro mais universal. Suas canções românticas lhe deram a chave do êxito. Cantar em castelhano é uma concessão?
"RC" – Me sinto muito bem cantando em espanhol. Isso foi uma coisa que ocorreu há muitos anos, quando gravei o segundo disco, e Alberto Caldeiro, que era presidente da CBS na Argentina, deu a ideia ao Evandro Ribeiro, que era presidente da CBS no Brasil. Achei muito interessante fazer disco em castelhano, porque o artista sempre quer chegar a muita gente, ser conhecido em muitos países.

* - E você se adaptou ao idioma?
"RC" – Me adaptei, inclusive a primeira canção que cantei no rádio, aos 9 anos de idade, foi em espanhol, porque era o grande momento dos boleros.

* - O amor é o único tema pelo qual você se interessa? "RC" – É o que mais me interessa. Mesmo quando eu trato de outros temas, sempre existe uma menção ao amor. O mesmo quando falo de sensualidade, em canções como “Proposta” ou “Seu corpo”. Quando falo da Natureza, estou falando de amor e quando falo de Cristo, aí existe mais amor ainda.

* - Você é tão suave e vibrante como suas canções?
"RC" – Sou romântico e, como tal, desfruto de tudo que o amor pode nos dar. Logicamente, faço orações falando disto, afinal tudo com amor sai melhor.

* - Se considera uma pessoa rica neste tema, já que está em seu terceiro casamento?
"RC" – Eu me vejo muito bem em tudo isso. Os dois matrimônios anteriores, que duraram 10 anos cada um, foram experiências muito boas, e não posso dizer que não foi bonito estar tanto tempo junto a uma pessoa. Acredito que o importante é haver um intercâmbio de amor, e eu o vivi. Uma vez disse a um amigo que era uma pena que tivesse separado de sua mulher; ao que ele me falou: “Sim, é muito triste, mas tive uma alegria muito grande durante os 10 anos em que estive com ela”. Ele olhava o lado positivo.

* - Podemos, então, supor que o compositor de canções românticas é frágil?
"RC" – Não sei, nunca parei para pensar nisso. Não me sinto frágil, nem muito forte.

* - Chora com facilidade?
"RC" – Sim, choro com facilidade. Se algo me toca, não consigo segurar as lágrimas.

* - E quando foi a última vez?
"RC" – Faz três dias.

* - O que lhe fizeram?
"RC" – Não, nada. Simplesmente uma sobrinha, que vai fazer a primeira comunhão, telefonou e me disse que estava muito triste porque não estávamos com ela, nem minha mulher e nem eu. E isto me comoveu.

* - Você sabe misturar as lágrimas com um toque de humor?
"RC" – Sim, também sempre estou fazendo piada das coisas que acontecem.

* - Pois suas canções não refletem isto.
"RC" – Bom, em algumas canções podemos notá-lo, ainda que reconheça que é um humor...

* - Light?
"RC" – Sim, light é a palavra exata.

* - Você se diria um cantor para os namorados?
"RC" – Eu acredito que para o amor, e o amor é para todo mundo. Alguém sempre está se apaixonando e, por isso sempre escuta com maior interesse as canções românticas.

* - As canções religiosas são habituais em seus discos. No último existe uma “Luz Divina”.
"RC" – É que sou muito religioso. Desde que gravei uma música cujo título é “Jesus Cristo”, que fiz há muitos anos, me propus fazer em cada disco uma canção que chamo de mensagem. Àquela, surgiram “Todos estão surdos” e “O homem”, que fala de Jesus. Logo fiz outras com outros tipos de mensagens, falando de ecologia, de fraternidade ou contra as drogas. Porém, sempre estou falando de Cristo ou de coisas religiosas em minhas letras. Esta, “Luz Divina”, é uma das mais recentes e que me traz muita alegria, porque, ao terminá-la, disse: Nesta canção estão as coisas que gostaria de dizer desta forma, porque tudo se encaixou e não tive que mudar nada.

* - Li que suas canções entusiasmaram ao Papa.
"RC" – Não sei se é verdade. Sei que, em um encontro com jovens no México cantaram “Amigo” para ele, e lhe deram a letra. E ele cantou uma parte da canção. Foi para mim uma emoção muito grande.

* - Você o conhece?
"RC" – Não pessoalmente, mas fui a uma missa celebrada por ele no Panamá.

* - Como vai seu compromisso com o mundo?
"RC" – Sempre que posso fazer algo em benefício do mundo, ainda que seja uma gota, uma coisa pequena, faço. Sempre que posso dar uma mensagem, que posso alegrar alguém com minha palavra, diretamente ou através de canções, ou dizer-lhe que não está só, gosto de dizer. Inclusive, quando canto uma canção de amor triste, e alguém ouve essa canção e vive a mesma história, essa pessoa não se sente sozinha, se dá conta de que outras vivem histórias como a sua. E esses são meus compromissos, seja falando a palavra de Deus, de ecologia, ou, simplesmente, falando do amor.

* - Coloca seus discos para ouvir em casa?
"RC" – Muito pouco. Só quando termino de gravar, para saber como saiu e fazer uma análise.

* - E gosta?
"RC" – Gosto, porém sempre penso que poderia fazê-lo melhor. Ainda que quando o estivesse fazendo tivesse me detido muito nos detalhes.

* - Você é de todo inacessível?
"RC" – Não, estou em contato com o mundo. Na Urca, bairro onde vivo no Rio de Janeiro, onde estou há 15 anos, vou à missa aos domingos, e já estão acostumados, não me olham como um estranho; inclusive se aproximam para conversar comigo.

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