THEREZINHA MONTE
entrevista concedida a Carlos Eduardo F.Bittencourt para o
Grupo Um Milhão de Amigos

12.01.1998




Há onze anos Roberto Carlos viveu uma das maiores emoções de sua vida.
Aclamado por uma verdadeira multidão de pessoas,
entre os que assistiam ao desfile das escolas-de-samba na Marquês de Sapucaí
e os que viam pela televisão, ele foi enredo da Unidos do Cabuçu.
A presidente da escola, Therezinha Monte, é a nossa entrevistada.

* Como surgiu a ideia de homenagear Roberto Carlos?
"TM" – A ideia foi de um segurança da Riotur, Jair, logo após o carnaval de 85. Eu já pensava em voltar a homenagear pessoas vivas e pensava em alguém bastante famoso. O Jair perguntou quem seria e sugeriu o Roberto Carlos. Eu disse: Jair, é pra já!

* Seu contato com ele foi imediato? Por que a homenagem só aconteceu em 87?
"TM" – A partir daquele momento procurei saber onde ele morava e como teria que fazer para chegar até ele. Alguém me disse o bairro detalhou o prédio. Fui com a cara e a coragem. O porteiro me disse que sua secretária se chamava Carminha, e aí eu deixei um bilhete para ele explicando que a escola era no Lins, porque eu sabia que o Roberto havia morado no bairro, e queria que ele fosse enredo em 86. Em menos de uma semana ele me ligou dizendo que achava impossível ser enredo em 86 já que tinha agendado vários shows no Exterior para o carnaval daquele ano. Mas também disse que ele havia ficado muito satisfeito com a homenagem e tinha perguntado as cores da escola. Ao saber que eram azul e branco havia ficado ainda mais interessado. Uns vinte dias depois Roberto ligou para a minha casa lamentando não haver conseguido desmarcar os compromissos de 86. Pediu que eu transferisse a homenagem para o desfile de 87.

* Como foram os preparativos para o carnaval de 87?
"TM" – Logo após o carnaval de 86 pedi ao nosso carnavalesco Ilvomar Magalhães que criasse o enredo. Começamos, então, a estudar a vida e a carreira de Roberto Carlos. Com o enredo pronto fomos até a sua casa. Foi o meu primeiro encontro com ele. Fomos muito bem recebidos, ficamos conversando até a madrugada e encantados com ele. É muito simpático, muito alegre, espirituoso. É um “cara dez”! Tomamos um vinho alemão e conversamos sobre o enredo e sobre música, pois o Ilvomar também é músico. Foi muito divertido e rimos muito porque Roberto Carlos sabe contar piadas muito bem.

* Você acreditava que encontraria essa facilidade toda para homenagear Roberto Carlos?
"TM" – Tudo que você faz com amor você já leva 80% de vantagem. A gente vai com tanta confiança que tudo começa a funcionar favoravelmente. Acho que foi por aí. Também encontramos uma receptividade muito grande nas pessoas que trabalham com ele, como a Carminha e a Neide.

* E as superstições? Muito se falou sobre as exigências dele. Isso é verdade?
"TM" – Ele nunca comentou que não quisesse determinadas coisas. Inclusive perguntei à Carminha sobre a história do marrom e se era verdade que ele não gostava de espelho quebrado. Ela disse que podíamos fazer o que quiséssemos. Roberto apenas deu a entender que não queria a ala “quero que vá tudo pro...” pois as fantasias eram muito estranhas, as pessoas tinham um tridente na mão. Mas fora isso ele não vetou nada.

* E o carro dele, como foi feito?
"TM" – Foi a parte mais difícil porque queríamos que Roberto Carlos fosse o destaque e não o carro. Tinha que ser um carro discreto, moderno, rico mas sem grandes efeitos. O carro só foi resolvido dois dias antes do desfile e assim mesmo porque tive uns cinco minutos para decidir. E resolvi que ele tinha que ser em acrílico fumê. Assim encerramos a conversa. E o Roberto adorou o carro!

* Roberto visitou o barracão muitas vezes?
"TM" – Não, mas houve vários rebates falsos. Um dia estava marcado a visita dele mas em cima da hora ele desmarcou porque tinha que jantar com o Antônio Ermírio, que havia vindo ao Rio para vê-lo no Canecão. Nos outros dias ele sempre tinha algum compromisso. Dois dias antes do desfile ele chegou de surpresa no barracão e adorou tudo. Parece que houve uma vez que ele chegou a ir ao barracão mas como haviam avisado à imprensa ele não parou. Um menino disse que viu o carro dele mas não sei se isso é verdade.

* Como foi a visita?
"TM" – Foi de surpresa e o barracão estava uma tremenda confusão, coisa normal a dois dias de um desfile. Ele apareceu com a família, com seu empresário, Robson, a Carminha e Mathias. Ele ficou na quadra de 20h30 até 5h00, e só foi embora porque algumas pessoas de sua família já estavam cansadas. Ele bem que queria ficar mais. Eu sei que a notícia de que ele estava na quadra se espalhou e aquilo encheu. Nunca vi uma multidão igual. E o Roberto, ali no meio daquela multidão, só pediu um whisky de uma determinada marca que encontramos na casa de uma vizinha da quadra. Eu não esperava que ele aparecesse naquele dia e estava num jantar em Jacarepaguá. Avisada por telefone, saí feito louca e nem podia acreditar no que via. Era uma multidão, não havia vaga para estacionar num raio de 2 km. A cena que vi jamais esquecerei; Roberto e Robson no meio daquela gente, brincando e pulando numa total alegria.

* Voltando ao enredo, como foi o desenvolvimento tocando quase 30 anos de carreira?
"TM" – Só deu para mostrar trinta por cento da carreira e da vida de Roberto Carlos. Eu brinco com o pessoal da escola que quando voltarmos para o grupo especial nosso primeiro desfile será com “Roberto Carlos Dois, o Resgate”, porque essa homenagem foi uma coisa que deu muita divulgação para a escola. Ficamos conhecidos como a escola do Roberto Carlos. A verdade é que foi um enredo fácil de entender pois ali estavam músicas do Roberto Carlos. Mas o grande motivo da aceitação popular foi a presença do Roberto ali, ao vivo. Foi emocionante.

* Como foram os contatos com Roberto Carlos naquele ano?
"TM" – Fazíamos questão de colocá-lo a par de tudo. Várias vezes fui ao Canecão e ficamos conversando até tarde no seu camarim. Eu levava o material para ele ver, para ele escolher o carro. Depois do desfile durante uma semana ele me mandou quatro mesas do Canecão para pessoas da comunidade. Todos lá têm verdadeira adoração por ele, por tudo que ele fez pela nossa escola e pelo reconhecimento que passamos a ter depois daquele desfile.

* Aquele foi o melhor carnaval da Cabuçu?
"TM" – Não resta dúvida, e posso dizer mais. Se a Cabuçu não fosse uma escola pequena, se tivesse o prestígio de uma Mangueira, Salgueiro, Portela e outras, teria sido a vencedora fácil do carnaval daquele ano. Mesmo assim ficamos na frente de muita escola grande.

* Como é o seu contato com Roberto hoje em dia?
"TM" – Às vezes a gente se esbarra por aí. Em outubro fui levar a ele um convite e quando cheguei na portaria do prédio ele estava saindo de carro. Peguei o meu e saí atrás dele. A princípio ele não me reconheceu porque eu estava de óculos e perguntou ao seu motorista quem era a maluca que o estava seguindo. Depois, me reconhecendo, fez a maior festa. Há alguns anos a escola mirim da Cabuçu o procurou para pedir ajuda para a festa das crianças e ele mandou doces e refrigerantes. Ele continua ligado à escola e por isso mesmo quando voltarmos ao grupo especial voltaremos a homenageá-lo, com o enredo “Roberto Carlos Dois, o Resgate”.

* Como foi seu encontro com Roberto Carlos no final do desfile?
"TM" – Foi uma emoção geral. Nossa preocupação era que a escola desfilasse sem se preocupar com a presença do Roberto. O desfile correu bem mas quando seu carro chegou à Apoteose ninguém conseguiu sair. Fui a primeira a subir e aí foi uma choradeira geral. A emoção do desfile já é forte, imagina ver aquele sonho realizado tendo ao lado um Roberto Carlos que é pura emoção. Foi demais! Só me lembro que ele falou que a emoção era indescritível mas que prometia uma música para descrever tudo aquilo.

* Há dúvidas sobre o nome do enredo do desfile.
"TM" – Isso foi uma coisa mudada pelo Roberto. Seria “No Reinado de Momo, que Rei sou eu?” e acabou sendo “Roberto Carlos no Reino da Fantasia”. Não adianta você colocar um nome enorme, porque as pessoas acabam conhecendo apenas como “Roberto Carlos”.

* Você já era fã do Roberto?
"TM" – Eu já gostava das suas músicas, mas confesso que durante a Jovem Guarda meu cantor preferido era o Jerry Adriani. Mas é claro que com o passar do tempo a gente vai se apaixonando por ele, pois Roberto canta o cotidiano, o que você tem vontade de cantar. Quem não gosta do Roberto, é porque tem inveja.

* Qual a sua música preferida do repertório do Roberto Carlos.
"TM" – “Cavalgada”, que foi muito bem citada no enredo. Mas também gosto muito de “Outra vez” e “Emoções”. E também tem uma música que acho uma gracinha, que é “Cama e mesa”.

* O que você colocaria hoje num outro enredo homenageando Roberto Carlos?
"TM" – Ah, muita coisa... É claro que hoje teríamos que citar esse lado religioso dele, que cada dia é mais forte. Acho mesmo que Roberto Carlos devia gravar um disco com a “Ave Maria”. Um disco religioso ia ser o maior sucesso!

* Como você define Roberto Carlos?
"TM" – Roberto Carlos é especial eleva muita coisa boa para as pessoas. Imagino só essa visita que ele fez recentemente ao Instituto Nacional do Câncer como deve ser feito bem àquelas pessoas. De repente, o Roberto nem sabe mas ele pode ter até ajudado na cura de algumas delas, pois quando você está bem, quando se sente feliz, tudo melhora dentro de você. Eu acho que o Roberto tem esse dom e de repente nem se toca. Ele e tão carismático, tão especial que tenho certeza de que ainda vai fazer muita coisa boa, ajudar a muita gente que precisa da sua força.

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