ROBERTO CARLOS
Transcrição: Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

dezembro / 1998




O principal objetivo do Grupo Um Milhão de Amigos
é fazer do fã um verdadeiro conhecedor da obra e da carreira de Roberto Carlos
e, por que não, do próprio Roberto.
Quem é esse ser tão importante em nossas vidas, o que pensa, o que sente,
como se relaciona com o sucesso, com as pessoas...
Para conhecê-lo melhor, nada como conhecer o que ele fala, como nesta entrevista à Rádio Tupi, em dezembro de 1998.

* - Roberto, é sempre um grande prazer conversar com você.
"RC" – É um prazer todo meu estar com vocês, com meu público, e já vou agradecendo todo esse carinho e esse amor. Estou contente por estar aqui conversando com vocês.

* - Apesar de estar fazendo sucesso há tanto tempo, você está sempre se atualizando. Qual é o segredo de gravar todo ano sendo sempre atual e fazendo tanto sucesso?
"RC" – Não sei se existe segredo. Em primeiro lugar eu tenho que agradecer a Deus por tudo isso. Ele é que me dá toda essa graça. Mas a questão da atualização é uma questão de observar o que ocorre no dia-a-dia, o que está acontecendo na música, observar os novos artistas e os novos estilos que vão aparecendo, enfim, isso é muito importante. Eu gosto do que o povo gosta. Normalmente o que faz sucesso e o que o povo gosta eu também gosto, mas é um ato espontâneo. Então, isso é muito bom porque estou sempre ouvindo o que está tocando, observando, e vejo tudo como sugestão para futuros trabalhos.

* - Você tem ideia de quantos países tocam as suas músicas?
"RC" – Olha, em muitos, porque de modo geral os países onde me apresento são aqueles onde o disco está sendo bem vendido. Os empresários contratantes já sabem que somos bem aceitos. Então, todos os países onde tenho ido têm me tratado muito bem, com muito carinho. De um modo geral todos têm um carinho muito especial comigo e é difícil dizer qual o que mais me cativa.

* - Com toda a fama que você tem é difícil sair às ruas sem ser notado. Não dá vontade de passear por aí?
"RC" – Às vezes dá, por exemplo, quando passo de carro por algum lugar que tem uma mesa nas calçadas. Isso é uma coisa que me chama muita atenção. Dá muita vontade de parar o carro e sentar na mesa, pedir um refrigerante ou um sorvete, que eu gosto muito, e ficar ali curtindo a moda olhando as pessoas que passam. Isso me dá vontade, mas a gente é artista recebe todo esse carinho do público e por causa desse carinho e desse amor não temos essa liberdade. Reconheço que se não posso ter essa liberdade é porque essas pessoas que gostam de mim acabariam não me dando tranquilidade por estar ali. Lutei para chegar onde cheguei e agradeço a Deus por todo esse amor das pessoas.

* - Todo cantor quando lança um disco fica na expectativa de ouvir a músicas no rádio. Depois de vários discos e vários anos de carreira você ainda fica nessa expectativa?
"RC" – Fico, sim. É uma coisa muito boa ouvir o disco tocar no rádio. Quando toca é sempre uma grande emoção. Desde o primeiro disco que lancei eu sempre quis, e quero, ouvi-lo no rádio. Mesmo já tendo escutado várias vezes em casa e no estúdio, na hora da gravação, fica a curiosidade, porque é importante essa emoção. E não é só a primeira vez, não. Sempre que toca uma música minha eu paro para ouvir.

* - Quantos anos de carreira você tem?
"RC" – Eu me considero profissional de música desde que comecei a cantar na Boate Plaza, em Copacabana, no Rio, há 39 anos, e lancei meu primeiro disco, um 78 rotações. Portanto tenho 39 anos de carreira.

* - Tem ideia de quantas músicas já compôs em toda a sua carreira?
"RC" – Não sei, não, mas acho que mais de 500. Mas também são tantos anos de carreira... Realmente é muito tempo. Com certeza já são mais de 500 mas não sei exatamente quantas.

* - Da época da Jovem Guarda, qual a canção que mais te marcou e que você canta até hoje?
"RC" – Eu acho que “O calhambeque” marcou muito a minha carreira e foi uma música muito importante. Toda música, toda canção é importante na carreira da gente, mas “O calhambeque” teve uma importância muito grande na Jovem Guarda.

* - Até hoje qual a música que você mais cantou em seus shows?
"RC" – Com certeza foi “Detalhes”, que tenho colocada nos shows praticamente desde que a gravei, em 1971. Poucas vezes ela não esteve no roteiro e aí sempre o pessoal perguntava porque eu não havia cantado. Graças a Deus fui vendo que era uma música que o público sempre exigia que eu cantasse e por isso tenho sempre colocado no roteiro dos shows.

* - Quer dizer que “Detalhes” é praticamente obrigatória nos seus shows?
"RC" – É uma delas. Uma outra música também muito pedida é “Outra vez” e das músicas religiosas é “Nossa Senhora”, que também é a minha preferida, além de “Coração de Jesus” de que gosto muito também.

* - Todos sabem da sua religiosidade e que você já gravou muitas músicas com a fé como tema. Qual das suas mensagens religiosas mais te emociona e por que?
"RC" – Todas as músicas religiosas me tocam muito, muito mesmo. Principalmente de um tempo para cá fui ficando cada vez mais religioso e aumentando minha fé ainda mais. Então todas as músicas religiosas que gravei, desde “Jesus Cristo” até a mais recente, “Meu Menino Jesus”, me tocam muito.

* - Como você se sentiu cantando para o Papa na missa do Aterro do Flamengo, em outubro de 1997?
"RC" – Eu senti uma emoção difícil de explicar. Já havia ficado muito emocionado quando o Papa visitou Puebla, no México, em 1979, e as crianças cantaram “Amigo” para ele. Mas ainda pelo fato de o Papa haver cantado um pedacinho da canção. Agora no Rio, quando cantei para o Papa, vê-lo ali tão perto de mim, há pouco mais de dez metros, e depois ser abençoado pessoalmente por ele, foi emoção demais! Tudo isso foi um momento maravilhoso na minha vida. Aliás, é um momento maravilhoso na minha vida. A emoção eu nem sei explicar. Foi uma bênção, graças a Deus. Eu sempre agradeço a Deus esse momento maravilhoso que Ele me deu.

* - Como você vê o fenômeno do Padre Marcelo Rossi?
"RC" – O sucesso do Padre Marcelo Rossi é uma coisa maravilhosa, é um presente que Deus está nos dando. Eu acho que precisávamos, e precisamos de todo esse trabalho do Padre Marcelo Rossi, do Padre Jorjão, do Padre Zeca, do Padre Motinha, do Padre Antônio Maria, um trabalho de evangelização através da música. Enfim, acho que é uma coisa que veio como presente de Deus essa forma que nos leva tão naturalmente a Igreja, a Deus, através da música. São padres maravilhosos que estão fazendo esse trabalho e acho isso uma coisa linda. Nós estávamos precisando disso e graças a Deus estamos tendo essa bênção agora. Eu até queria sugerir que todos nós aproveitemos isso para uma reflexão, uma conscientização cada vez maior da importância da fé, da importância de Jesus, de Deus, de Nossa Senhora em nossas vidas, em todas as situações. Não só nas necessidades mas em todos os momentos temos que ter a consciência da importância da fé. Vamos aproveitar esse momento, prestigiar cada vez mais esse movimento e mantê-lo para sempre.

* - E sobre o Brasil, o que está faltando para termos um país melhor e mais justo?
"RC" – Falta uma preocupação maior com certas prioridades. É preciso haver uma preocupação com as necessidades dos pobres, com aquilo que precisa ser feito pelo pobre, porque o Brasil é um país com muita miséria. Essas pessoas têm necessidades que precisam ser atendidas e solucionadas com a ajuda de governantes, mas isso teria que ser uma prioridade. O setor da saúde, por exemplo, é muito importante, porque afeta muito o pobre, e é preciso que haja uma preocupação muito grande e um trabalho muito sério nesse setor.

* - Sabemos que você é muito generoso e que gosta muito de ajudar as pessoas que te procuram. Você tem alguma fundação ou mantém alguma instituição?
"RC" – Muitas vezes pensei em criar uma fundação ou alguma obra beneficente que eu tomasse conta. Mas cheguei à conclusão de que se fizesse isso eu me concentraria muito nessa fundação ou instituição e acabaria não ajudando tanto as outras. Isso não seria proposital mas é claro que quanto a gente faz uma coisa assim acaba se concentrando mais nela. Então, para mim, é melhor ajudar a instituição que me pede ajuda nos momentos de necessidade. Por isso não penso numa fundação. Mas sempre que uma instituição me pede para fazer um show beneficente eu faço. Graças a Deus já fiz muitos shows beneficentes e tenho podido ajudar um pouco. Meu propósito é dentro da possibilidade da minha agenda não deixar nenhuma instituição sem ajuda.

* - Já se tornou uma rotina suas músicas serem regravadas por outros artistas. Como você vê essas regravações?
"RC" – É uma satisfação muito grande depois de tantos anos de carreira ver que grupos e cantores, às vezes tão jovens, se interessarem pelas músicas que fiz com o Erasmo e também pelas que gravei de outros compositores. Então eu fico muito feliz com isso, muito agradecido a Deus, porque é uma coisa maravilhosa ver essas regravações. No caso dos Titãs, por exemplo, um grupo roqueiro por excelência e de quem sempre fui fã, vê-los gravar “É preciso saber viver” foi uma maravilha. Eu agradeço muito aos Titãs e aproveito para mandar um grande abraço a todos.

* - Você já homenageou as baixinhas, as gordinhas, as mulheres de óculos e as de 40. Falta mais alguém?
"RC" – Ah, muita gente, ainda tem muita mulher para homenagear... Esse negócio de fazer músicas homenageando alguém depende muito do momento, de alguma coisa que chame a atenção. Nenhuma música é feita com uma previsão. Mas voltando à sua pergunta, tem muita gente para ser homenageada: telefonistas, secretárias, as funcionárias que trabalham nas nossas casas, as professoras... enfim, muita gente.

* - E por falar em homenagem, há um vovô que merece a nossa homenagem! Como é o vovô Roberto Carlos?
"RC" – É muito legal olhar os filhos dos nossos filhos. É uma coisa muito gostosa, muito boa. E meus netinhos são maravilhosos. São a Giovanna e o João Paulo. São lindinhos! Minha netinha é uma graça e o João Paulo também é uma gracinha, muito esperto. Enfim, a gente fica meio coruja, sem saber o que fazer. Estou sempre querendo fazer um agrado!

* - Fale pra gente sobre o seu casamento com a Maria Rita. Como aconteceu?
"RC" – Aconteceu... aconteceu. Eu acho que a gente se olhou num determinado momento... Enfim, um dia liguei para ela e a convidei para ir ao meu show. Ela é uma pessoa muito especial e estou muito feliz ao lado dela, estamos contentes por estarmos casados. Eu não sei explicar, nessa hora fico sem as palavras para dizer aquilo que quero dizer, mas realmente nos amamos muito, e isso é uma coisa muito boa.

* - Que conselho você daria para quem ainda não encontrou um grande amor? O que tem que fazer? Tem que arriscar?
"RC" – Eu não diria arriscar, porque não considero isso um risco; muito pelo contrário. Eu acho que a pessoa que está em busca de um grande amor tem que amar em primeiro lugar. Observar as pessoas que estão à sua volta, porque às vezes a pessoa amada está ao seu redor e você não nota. Então, observando com mais atenção a gente vê que o grande amor de nossa vida pode estar ao lado da gente. Para se buscar o grande amor, em primeiro lugar tem que ser um bom observador e se entregar sem preconceitos, porque ao amor é uma troca, e quando a gente ama também provoca amor.

* - O Brasil inteiro está cantando as músicas do seu novo CD, que tem quatro músicas inéditas e regravações de alguns de seus sucessos. Fale um pouco desse disco.
"RC" – As inéditas são duas músicas minhas com o Erasmo, uma só minha e outra do Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle: “Meu Menino Jesus”, “O baile da fazenda”, “Eu te amo tanto” e “Vê se volta pra mim”.

* - E as regravações?
"RC" – Tem “Nossa canção”, do Luiz Ayrão, que já tinha sido sucesso na Jovem Guarda, com a inclusão da música “O diamante cor-de-rosa” fazendo um fundo para um texto que eu falo no show sobre a Jovem Guarda. “De tanto amor”, “Debaixo dos caracóis dos seus cabelos”, “Amada amante”, “Falando sério”, que é do Maurício Duboc e Carlos Colla, e “Outra vez”, da Isolda.

* - Tem alguma música preferida nesse disco?
"RC" – Eu sempre gosto muito das mensagens do disco, então “Meu Menino Jesus” é uma música especial para mim, porque sempre tive vontade de fazer uma música que se relacionasse com o Natal, que falasse do Menino Jesus, do nascimento de Cristo. Para mim foi gratificante, foi uma bênção ter feito essa música. Tem uma outra nesse disco que também é muito especial, que é “Eu te amo tanto”. Eu sempre dizia que gostaria de um dia fazer uma música muito apaixonada, bem mais apaixonada do que as outras que já tinha feito. Teria que ser uma música de amor que falasse de amor de uma forma diferente do que eu tinha falado antes e com muito mais intensidade. Enfim eu consegui fazer isso em “Eu te amo tanto”. É uma música que me emociona muito, uma canção que eu amo, e ninguém precisa perguntar para quem eu fiz que todos sabem que foi para a Maria Rita. A música me dá uma emoção muito grande e fico muito agradecido a Deus por tê-la feito. Eu acho que aqueles que amam muito vão gostar de ouvir essa canção.

* - Já que nesse novo CD você gravou um sambinha, “Vê se volta pra mim”, vamos falar um pouco sobre a música atual, os movimentos, como o dos pagodeiros.
"RC" – Eu acho que o trabalho desses grupos é muito bom, muito bem feito, e o pagode é um gênero musical muito rico, porque o ritmo tem uma cadência muito especial, sobretudo se pode fazer nesse estilo vários tipos de música. Os compositores podem fazer um pagode muito animado... enfim, é uma música muito rica que dá oportunidade ao compositor de variar muito dentro dela. Eu acho que essa é uma das razões de o pagode ter esse sucesso todo, e tenho certeza que o sucesso vai continuar, porque é uma música realmente muito boa, muito especial.

* - Na hora de escolher o repertório para o CD você pede ajuda a alguém?
"RC" – A escolha sempre acontece durante a gravação do disco, e acabo pedindo opinião às pessoas envolvidas no trabalho. Essa escolha já começa em casa, depois no estúdio com o produtor, com os técnicos, com os maestros. Eu vou ouvindo a opinião deles, o que dizem, o que acham, mas quando eu peço essas opiniões já está mais ou menos definido que a música vai entrar no disco. Às vezes eu fico em dúvida entre uma música e outra, e aí é que as opiniões são importantes. Mas eu sempre gosto de ouvir opiniões sobre os meus discos.

* - Roberto, hoje ficamos conhecendo um pouco mais você, o que pensa, o que sente, até mesmo ficamos sabendo um pouco sobre o mecanismo do seu trabalho. Querendo ainda um pouco mais, vou lhe pedir uma mensagem para o seu público.
"RC" – Que Deus dê sempre muita saúde, muita paz e muito amor a todos. Que Deus proteja e abençoe a todos. E que as pessoas se amem cada vez mais, e cada vez mais se conscientizem da importância de Deus, de Jesus e de Nossa Senhora em nossas vidas. Lembrem-se da importância de Jesus, que veio para nos salvar, que veio mostrar para nós o que ainda não era conhecido naquela época, que é esse amor todo que Ele nos dá. Isso tem que ser sempre pensado, mas pensado em todos os instantes, em todos os momentos. Isso é o que tenho a dizer. E quero agradecer a vocês por tudo que tenho recebido de vocês, por esse amor, por esse carinho, por essa atenção, enfim... Muito obrigado. Eu agradeço a Deus por tudo isso.

PÁGINA INICIAL VOLTAR ENTREVISTAS COMO É BOM SABER