ROBERTO CARLOS
Transcrição: Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

julho / 1989




Há dois meses, Roberto Carlos fez dois shows em Portugal,
e é claro que o nosso Rei encantou seus súditos lusitanos.
Com ingressos vendidos com quase dois meses de antecedência,
Roberto apresentou no Porto e em Povoa de Varzim
a versão internacional do show “Amor sem limite”.
Em 1989, quando esteve em Portugal para fazer um show na Ilha da Madeira,
ele deu uma entrevista que faz parte do acervo do Grupo Um Milhão de Amigos.
Vamos conferir juntos o que ele disse naquela ocasião?

* - Qual o seu nome completo?
"RC" – Roberto Carlos Braga

* - Idade?
"RC" – Eu já fiz 35... sempre digo que sou um pouco mais velho do que os meus filhos e um pouco mais novo do que minha mãe.

* - Estado civil?
"RC" – Casado, pela segunda vez.

* - Tem filhos?
"RC" – Do meu primeiro casamento, sim do segundo, não.

* - Onde e quando você nasceu?
"RC" – Nasci no dia 19 de abril, em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo.

* - E seus estudos?
"RC" – Eu fiz até o primeiro científico, hoje não sei como se fala. Na época vinha o primário, o colegial e o científico. Já nessa época tentava ser cantor profissional e abandonei os estudos.

* - Como foi a sua infância?
"RC" – A minha infância foi com muito amor. Vivi em Cachoeiro com meus irmãos e meus pais, somos quatro filhos: Lauro Roberto, Carlos Alberto, Norma e eu. A minha mãe se chama Laura Moreira Braga e meu pai Robertino Braga. Nós vivíamos em Cachoeiro de Itapemirim e tive uma infância muito feliz com a liberdade de menino do interior, o que é uma coisa muito boa.

* - O que você fazia antes de cantar?
"RC" – Antes de cantar eu estudava. Depois, no Rio de Janeiro, houve uma época em que eu consegui emprego numa boate cantando como crooner, aos 17 anos. E aí cantei nessa boate durante quase dois anos. Mas, graças a Deus, consegui fazer sucesso com as gravações de “O calhambeque” e “Parei na contra-mão” e então parei de trabalhar e me dediquei totalmente à música.

* - Você só começou a cantar nessa ocasião, com 17 anos?
"RC" – Não , eu comecei a cantar muito jovem, muito pequenininho. Eu cantei pela primeira vez em rádio com 9 anos de idade.

* - A onde é que foi?
"RC" – Foi em Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Cantei pela primeira vez num programa infantil. Minha mãe queria que eu fosse médico e eu pensava também em ser médico mas quando cantei pela primeira vez num auditório, diante de um microfone numa emissora de rádio, e recebi aqueles aplausos deixei de pensar na medicina. Mas eu canto desde pequenininho, desde muito menininho.

* - Havia em você alguma inclinação para exercer a medicina?
"RC" – Eu acho que não, eu acho que na realidade era porque minha mãe achava bonito ter filho médico, porque o médico ajuda as pessoas... Então isso me fascinava no sentido de servir, de ajudar. Mas a minha vocação mesmo era ser cantor.

* - Mas eu posso dizer que você como cantor também ajuda milhões de pessoas.
"RC" – Eu espero e acho que é sempre bom quando a gente pode ajudar a alguém.

* - Há 30 anos você consegue se manter no topo de sua carreira com sucessos atrás de sucessos. Qual é o segredo?
"RC" – Eu não sei qual é o segredo, só sei que agradeço sempre a Deus por isso. Essas coisas a gente tem que agradecer a Deus, o que é muito mais importante do que saber qual é o segredo. Então eu agradeço a Deus a todos os instantes por isso.

* - Você tem uma vida super agitada. Como consegue acompanhar esse mundo que o rodeia?
"RC" – Realmente é uma corrida muito grande, e a gente tem que estar muito atendo às coisas que estão acontecendo para não começar a ficar sem saber o que acontece.

* - E consegue ficar atento?
"RC" – Consigo, graças a Deus consigo. É só a gente ter um pouquinho mais de trabalho para ficar atualizado a tudo e ficar sabendo tudo o que está acontecendo no mundo, principalmente no país da gente. Eu que estou sempre viajando fico preocupado e saber o que está acontecendo lá no Brasil, então tenho que me atualizar, receber os jornais, conversar com os amigos que ficam no país.

* - E no mundo, o que preocupa mais?
"RC" – Eu acho que tem muitas coisas no mundo que preocupam a gente. Como brasileiro me preocupa muito a situação que o Brasil atravessa, que a gente sabe que é delicada. No mundo são muitas as preocupações mas as principais são as crianças de outros países que passam necessidades, o racismo, como que eu não concordo, e a preocupação com a natureza. Isso tudo me preocupa em relação ao futuro. O homem precisa, rapidamente, tomar providências seríssimas com respeito à natureza porque nós vivemos dela, nós vivemos da Terra e do que ela nos dá, então nós não podemos agredi-la. E dentro desse tema natureza, desse tema ecologia, temos a questão da Amazônia, que é uma grande preocupação do mundo com o que está acontecendo com a região. Então são muitas as providências que temos que tomar com relação à natureza e com tudo isso que eu falei.

* - Você gosta de política?
"RC" – Eu nunca pensei em ser político, em ingressar na política diretamente, mas a gente sabe que ela é uma grande preocupação. A minha preocupação em relação à política é saber quem são as pessoas que estão lá. Esse é que é o grande problema, porque é com as pessoas que estão nela que a gente tem que se preocupar.

* - Gostaria que falasse de três homens públicos: o Papa João Paulo II, George Bush e Mikhail Gorbachov.
"RC" – Bem... é uma coisa muito difícil. George Bush está começando o seu governo nos Estados Unidos e ainda não conheço tanto, mas sabemos que no começo do seu governo ele está tratando de fazer as coisas como devem ser feitas. Gorbachov está fazendo coisas que a gente nunca tinha visto acontecer na União Soviética, então a gente fica surpreso e me parecem medidas bastante boas; esperamos que ele tenha sucesso nisso. E o Papa... Bom o Papa, para mim, é uma pessoa muito especial. Realmente o Papa João Paulo II tem feito coisas surpreendente, fantásticas. Do Papa eu conheço um pouco mais para falar, e toda essa demonstração de coragem que ele tem dado ao mundo tem sido algo emocionante, me comove, me sensibiliza e me faz cada vez mais acreditar que esse Papa é um homem especial, uma pessoa especialíssima e que está cumprindo a sua missão de uma forma maravilhosa junto com Deus.

* - Você já esteve com o Papa?
"RC" – Ainda não, mas eu gostaria muito, seria uma emoção maravilhosa.

* - Então dessas pessoas citadas a que você tem mais admiração é o Papa?
"RC" – Sem dúvida alguma é o Papa.

* - Percebo que falar de política não é seu assunto predileto.
"RC" – Não, não é, mas é uma coisa que a gente tem que pensar. Não adianta pensar e não gostar de política e não se preocupar com a política. Temos sempre que nos preocupar com ela.

* - Só mais uma coisinha de política. Você alguma vez pensou em se candidato à presidência da república?
"RC" – Eu tenho muita vontade de ajudar o meu país, embora nunca tenta pensado em ser presidente da república, mas tenho muita vontade de ajudar o Brasil. E quando a gente tem vontade de ajudar, com o passar do tempo nos faz pensar em muita coisa que anteriormente a gente não teria pensado. Então, embora eu nunca tenha pensado em política, não sei se no futuro eu poderia vir a pensar numa candidatura política. Mas seria apenas pela vontade de ajudar o Brasil, não por vocação ou por qualquer outra coisa. Hoje a política não me atrai.

* - Mas você não me respondeu. Você poderia ajudar sendo presidente da república?
"RC" – Sendo presidente da república... Aí já complica, porque já pensei em ajudar o Brasil de muitas formas, dentro da minha profissão, mas como presidente da república não sei exatamente o que teria que ser feito. Eu sou um homem de música, mas eu acho que o Brasil precisa de um empresário de muita visão na presidência.

* - Para você esse presidente teria que administrar como se fosse uma empresa?
"RC" – Não sei se estritamente assim, mas que pelo menos tivesse o conhecimento de finanças, de números e de empresas. Eu acho que assim ajudaria bastante. Por isso que eu apoiei a candidatura do Antônio Ermírio de Moraes quando ele foi candidato ao governo do Estado de São Paulo. Ele é um empresário experiente, é um homem que lida como empresas do Grupo Votorantim, que é algo fantástico. Só um homem de muita visão que poderia dirigir tudo aquilo. Então eu acho que ele seria uma das pessoas indicadas, no momento é o mais indicado para ser presidente da república.

* - Muitas de suas canções falam de Deus. Por que esse gosto de falar de Deus em suas músicas?
"RC" – Porque realmente eu acredito em Deus, em Jesus Cristo, e eu falo nas minhas canções as coisas que fazem parte das minhas verdades, da minha crença, do meu amor. Por pensar assim é que nas entrevistas e nas canções eu falo sempre em Deus e em Jesus. Eu sou religioso, sou católico praticante e acho que é muito importante a religião na vida das pessoas e importantíssima a presença de Deus em nossas vidas.

* - Com tantas viagens como você consegue ir à missa todos os domingos?
"RC" – A gente dá um jeito, quando a gente quer sempre dá um jeito.

* - De onde é que surgem os temas de suas músicas?
"RC" – A minha musa principal é a vida, eu sempre digo que observando bem a vida a gente tem sempre alguma coisa a comentar na música. Então é observando a vida que tenho feito músicas.

* - Mas dá para se tornar música, como é que acontece?
"RC" – É muito simples, a inspiração vem em momentos imprevisíveis, posso estar dirigindo o carro, dentro do avião, em casa ou num hotel, e de repente eu começo a pensar num tema e nesse momento posso fazer um verso ou dois e até desenvolver uma parte da melodia. Enfim, esse é o momento da inspiração. Mas também tem o momento da transpiração, o momento que vem depois, em que você vai buscar naquele tema o que tem a mais para se comentar e dizer. Porque a inspiração é uma coisa superficial e a transpiração é algo mais profundo. Não sei se dá para entender.

* - Quando você veio pela primeira vez em Portugal? Você se lembra?
"RC" – Eu me lembro, faz muito tempo, acho que por volta de 1966, e foi uma corrida terrível porque cheguei de manhã, me apresentei num programa de televisão, e voltei para o Brasil à noite. Foi uma experiência incrível porque só conheci o caminho do aeroporto até a emissora e depois o da televisão até o aeroporto. Passei no hotel só para comer alguma coisa e voltar logo. Depois eu voltei a Portugal uma outra vez, também tudo muito rápido, não me lembro quando, no ano passado e agora estou vindo da forma como gostaria de vir, com mais calma. Só que quero vir um dia a Portugal para passear, sem compromissos, para conhecer tudo, para ir a Fátima onde ainda não fui e gostaria muito de ir. Enfim, conhecer mais Portugal e desfrutar de tudo com um pouco mais de calma e tranqüilidade.

* - Mas você acha que sendo um ídolo aqui irá ter essa calma e tranqüilidade?
"RC" – A gente sempre dá um jeitinho, aquele jeitinho brasileiro.

* - No ano passado você cantou em Estoril, prometeu voltar e está voltando agora, quinze meses depois. Como se sente neste retorno?
"RC" – É bom, fico muito feliz em fazer shows mais populares como irei fazer agora, mais para o povo. Isso para mim é muito importante. Eu gosto de cantar para todos os públicos e fico sempre muito preocupado quando não posso cantar para todos. Isto sim me preocupa. Desta vez, vir a Portugal e cantar para vários tipos de público está me dando muita alegria.

* - Além de Estoril você já fez shows em Portugal, em Braga e em Faro. Como foram essas apresentações?
"RC" – Para mim, em todas as vezes que me apresentei aqui sempre fui recebido com muito amor pelo público português, algo maravilhoso. Eu tenho sentido realmente uma coisa bonita vindo dos portugueses, então tem havido uma troca de amor muito grande entre nós e isto me alegra muito.

* - Você está vindo de shows da Espanha. Como foi lá?
"RC" – Foi tudo muito bem, fiz dois shows lá e fiquei muito contente com os resultados. Foi ótimo.

* - Sei que você vai cantar um grande clássico da música portuguesa. Pode nos adiantar?
"RC" – “Coimbra”. Gravei essa música há muito tempo, em 1965, e estou pensando em gravar mais outras canções portuguesas nos meus próximos discos. Tem três ou quatro canções que gostaria de gravar. Uma que gosto muito é “Nem às paredes confesso”, que acho maravilhosa. Vamos ver dessas canções qual irei colocar no disco, mas sempre é um prazer cantar canções portuguesas, principalmente uma canção com esse romantismo.

* - Você sabe a letra de “Nem às paredes confesso”?
"RC" – Não, não sei direito não, preciso aprender melhor, mas é uma letra muito bonita. Mas eu prometo a você que depois que eu gravar, quando você me entrevistar eu canto um pedacinho.

* - Essa sua vontade de gravar canções portuguesas é um ato de simpatia com o povo português ou envolve outra coisas a mais?
"RC" – Envolve algo mais sim. Você sabe que a convivência desenvolve muito os sentimentos da gente e abre os caminhos desses sentimentos. Então, convivendo com os portugueses, nesses anos todos esses sentimentos começam a se desenvolver e dá mais vontade em conviver com as coisas portuguesas, participar mais. Eu já gostava dessas canções mais estando aqui começo a ter vontade de cantar o cancioneiro português.

* - Fale um pouco da grande cantora portuguesa Amália Rodrigues?
"RC" – Amália é um ídolo, sem dúvida alguma é a cantora portuguesa mais importante no Brasil e no mundo. Eu digo de sua importância no Brasil porque em Portugal é óbvio. No Brasil e no mundo o respeito que se tem por ela é uma coisa que os portugueses têm que se orgulhar de uma artista e cantora como ela.

* - Você sabe que a Amália completa esse ano cinqüenta anos de profissão?
"RC" – Isso é uma coisa maravilhosa, que Deus projeta e abençoe a Amália, que ela seja sempre essa pessoa maravilhosa. Eu conheço a Amália pessoalmente muito rapidamente, apenas de cumprimentar, mas ouço falar coisas muito bonitas dela. Então isso me faz ver que além de ser uma cantora e uma artista maravilhosa a Amália também é uma pessoa maravilhosa, de muitos bons sentimentos.

* - Roberto, estou te entregando mais de mil cartas que recebemos de nossos ouvintes para você.
"RC" – Muito obrigado, é uma coisa que recebo com muito carinho, com muito amor, e fiquei muito feliz quando vi o número de cartas e pude vê a atenção dessas pessoas todas comigo. Isso é uma demonstração de amor e esse tipo de demonstração eu curto demais, como nós dizemos no Brasil. Muito obrigado a todas essas pessoas que me escreveram. Eu não li as cartas ainda, mas muito obrigado a elas por terem me dado essa atenção, esse amor.

* - Nós gostamos muito do Roberto Carlos e sei que você gosta muito dos portugueses. Quando você pensa em voltar para cá?
"RC" – No ano que vem, mais ou menos na mesma época. Se não for um pouquinho antes é mais ou menos nessa época mesmo.

* - Você dá certeza?
"RC" – Olhe... pelo menos já estamos tratando de reservar as datas para que não haja nenhuma modificação nos planos.

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